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Maré sinfônica

Colaborador de Navegos, subsidiado por uma vasta erudição estética, transporta o leitor ao embalo de grandiosa uma maré sinfônica que acalentará os amantes da música cult.

*Francisco Alexsandro Soares Alves

Sempre me perguntam, quando sabem que sou amante da música erudita, que compositores são os meus preferidos e quais as obras. É uma pergunta abrangente por vários motivos. São muitos os compositores e são ainda mais as obras. Vou responder em parte. Neste artigo quero falar sobre um gênero dos mais populares na música, a sinfonia. Elaboro neste artigo uma lista com as 10 grandes sinfonias que todos precisamos ouvir. Algumas não são do meu gosto mais pessoal, porém pela importância histórica, isto deve ser deixado de lado.

HAYDN (1732-1809): Das 104 sinfonias que o austríaco compôs, as mais amadas são exatamente as de seu período Sturm und Drang. Elas formam um todo coeso tanto pela forma quanto pelo seu conteúdo. O maestro Antal Dorati gravou todas elas e podem ser ouvidas no You Tube. Sinfonias como as de número 29, 45, 49, 52, 59 são pérolas sinfônicas sofisticadas com uma sonoridade rebuscada e agressiva, mas com vastos momentos de graciosidade clássica. É um deleite o universo musical de Haydn.

MOZART (1756-1791): Sinfonia n. 41, “Júpiter”. A última sinfonia mozartiana é sua obra maior no gênero. No classicismo, sobretudo o classicismo vienense, houve um abandono das formas mais rígidas do barroco, consideradas antiquadas. Mas nessa sinfonia Mozart escreve nada mais do que fugas, e em seu final o contraponto alcança um ápice onde são tratados de forma fugal cinco temas de uma vez! No You tube procure por gravações de Gardiner, Böhm ou Karajan.

BEETHOVEN (1770-1827): Sinfonia n. 9 (Coral). E chegamos no Mestre de Bonn. Toda a sua obra sinfônica é irrepreensível, da Primeira à Nona este testamento sinfônico é um tour de force: aqui temos batalhas revolucionárias, políticas, viagens ao campo, apoteoses de danças – enfim, um universo em si mesmo. Qualquer sinfonia dele poderia estar aqui. Escolho a Nona simplesmente por ser a mais inovadora obra entre suas sinfonias e por ter modificado o caminho da música no século XIX; para se ter uma ideia, sem a Nona de Beethoven sem dúvida a música de Wagner, Berlioz e Brahms seria inteiramente diferente da que conhecemos hoje. As gravações mais recomendadas são as de Karajan, qualquer uma – ele gravou quatro ciclos completos das nove sinfonias beethovenianas. Outra opção é a de Karl Böhm, com Plácido Domingo entre os cantores. No entanto esta não é tão emocional como as de Karajan. Paavo Järvi mais modernamente nos oferece uma leitura diferente dos alemães, e com instrumentos de época. Todas estão disponíveis no You Tube.

SCHUBERT (1797-1828): Sinfonia n. 9 (A Grande). Esta sinfonia prefigura nada mais nada menos do que Bruckner! O adagio lembra em muito as composições lentas do wagneriano. É a obra-prima de Schubert e contém as mais sublimes melodias que compôs. Günter Wand ou Karajan, qualquer um desses regentes interpretaram esta obra como se fosse autobiográfica. Sim, tem no You Tube.

BERLIOZ (1803-1869): Sinfonia Fantástica. Alguns puritanos podem afirmar que não se trata de uma sinfonia. Em termos mais estritos talvez não seja. Porém o francês compôs uma das músicas mais insanas de todo o século XIX, o que lhe garantiu sem dúvida o lugar no entre os mestres. Ouso mesmo afirmar que Berlioz deveria ter consumido muito ópio para ter acesso às imagens macabras que povoam esta obra. É o mais legítimo romantismo. Sinfonia de gênio e declaração artística da mais brilhante força. As gravações Sir Colin Davis são as mais recomendadas.

BRAHMS (1833-1897): Sinfonia n. 4. A Quarta de Brahms sela seu testamento sinfônico com grandiosidade. Suas quatro sinfonias são tidas em conjunto como um dos mais consistentes da história, igualando-se ao de Beethoven. Esta obra mostra Brahms distante daquela imagem que muitos fizeram dele, de músico conservador que não ousava. As grandes gravações são as de Bernstein e Karajan, disponíveis no You Tube.

DVORAK (1841-1904): Sinfonia n. 9 (do Novo Mundo). Quando Dvorak viajou para os Estados Unidos, ele travou conhecimento com a cultura indígena daquele país. O resultado está aqui, nesta sinfonia, repleta de temas e ritmos indígenas estadudinenses, transpostos para a forma sonata europeia. No You Tube, Gustavo Dudamel e Andrés Orozco-Estrada oferecem poderosas leituras desta obra.

BRUCKNER (1824-1896): Sinfonia n. 9 (Inacabada). Bruckner dedicou sua Terceira sinfonia para Wagner. A Sétima para o rei Ludwig II, da Baviera – embora que o Adagio seja para Wagner, e foi composto sob o peso da notícia da morte do Mestre, inclusive, na partitura, no clímax desse movimento está escrito a letra “W”. A Nona ele dedicou “ao Bom Deus”, e permaneceu inacabada. Mesmo que alguns estudiosos da obra de Bruckner tenham montado um quarto movimento a partir das anotações do compositor, apenas Deus, portanto, sabe a verdadeira finalização dessa composição. Os três movimentos completados, todavia, já demonstram a grandeza da obra. Daniel Barenboim é quem rege com toda a magnificência esta sinfonia. Há este registro disponível no You Tube, assim como a gravação de Karajan, que também é uma opção sempre a ser seriamente considerada.

MAHLER (1860-1911): Sinfonia n. 2 (Ressurreição). A Segunda de Mahler está entre suas obras mais populares, desde a sua estreia. Mahler não poupa esforços: grande orquestra, coro duplo, solistas e sinos de igreja ao final. É Mahler sendo Mahler: “uma jornada de um homem, iniciando com seu funeral e terminando com sua ressurreição gloriosa.” A canção Urllicht (o quarto movimento) permanece como uma das composições mais intimistas de seu autor. Pode-se escolher entre Bernstein ou Abbado para Mahler. Há no You Tube gravações de ambos.

GORECKI (1933-2010): Sinfonia n. 3 (Sinfonia das Canções Tristes). Gorecki baseou os movimentos dessa sinfonia em textos escritos por pais e filhos desaparecidos por conta de guerras em diferentes épocas da História. O primeiro movimento é um lamento da Virgem Maria. O texto do segundo movimento é formado por frases escritas nas paredes das celas por prisioneiros da Gestapo. E no terceiro movimento, uma canção folclórica sobre uma mãe que procura seu filho. A música marca a transição do compositor de um estilo mais dissonante para uma escrita mais tonal. A gravação de Antoni Wit, a mais recomendada, está no You Tube.

 

 

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Em destaque, a casa de Hector Berlioz retrata por Maurice Utrillo; acima, partitura da Simphonie Fantastique.