• search
  • Entrar — Criar Conta

Luís Carlos Guimarães vive

Expoente da geração pós-modernista, fez parte do grupo local que incluía Ney Leandro de Castro, Newton Navarro e Diógenes da Cunha Lima, um grupo restrito que não alcançou a esperada recepção para além dos limites geográficos de Natal.

*Maria Maria Gomes

O Seridó é uma região fértil em termos de arte. Há uma gama de artistas no anonimato! Alguns conseguem, a ferro e a fogo e com um apoio miúdo, publicar um livro, mesmo que seja apenas uma centena de folhetos de cordel. E há quem consiga lançar ao mundo a sua obra com apoio de instituições mais afortunadas e, mais, mesmo que não seja desta última forma ainda existe aquele (a) que guarda uma quantia poupada para uma eventual publicação, é o meu caso. O que vale mesmo é a chegada; o caminho é o processo. Por falar em publicação literária a honra é nossa em escrever sobre um dos expoentes da literatura potiguar, mais precisamente da veia poética que corre assim como o rio Seridó, morto pela estiagem e vivo na lembrança, a figura e a arte desse currais-novense de fibra: Luís Carlos Guimarães.

Seridoense da gema, o poeta fruto da terra, nasceu em Currais novos, em 23 de maio de 1934 e faleceu em 21 de maio de 2007. Seus pais também eram norte-rio-grandenses e, segundo o poeta em entrevista ao extinto jornal literário O Galo, edição de julho de 2001, seu primeiro contato com a palavra se deu em consequência de uma profunda relação atrativa pela prosa:

“Tive com meus pais uma relação do tipo normal para as famílias daquele tempo. Meu pai gostava muito de ler romances. Assim, minhas primeiras fontes de leitura começaram em casa. Mas devo ressaltar quanto devo a Ausônio Araújo, pai de dois padres seridoenses, Ausônio Araújo Filho e Ausônio Araújo Tércio, que possuía uma enorme biblioteca e que me deu a oportunidade de ler pela primeira vez o poeta Carlos Drummond de Andrade. Gostei pelo que havia de insólito e diferente, mas sem entender quase nada. ”

O primeiro livro de Luís Carlos Guimarães foi publicado na Coleção Jorge Fernandes, nos anos 60 quando o Governo do Estado, lançou de uma só vez Sanderson Negreiros, Myriam Coeli, Deífilo Gurgel e outros também potiguares.

Conhecedor das artimanhas da palavra, seu lirismo contagia àqueles que leem versos como estes, escritos no auge de sua relação adolescente com a poesia.

“Aqui jaz um menino azul/tragicamente desaparecido/ num desastre de velocípede”.

A obra de Luís Carlos Guimarães consta de oito livros impressos, além de contos e poemas não publicados: O Aprendiz e a Canção (1961); As Cores do Dia (1965); Ponto de Fuga (1979); O Sal da Palavra (1983); Pauta de Passarinho (1992); A Lua no Espelho (1993); O Fruto maduro (1996). E finalmente 113 traições Bem-intencionadas (1997).

A poética de Luís Carlos Guimarães ao mesmo tempo em que é erudita, é também popular. Sua originalidade aproxima o poema do leitor, causando o fenômeno da Pertinência Social.

Era um artesão da palavra, embora não fosse parnasiano. A maneira de lapidar seus poemas era envolta em doçura, exibindo o sentido oculto da expressão de maneira inteligente e elegante.

O que dizem dele?

“ Currais Novos deu poetas ao nosso país. Luís Carlos Guimarães é um poeta do Brasil. De Currais Novos, que abrigou Zila Mamede. Da cidade que teve a síntese de José Bezerra Gomes e a poesia ingênua de Mariano Coelho”.

(Diógenes da cunha Lima)

“ O apetite pela poesia, aliado a uma profunda intuição poética, marcou a vida desse poeta extraordinário que foi Luís Carlos Guimarães”.

(Nelson Patriota)

“… a intensidade que soube pôr nos poemas atestam o amadurecimento do discurso poético de Luís Carlos Guimarães, autor currais-novense que se integra na melhor poesia brasileira dos últimos tempos”.

(Gilberto Mendonça Teles)

Nei Leandro de Castro, amigo do poeta, lhe rendeu homenagem escrevendo: Elegia para o poeta.

“(…)
A elegia não refaz a amizade, não responderá semanalmente as minhas cartas. Não atende telefone.
Uma elegia, meu caro amigo, Luís Carlos Guimarães, é uma forma de dor que não quero mais para mim. Melhor é me ferir no gume dos teus versos”.

Daqui, depois de viajar por essas vertentes literárias nas quais poetas e prosadores expuseram comentários acerca do homenageado, deixo um fragmento da poesia deste ícone da nossa literatura para a contemplação de todos nós.

Ode a uma lua vagabunda

Eras uma lua cheia de desgraça
que navegava sem rumo,
vagando perdida pelas trevas
e pelos abismos da noite.
Lua, mulher de luto,
mãe dos homens infelizes,
ainda esperas o filho que te impuseram
como uma barca carregada de
peixes dourados?
Eras uma lua de minhas esperanças de menino
que agora está morta no naufrágio dos sonhos.
…………………………………………………………………………………………………………………………………
Luís Carlos Guimarães
Fonte: Jornal O Galo, julho de 2001