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Memória das tragédias

Escritor fluminense reflete sobre ações terroristas no mundo a partir do 11 de Setembro, uma data que se tornou paradigma de tragédia desencadeada por ideologias

*Flávio Machado

Completava- se exatamente um ano do ataque às torres gêmeas, o World Trade Center em Manhattan o distrito mais importante de Nova York. O sucesso da empreitada terrorista dentro do território dos Estados Unidos ainda reverberava nas ações de retaliação pós-atentado do governo Bush em 11 de Setembro de 2002.

A demonstração da fragilidade das linhas de defesa interna da orgulhosa maior nação do mundo espantava a todos, assistíamos ao vivo surpresos e estupefatos a ousadia dos terroristas. Iniciou-se quase imediatamente a guerra ao terrorismo internacional abrindo trincheiras no Afeganistão, intensa caçada pelas montanhas que abrigavam o Al Qaeda e seu líder Osama Bin Laden, o grande arquiteto do plano que colocou aviões comercias sequestrados, com os tanques absolutamente cheios, em rota de colisão com as torres e outros alvos, provocando um impensável golpe, superando com folga a qualquer roteiro cinematográfico.

Completava-se um ano dos acontecimentos dolorosos com 2996 mortos oficiais, outros milhares posteriormente vítimas da exposição à produtos tóxicos. O Rio de Janeiro amanhecia sob toque de recolher promovido pelo Comando Vermelho como desdobramento da rebelião no presídio de segurança máxima Bangu 1. As lideranças do crime organizado sob as ordens de Fernandinho Beira Mar. A cidade sem resistência fechava as portas de estabelecimentos comerciais e até igrejas.

Uma dupla de bandidos bateu à porta de nossa empresa ameaçando retaliações caso não fechássemos o escritório. Temendo pela integridade dos funcionários e sem garantias do governo do Estado do Rio de Janeiro, naquele momento interinamente comandado por Benedita da Silva, nos vimos obrigados a dispensar todos os funcionários.

As ruas da cidade praticamente desertas como se fosse um grande feriado, enquanto no presídio Fernandinho Beira Mar comandava o assassinato com requinte de crueldade dos líderes de facções adversárias. Outros pediam perdão e aceitavam a liderança do facínora para que não morressem. O caos instaurou-se, o medo tomando conta, era perigoso deslocar-se pela cidade.

São passados vinte anos do ataque terrorista aos Estados Unidos e dezenove da rebelião em Bangu 1. Temos o Afeganistão voltando a ficar sob o domínio dos Talibãs, após a derrota do governo local, o mesmo grupo que as forças americanas expulsaram, através de recursos bélicos e tropas em apoio a rebeldes locais. O secretário de defesa americano na época colocou à disposição 1 bilhão de dólares anuais para o objetivo final de exterminar os terroristas, principalmente o inimigo número 1 Osama Bin Laden.

,Em 11 de setembro de 2021 o Talibã foi empossado no governo do Afeganistão, sem a presença de tropas americanas no território após a saída do último soldado em 31 de agosto. Podemos ver as cenas lamentáveis dos civis se atropelando no aeroporto de Cabul tentando fugir do jugo do Talibã, um grupo com práticas extremas fundamentadas em uma visão religiosa, onde as mulheres são as maiores vítimas, a imprensa calada e torturada.

A guerra contra o terrorismo mostrou-se ineficaz, um grande fracasso, como também no Rio de Janeiro totalmente nas mãos dos narcotraficantes, milícias, corporações criminosas, essas ao longo dos anos cresceram e tomaram de vez a cidade, a transferência dos maiores líderes para presídios de segurança máxima, isolados, distante do comando não impediu que o crescimento acontecesse. O fracasso de políticas de segurança equivocadas por sucessivos governos.

Afirmo o mundo depois desses vinte anos piorou, grupos terroristas continuam a ameaçar a liberdade, enquanto em nosso quintal os sinais são claros da insegurança nossa de cada dia. Hoje é um dia para lembrar, lamentar tantas mortes por terroristas internacionais ou por narcotraficantes nacionais.