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Maleiro deixa marca na história

Colaborador de Navegos conquista e encanta leitores resgatando a crônica de personagens humildes que marcaram a história de município baiano.

*Reynivaldo Brito

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Os que conheceram o José Francisco Costa, o Zé   da   Julia, em plena forma estão beirando setenta   anos.   Ele era o fabricante das malas de couro cru   de cor   amarelada encomendadas pelos pais dos   que iam   estudar em Salvador, dos que viajavam   para São   Paulo em busca de melhores   oportunidades das “meninas perdidas” quando   engravidavam e os pais   expulsavam de casa ou   despachavam para São Paulo   para casa de parentes, e depois para os candangos.   Foram os candangos, àqueles nordestinos e caipiras   de outros estados com sua   mão de obra barata que   construíram Brasília, este ninho de rato que hoje   abriga os que sugam o nosso dinheiro, os valores ocidentais e a consciência dos brasileiros. A primeira oficina funcionou na Rua Oswaldo Brito, (Rua do Cemitério), número 40.

Antes ganhou a vida como tropeiro, amansador de burro bravo e vaqueiro. Tinha uma barriga proeminente, era bom piadista e um amante do cinema, a ponto de ter uma cadeira cativa nos cinemas de Joãozito (João Jacobina Brito) e depois no Cine Rex, de Pedrito, João Messias e de   João Leão, que trouxe equipamentos novos e a concepção de uma sala de cinema moderna. Sempre era o primeiro a chegar para a sessão do cinema ao lado da sua esposa. Não importava qual fosse o filme lá estavam o Zé da Julia e d. Carminha. Um fato curioso é que já naquele tempo ocorriam roubos na Cidade, e certo dia sua oficina foi quase totalmente saqueada por um ladrão. Esta é parte da história de um homem natural de Ribeira do Amparo, nascido na Boa Hora, que estava caindo no esquecimento. Tinha uma pequena indústria de fabricação de malas e outros artefatos de couro, e chegou a ter uma produção considerada de médio porte para a época e produzia mensalmente mais de 1.000 malas por mês. Ele recebia com regularidade encomendas de Brasília e de várias outras cidades da região. Chegou a ser reconhecido na época como um pequeno industrial e lhe enviavam uma publicação chamada Boletim Industrial que lia e guardava com cuidado.

O depoimento de seu filho José Wilson Oliveira Costa relembra que Zé da Julia começou a vida como tropeiro levando daqui cereais como feijão, milho, farinha, e também açúcar e rapadura. Até o início do século XX Ribeira do Pombal e região tinham vários engenhos que produziam regularmente açúcar e rapaduras e com a chegada da industrialização foram perdendo seu espaço. Agora praticamente não existem. Só restam as grandes engrenagens enferrujadas abandonadas. As rapaduras que hoje são vendidas nas sextas-feiras vêm de Sergipe, Pernambuco e Alagoas. Alguma coisa ainda de Ribeira do Amparo.

Na sua saga de tropeiro e desbravador Zé da Julia e seus colegas saíam de Ribeira do Pombal e de outras cidades vizinhas até Salvador para entregar as mercadorias produzidos aqui aos comerciantes do Mercado das Sete Portas na Capital baiana. Gastavam 15 dias viajando de Ribeira do Pombal para Salvador e 15 para voltar.  Contava o Zé da Julia que durante as longas viagens com suas doze mulas – os tropeiros chamavam os burros de mulas – independentemente de ser macho ou fêmea – transportavam mercadorias, sofriam tentativa de assalto, enfrentavam chuva e muito sol durante o trajeto, o que causava muito sofrimento. Durante as viagens ocorriam com certa frequência tentativas de assalto. Ele se juntava com outros tropeiros e de quando em vez quando pegavam o ladrão davam uma “coça” para aprender a não pegar no que é dos outros. No trajeto os tropeiros já tinham os lugares onde costumavam passar a noite com suas mulas. Tinham que retirar todas as mercadorias e soltá-las para comer e descansar durante a noite para na madrugada já ganhar a estrada. Muitas vezes chovia ou mesmo ocorria outra intercorrência qualquer e tinham que pedir rancho num local desconhecido. O trabalho do tropeiro era feito no trato, na palavra. Quando o comerciante dizia que a mercadoria teria que estar no dia tal então o tropeiro tinha que fazer de tudo para cumprir o prazo para ganhar confiança e evitar problemas.

