*Alexsandro Alves
Dizer coisas sérias sorrindo.
Oswald de Andrade é o maior intelectual do Brasil. Nem mesmo Gilberto Freyre, nem mesmo Sérgio Buarque de Hollanda, nem mesmo Marilena Chauí o superam. Oswald é mais brasileiro no que o brasileiro tem de mais brasileiro!
Brasileia desvairada! Também Mário contribuiu muito para o nosso desenvolvimento intelectual universitário: arlequinalhas!
Essa semana, um ex metalúrgico criticou a Revolução Industrial, após viajar em um avião, enquanto discursava para uma turma de jovens endinheirados em um show de rock na Europa. Isso é brasileiro demais. Oswaldianista.
O presidente Lula, hoje, consegue injetar em seus discursos muito humor. Mas não é aquele humor despretensioso dos primeiros mandatos. É um humor que não quer ser humor. É porque os estrangeiros não sabem, tem que ser brasileiro para rir. Me lembrou a dança da deputada petista Ângela Guadagnin no Câmara Federal quando seu colega de partido, o deputado João Magno, foi absolvido dos crimes no mensalão. Nossos políticos vivem em um mundo que apenas Buñuel conseguiria explicar.
Um metalúrgico aposentado, que vive em viagens aéreas juntamente com uma primeira-dama que tem Delirium Tremens só de pensar nas grandes grifes do capitalismo – a alguns meses atrás as compras para o Palácio da Alvorada escancaram a sua dependência esbanjadora, falando contra a indústria? E em um show de rock para jovens endinheirados?
De onde será que vem toda aquela tecnologia?
Para completar o périplo nessa terra em transe que é a cabeça do presidente, Lula ainda falou de uma dívida histórica da Europa com o mundo.
Aí nós chegamos em um outro nível: multiverso da loucura. Segundo Lula, os países pais da Revolução Industrial devem ao mundo por conta da destruição ambiental. Certo, Lula. Vamos lá. Então devolvamos à Europa todo o CONHECIMENTO ORIGINÁRIO deles. A mecânica newtoniana. A relatividade. As conquistas da medicina. Pronto. Vamos viver como em 1500, antes de nossos pais portugueses! Quem aceita?
Quem aceita viver na Idade da Pedra Lascada. É duro, não é?
É mole! A turma que o aplaudiu, tanto a de lá quanto a daqui, não vive sem celular. Conhecimento europeu. Não vive sem internet. Revoluções industriais.
E, claro! O presidente não perdeu a chance de criticar o agronegócio brasileiro, responsável pelos aumentos de nosso PIB. O Brasil alimenta o mundo. Como? Na certa essa turma pensa que é vivendo em paz e em harmonia com o vegetal.
Sessão desmistificação: POR FAVOR, NÃO CONTINUE, CASO VOCÊ SEJA CHEGADO A MITOS.
Como falei em alimentação e agronegócio em um só parágrafo, na cabeça de alguns foram acionados certos gatilhos: “mas o MST produz as maiores safras de arroz!”.
Mito.
O arroz que o MST produz é o arroz orgânico. É nesse segmento que o grupo lidera na América Latina. Um arroz de nicho. Caro. Para poucos. E sendo assim, mesmo que lidere, a produção, em relação ao arroz comum, é insignificante. Talvez não alimentasse o Nordeste por um ano.
O arroz que comemos no dia a dia, eu, você e mais de 99% dos brasileiros é o arroz comum, do agronegócio.
É triste? Mas é a verdade. Na minha, na sua, na nossa mesa há agronegócio.
As falas de Lula foram como palavras em uma canção de rock: serviram como válvula de escape para coisas reprimidas. Foi aplaudido por uma miríade de jovens brancos e ricos, que voltaram para casa consumindo muito petróleo, muito dinheiro e muito trabalho dos pais.
Por favor, antes de dormir poste sua hashtag contra o capitalismo.