*Leila Míccolis
Enquanto os próprios poetas consideram a Internet como uma vitrine, nós, da Geração 70 a víamos como resistência. Em uma passarela, os poetas se preocupam em sobressair, aparecer, exporem-se ao máximo; tudo o que a Geração 70 não queria era aparecer, para não ser cassada pela ditadura militar, silenciada em obras ou vidas. Nada de holofotes. Queríamos romper o cerco do silêncio, intercambiar, mas em surdina. Esta postura fazia com que a própria linguagem fosse outra: breve, como comícios relâmpagos, como um narrador o tempo todo, ameaçado de morte, a qualquer instante. Caçarem nossa palavra, naquela época, podia ser fatal. Hoje, nos sites ou nos zines eletrônicos, se nos caçarem as palavras, as substituiremos por “emoticons”… risos… Por fim, o traço diferencial que me parece mais marcante, é que a poesia “marginal” – leia-se à margem do sistema tradicional de produção e circulação dos livros –, orgulhava-se do poeta acumular as funções de autor, produtor e vendedor, interferindo e até executando, muitas vezes, todas as fases do processo editorial… O mão-a-mão era uma “bandeira altaneira”, ostentada com altivez. Neste sentido, os poetas “marginais” também eram chamados de “poetas independentes”, “alternativos”, porque eles existiam, mesmo sem que nenhuma grande editora os descobrissem e os promovessem, através de uma atitude alternativa no mercado editorial. Na Internet, acontece exatamente o contrário, as pessoas sentem-se “lesadas” ou “injustiçadas” em investir em si mesmas: o poeta geralmente acomoda-se às facilidades com que a rede lhe seduz e tenta “levar vantagem” em tudo, iludindo-se (ou fingindo iludir-se) com a pseudogratuidade de seus serviços, como se alguma vitrine no mundo capitalista não tivesse os seus custos e ônus repassados e embutidos nos descontos, promoções e brindes…