Normalmente viajavam com alguns colegas e na volta já traziam de Salvador jabá, (carne do sertão), do ocorreu a separação com d. Maria Oliveira ele sai da Boa Hora e veio morar em Ribeira do Pombal.bacalhau português daqueles bem grossos e outras mercadorias para os varejistas locais. Foi depois ser vaqueiro e tinha fama de montar em qualquer burro bravo. Os que não têm contato com a zona rural não avaliam a dificuldade que é montar num burro bravo. Este animal não tem nada de burro. Tem uma capacidade de aprender coisas que a gente duvida. Um burro não pisa numa cobra, num buraco qualquer. Ele empaca e levanta as orelhas quando pressente alguma coisa fora do normal. Viaja de noite sem Lua e sem dificuldade. É um animal muito astuto, e Zé da Julia os amansava. Tinha um método especial de amansar burros.

Lembro que meu pai tinha um burro na Fazenda Salgadinho e os trabalhadores carregavam duas cangas de cana ou capim, uma de cada lado. Lá do local onde estava sendo cortada a cana ou o capim soltavam o burro e ele ia sozinho até o curral. Depois que era retirada a carga voltava para apanhar outra. Os trabalhadores o chamavam de Burro Velho.

O Zé da Julia morava na Boa Hora, onde nasceu e na casa de seus pais onde tinha uma frondosa mangueira com dois grossos galhos em forma de forquilha. Ali ele passava uma corda feita de caroá ou sisal e ia puxando e soltando até o animal cansar. Passava alguns dias nesta labuta como estivesse serrando a mangueira até chegar a hora de passar a perna e montar. Era o momento dos pulos, coices, peidos, das corridas desenfreadas e assim até o animal ficar dócil. Um burro manso tem seu valor. O seu filho José Wilson lembra que sua avó já tinha falecido e que “ele me levou e mostrou a mangueira que tinha um tronco tão grosso que precisava de dois homens para abraçá-la. A fenda entre os dois galhos onde meu pai passava a corda para amansar os burros já estava quase fechando, porque a mangueira engrossou mais ainda o tronco”

Zé da Julia casou com d. Maria Oliveira, na Boa Hora, e José Wilson, disse que foi conhecer a primeira esposa de seu pai quando ela já morava em Dias d’Ávila. “Era uma pessoa muito agradável, gostava de mim e dizia que eu parecia muito com ele. Tiveram cinco filhos Pedro Fonseca, (o Pedrito) José Fonseca, Vandete, Maria José e Maria Helena. Foi depois da separação que veio para Ribeira do Pombal e começou a fabricação das malas de couro cru.”

Um dia ele foi para Tobias Barreto, em Sergipe, e observou um homem fabricando uma mala de couro cru. Ficou muito impressionado com a habilidade do sergipano que pensou e decidiu: “vou tentar fabricar uma mala também. Se este homem pode, eu também posso”, revelou   ao filho José Wils. Foi numa loja comprou as ferramentas e voltou para a Boa Hora. Ficou tentando até fazer a mala. “Vou me aperfeiçoar e vou viver de fazer malas”, disse Zé da Julia. Neste período ocorreu a separação com d. Maria Oliveira ele sai da Boa Hora e veio morar em Ribeira do Pombal.

