*Nadja Lira
O filósofo Platão valeu-se de O Mito da Caverna para explicar a importância da luz do conhecimento na vida do ser humano. Para isto fez uso de uma alegoria, que está inserida na obra A República – Livro VII. O texto mostra como o homem pode se livrar da escuridão da ignorância que o aprisiona e seguir em direção à luz libertadora da verdade e da sabedoria. Ele, então, nos leva a imaginar um muro alto separando o mundo exterior e uma caverna em cujo interior vivem seres acorrentados desde o seu nascimento.
Os habitantes da caverna ficam de costas para a entrada sendo forçadas a olhar somente em direção à parede existentes no fundo da caverna, onde são projetadas as sombras de outros homens que vivem foram do muro e que mantêm uma fogueira acesa. Os habitantes da caverna acreditam que as sombras e os sons que ouvem, são produzidos pelos deuses.
Um daqueles homens revoltados com a situação decide lutar e fugir daquela condição. Com grande dificuldade, ele consegue quebrar os grilhões que o prende, escala o muro e chega ao mundo exterior. Uma vez fora, ele descobre que as sombras eram formadas não apenas por seres humanos iguais a ele, mas por tudo aquilo que compõe o mundo e a natureza.
Platão valeu-se de uma metáfora para mostrar que o homem é capaz de fugir das amarras que o prendem à falsas crenças e aos preconceitos. Inconformado com a escuridão da ignorância a qual esteve submetido durante toda a sua existência, o homem partiu em busca da luz, da sabedoria, da verdade absoluta, que só é possível vislumbrar saindo do mundo das sombras.
Através da Alegoria da Caverna, Platão nos convida a pensar na existência humana, comparando a situação vivida na caverna, onde ilusoriamente os homens vivem acorrentados à falsas crenças, preconceitos e ideias enganosas.
Depois de inebriar-se com a luz do conhecimento, o homem retorna à caverna e tenta libertar seus companheiros, mas eles não acreditam nas suas palavras e acabam por acusa-lo a mentir, enganar, iludir e ainda tentar tumultuar a ordem vigente dentro do mundo confortável ao qual estão habituados.
O homem, porém, depois de conhecer a luz do conhecimento, está certo de que a verdade está fora da caverna. A verdade, para ele, se encontra no mundo das ideias, na luz. Ou seja: é preciso desconfiar daquilo que nossos olhos e nossos ouvidos nos dizem. Afinal, nossos sentidos nos enganam.
A verdade é que, para aquele que viu a verdadeira luz com os olhos da alma e que agora sabe que lá fora existe muito mais do que o nosso corpo conhece, não há nada mais insuportável do que voltar a conviver como se tudo o que existisse de mais valoroso fosse essa realidade mutável.
Platão ainda fala, em sua Alegoria da Caverna, sobre o mundo espiritual – de cuja percepção errônea construía homens deuses, quando na verdade era composto por homens comuns, apenas transitando numa dimensão distinta da qual teriam contato apenas com a sombra das pessoas, projetadas no fundo da caverna.
Para Marilena Chauí, o Mito Platônico retrata o mundo atual, feito de aparências, no qual vivemos conformados com base em nossas crenças e nossos preconceitos. É preciso sair da caverna, conhecer a verdade, saber a realidade das coisas conforme aconteceu com o fugitivo da caverna.
No mundo atual, os homens tendem a viver na companhia dos semelhantes: daqueles que comungam de suas ideias e dos mesmos pontos de vista. Ao mesmo tempo, procuram se distanciar daqueles cujos pensamentos são divergentes.
Portanto, é urgente que as pessoas acordem para luz da sabedoria e busquem a verdade absoluta, mesmo que esta, a princípio, machuque os olhos. “Conhecereis a verdade vos libertará” (João 8:32).