E à medida que os filhos foram crescendo, como se fazia antigamente, eram convocados para ajudar os pais. Inicialmente trabalham nas tarefas mais fáceis e à medida que iam mostrando suas habilidades passavam a executar tarefas mais difíceis. Foi assim que José Wilson começou brocheando, que é o trabalho de colocar umas brochas de metais com cabeças douradas que têm a função de enfeitar a mala. Depois passou a desenhar os papéis que eram utilizados para forrar as malas por dentro. Esses desenhos eram feitos com uma tinta especial que era dissolvida em soda cáustica. O pincel era feito daquelas penas que usavam para escrever com tinta de tinteiro. Prendia um pedacinho de algodão enrolado na ponta da pena de ferro para segurar a tinta. Então desenhavam figurinhas de animais ou de flores. Ficava semelhante ao que conhecemos hoje como papel de presente, depois se colava o forro. Até a cola era feita artesanalmente, porque não existia a cascolar, era feita com tapioca.

Disse José Wilson que “trabalharam com ele vários jovens lembrou do Zinho de Cota, que deu para o caminho errado. Era muito conhecido em Ribeira do Pombal. Trabalharam também o José Rodrigues Pereira (Zé de Ana) e o sergipano o Zé da Poça, Raimundo Caninane, que depois foi ser tratorista da Prefeitura, Zé Preto e Pedro Fonseca (Pedrito) , meus irmãos, o Tinho já pegou o finalzinho dessa produção. Foram aparecendo as malas de fibras e a produção foi diminuindo até acabar.”

Neste intervalo quando acabou o fabrico das malas d. Carminha montou uma barraca na feira de Ribeira do Pombal e depois passou a vender confecções em todas as feiras da região para ajudar no sustento da casa. Assim de segunda a domingo estava cada dia numa cidade diferente comercializando. Ficou neste ofício até a morte de meu pai.

Foi aí que Zé da Julia partiu para fabricar cinturões, arreios para cavalos, bainhas de facão e de facas, alpercatas e outros utensílios de couro. Continuou fabricando malas por encomenda, e até umas pequenas maletas de 30 cm que eram usadas por comerciantes para guardar dinheiro e documentos, e as senhoras guardavam suas jóias e dinheiro. A maleta era bem enfeitada e tinha uma produção especial que agradava aos clientes.

O auge do recomeço aconteceu quando Zé da Julia pegou uma boa encomenda para fazer cinturões que tinham quase 20 cm de largura e umas fivelas grandes de bronze muito bonitas. Fazia ainda nos cinturões umas tranças utilizando couro de veado que é muito macio. Nessas tranças ele usava tiras bem fininhas de couro de veado e assim personalizava os seus cinturões. E no couro ele fazia uns desenhos e “a peça ficava muito bonita. O pessoal da roça costumava encomendar sandálias, bainhas de facão e de faca, arreios de animais”, disse José Wilson.

Quando alguém perguntava para que servia àqueles cinturões largos ele respondia que ajudava para pegar peso. Vocês já devem ter visto que hoje onde tem carregador nas lojas pegando peso como nas casas de materiais de construção os comerciantes são obrigados a fornecer um cinturão largo para proteger o funcionário. Conta José Wilson como “ele era muito barrigudo, murchava a barriga e apertava o cinturão, e assim dizia que ficava mais forte e podia pegar mais peso.”

José Wilson lembra que seu pai era um homem muito alegre e tranquilo. Ele não se zangava com facilidade, mas quando alguém pisava no calo dele virava um bicho. Contador de piadas de salão, sem maldade e não costumava repetir piada. Ele tinha uma amizade grande com o juiz Juarez Santana e coincidiu algumas vezes que o juiz ia cortar o cabelo ou fazer a barba na barbearia de seu Paulino, que também era muito amigo do Zé da Julia. Ai o juiz sabedor que ele era contador de piadas pedia para contar uma e não mais parava O barbeiro seu Paulino ficava furioso porque tinha que parar seu serviço enquanto eram contadas as piadas e Juarez Santana se acabava de rir, se balançando na cadeira. “Era uma risada quase muda. Quando ele parava de rir pedia para meu pai contar outra. Foi assim até o dia que seu Paulino procurou meu pai que tinha sua oficina perto da barbearia e foi logo dizendo. Seu peste véio quando eu tiver cortando o cabelo do dr. Juarez desapareça daqui. Não me apareça aqui na minha barbearia. O tempo que gasto para cortar o cabelo do juiz eu cortava uns três ou quatro cabelos”, conta José Wilson às gargalhadas.

Quando uma criança lhe perguntava: seu Zé porque o senhor tem a barriga tão grande assim? Para evitar a perturbação das crianças ele quase sempre respondia pegando no barrigão: “Deste lado tem a cabeça de um menino que engoli, deste outro mais uma cabeça de menino. Eram meninos desobedientes, ousados que não obedeciam aos pais e os mais velhos. Eu engulo tudo logo pequeno para não crescer.” Com medo, os meninos desapareciam da porta da oficina.

Se um cachorro ficava ali perturbando Zé da Julia começava a imitar os latidos do cachorro e depois se jogava no chão e continuava imitando os latidos e fazendo um barulho danado. Os cachorros saiam desesperados e nunca mais apareciam.  Tinha uma velhinha chamada Zefa Buião, que ficava sentada na calçada da igreja matriz de Santa Tereza. Quando Zé da Julia passava para comprar alguma coisa nas lojas de Sevary do Amaral Borges (Sevary) ou de seu Pedro Almeida Bastos (Pedrão) assim que ela avistava o Zé da Julia corria com medo dele.

“Quando veio para Ribeira do Pombal já existia o cinema de Joazito  (João Jacobina de Brito) , que
ficava  vizinho a casa  de Britinho, na Rua da  Santa Cruz, hoje Avenida Evência Brito. Certo dia ele convidou minha mãe para assistir um filme. Quando começou a passar o filme e chegou um momento que tinha uma cena de um trem vindo em alta velocidade dando a impressão que iria invadir o cinema. Foi aí que ele se abaixou pensando que o trem ia mesmo passar por ali. Quando viram ele se abaixando os outros espectadores se   acabaram de rir e meu pai ficou desapontado. Quando alguém lembrava este fato ele não gostava”, contou José Wilson.

Mas, a partir daquele dia se transformou num frequentador assíduo do cinema e era o primeiro a chegar e sempre ao lado da esposa d. Carminha. O cinema não tinha ar condicionado. Ele sentia muito calor por ser corpulento e barrigudo, e por isto sempre procurava ficar numa determinada cadeira mais próxima da porta que ventilava melhor. Já no Cine Rex era dos irmãos Pedrito, Messias e do paulista João Leão. Existiam apenas dois ventiladores grandes de pé, então tinha uma porta lateral do lado esquerdo que só era aberta para o pessoal sair. Outra porta do lado direito ventilava bem por ali. E esta vaga era disputada por três pessoas. Zé da Julia, o juiz Juarez Santana e João Gualberto dos Santos (Barrinha), era bem gordo e filho do seu Adão. Por isto ele ia cedo para garantir a vaga, e o Barrinha descobriu e passou a chegar mais cedo. Quando o juiz Juarez ocupava a cadeira, e Zé da Julia chegava o juiz fazia questão de passar para outra cadeira e ai ficava aquele impasse.

Tinha fama também de soltar muitos gases que incomodavam as pessoas que estavam na sala de projeção. Ele contava que um dia, no cinema de Joãozito, durante a projeção do filme de Teixeirinha surgiu um mau cheiro insuportável que foram obrigados a suspender a projeção e foram procurar para ver se tinha algum rato morto dentro do salão. Tinha sido o Zé da Julia que após comer uns ovos cozidos e misturados com feijão soltou aqueles gases fedorentos.

“A Rua Coronel José Ramiro foi o segundo da sua oficina. Dali ele observava tudo que passava na frente para comprar. Aparecia gente vendendo frutas em galeotas, que na época eram feitas de madeira, hoje substituídas pelos carrinhos de mão de metal; mulheres vendendo frutas como mangas, bananas, cajus com suas bacias na cabeça; comprava o famoso quebra-queixo de Décio que passava com seu realejo. Quando almoçava, deitava uma hora mais ou menos e quando acordava fazia uma farofinha de carne e ia trabalhar. Gostava muito de comer.”

Quando era jovem caçou muito, mas com o passar dos anos trocou pela pesca. Caçou peba verdadeiro, tatus, teiús, cotias e outros bichos. Certa vez encontrou no mato um teiú engasgado com um sapo. Ele ficou observando aquela cena e notou que o sapo era grande demais para o teiú engolir, e assim ficou com as pernas de fora. Depois disto nunca mais conseguiu comer teiú. Gostava muito de pegar traíras e caboges nos tanques. Quando tinha notícia que um tanque ou açude em tal lugar tem peixes, lá ia o Zé da Julia em busca das iguarias. Não comia com azeite de dendê. Usava tempero verde e óleo de côco. Dizia que o dendê não era para comer, e sim para passar no couro que fazia com que o couro das malas ficasse mais macio. Também, não comia óleo de salada industrial de jeito nenhum. Usava o toucinho para fazer a banha de porco. As pescarias eram durante a noite e sempre estava acompanhado da d. Carminha.

Chegou com a ideia concebida de viver de fazer malas. O couro para a confecção das malas ele foi

buscar na região de Tucano. Era basicamente couro cru curtido de boi, e na época a feira de Tucano era famosa por vender couros de boi, carneiro, cabra e de animais silvestres a exemplo de pacas, veados, jiboia, gato do mato, dentre outros. O couro que utilizava normalmente era de boi. Ele trazia esta matéria prima de Tucano até Ribeira do Pombal viajando na carroceria dos caminhões que transportavam os feirantes. A estrada era de barro, cheia de camaleões de areia e buracos, porque a manutenção era muito precária.

O auge de sua fabricação foi nos meados dos anos 50 a 60, chegou a empregar mais de dez pessoas, além de contar com a ajuda d. Carminha e de seus filhos que trabalhavam na fabricação das malas de couro. Comercializava as malas para toda a região, outros estados e até para Brasília. Chegou a fabricar por mês mais de 1.000 malas de couro cru. Essas malas eram transportadas por caminhão. Os seus maiores compradores eram um sergipano Zinho e o Maneca (os nomes completos se perderam com o tempo.)Lembra que eles vinham com caminhões e traziam muitas esteiras e cordas novas de ouricurizeiros e sisal.

As malas eram acondicionadas uma dentro da outra para diminuir o volume da carga. Assim colocava uma de 50 cm dentro de uma de 60 cm, essa de 60 cm dentro da de 70 cm, e essa em uma de 80 cm. Portanto, eram quatro por uma. Aí forravam as malas de couro com as esteiras, passavam a corda e depois a lona como proteção.

O Zé da Julia nasceu na Boa Hora, em 1915, e seu filho José Wilson diz “não lembrar do dia e o mês. Era filho de d. Julia, minha   avó. O pai dele morreu quando tinha quatro anos de idade. Era o que me falava. Teve dois irmãos que eram mudos, que os chamavam de o Mudo e a Muda, nem falavam e nem ouviam. É o que sei”.

“Foi em Ribeira do Pombal que ele conheceu d. Maria do Carmo, nascida em 8 de setembro de 1931, filha de d. Loura, da Mirandela. Minha avó parecia uma indiazinha, e criaram juntos seis filhos. Três que ele teve com ela e mais três de um casamento anterior dela. Os do csal são José Wilson Oliveira Costa, Dinalvo e Edmilson (Bita), e os delas, Joselito Oliveira (Nego Tinho), José Carlos Oliveira (Zé Preto), que foram jogadores da Seleção de Futebol de Ribeira do Pombal, e Maria Eunice Oliveira (Ninha) que era professora e hoje está aposentada.

Ele teve em média mais de 10 a 12 funcionários trabalhando em tempo integral na confecção das malas. Não gostava de frequentar bares. Quando filho dele mais velho o   Pedro Fonseca (Pedrito) que foi para São Paulo e vinha nos   visitar ele acompanhava até o bar e tomava uma cerveja ou outra   e algumas doses do conhaque Quixá, que existia na época ou o   de Drurys. Fumava charuto. Certo dia, ao fumar um charuto, sentiu um gosto diferente e quando abriu o charuto encontrou um ingongo dentro. Deste dia em diante deixou de fumar.

“Também não gostava de homem do cabelo grande. Meu irmão o   José Fonseca, era bonitão e tinha um cabelo grande. Um dia ele veio pedir dinheiro para cortar o cabelo. Quando voltou o cabelo   estava do mesmo tamanho. Meu irmão tinha usado o dinheiro   para curtir. Dias depois ele tornou a pedir dinheiro para cortar o   cablo. Ai meu pai ele disse, “espere aí.” Foi lá dentro mudou   de roupa e levou meu irmão até a barbearia de seu Paulino e   ordenou que cortasse bem baixinho. Meu irmão ficou tão   desapontado que passou a usar por um tempo uma espécie de   touca. Este irmão ainda é vivo, mora em Dias D’Ávila, tem uns cinco anos que não tenho contato com ele”, diz José Wilson.

Já José Florêncio Rocha, 64 anos, pedagogo, lembra que Zé da Julia era a primeira pessoa a chegar no Cine Rex. Ficava ali sentado com a esposa esperando o filme começar. Quando ele não aparecia a gente já sabia que estava doente ou alguma coisa tinha acontecido. Os filhos dele sempre foram meus amigos, tem muitos anos que não tenho notícia deles. Era conhecido como o homem do couro ele fazia de tudo que se possa imaginar de couro. Todo grandão, mas era gente boa. Gostava de contar piadas bem elaboradas, não sei de onde ele tirava essas piadas”.

A filha da primeira esposa de Zé da Julia contou que sua mãe tinha três filhos eu, Maria Eunice Oliveira ( Ninha),70 anos,  Joselito Oliveira (Tinho)José Carlos Oliveira ( Zé Preto). Ele já tinha dois filhos do primeiro casamento que eram Pedro Fonseca (Pedrito) e Zé Maria. Em seguida na união com d. Carminha surgiram mais três filhos:José Wilson Oliveira Costa, Edmilson Oliveira Costa (Bita) e Edinalvo Oliveira Costa (Edi). Viveram muito bem. Quando ele dizia “hoje é dia de a gente pescar.” Ele e d. Carminha saiam de noite e voltavam pouco mais da meia noite. Às vezes trazia muito peixe e a gente colocava num tonel e ia tratando. Só dormíamos depois de tratar todos os peixes.”

“Onde Zé da Julia estava ninguém ficava triste. Era só alegria. Ele brincava com a pessoa, contava uma piada. ´Às 17 horas parava o serviço e se aprontava todo. Antes de ir ao cinema passava na casa de d. Angelina de Souza soltava algumas padas. Ele ia quase todos os dias ao cinema. Foi um pai maravilhoso para nós três. Quando acontecia faltar as coisas lá em casa, eu já casada, ele metia a mão no bolso tirava o dinheiro e dizia vá fazer sua feira. Foi um pai maravilhoso, foi quem nos criou. “Todos ajudavam na fabricação das malas, dos cinturões e de outros utensílios que ele fabricava. Conta Ninha que “ele cortava e furava as bainhas de facão e eu e minha mãe fazíamos as costuras. Nas malas a gente fazia os desenhos. Todos os filhos ajudavam. Fomos vivendo assim até o dia que ele teve um derrame, e ainda viveu bastante, e a gente continuou trabalhando.”  Ela não quis ser fotografada.

O José Rodrigues Pereira, hoje proprietário do Bar do Chapa, disse que trabalhou com Zé da Julia durante 4 anos. Faziam malas ele o Zé Preto e as malas iam para Brasília. Só eu fazia umas 30 malas por semana. Ele mandava umas 1.000 por mês para Brasília. Era engraçado, não perdia um dia de cinema, e ninguém sentava na cadeira. Antes de ir ao cinema ele dizia “Carminha apronte ai. Também gostava de comer muito.”

NR -Quero agradecer ao Hamilton Rodrigues este incansável parceiro e também ao José Wilson, filho de Zé da Julia, que deu um depoimento que foi fundamental para a montagem deste texto