*Cassiano Arruda Câmara – Jornalista, Publicitário e Professor Aposentado da UFRN
Passei muito tempo para conhecer Franklin Jorge, mas a fama dele já havia chegado por aqui por Natal. Se falava num menino de Assu, (embora nascido em Ceará Mirim) que gostava de brigar e não era de escolher adversário. Encarava qualquer um.
Um menino arengueiro que estava bagunçando a complacência da tribo dos nossos intelectuais conterrâneos, tão acomodada quanto conivente com a mediocridade mútua.
Repetia-se em Natal, na prática, a lenda do menino, único no Reino a ter tido a coragem de dizer o que estava vendo:
– O Rei está nu!
Ou, em português claro, a dizer o que estava acontecendo na Província: Nosso último grande intelectual foi Cascudo. Ponto.
Uma frase solta capaz de mobilizar todos contra ele, na posição de alvo fixo contra toda a artilharia da Província.
PARCERIA AMIGA
Em julho de 2009, depois de mais de 50 anos, senti – pela primeira vez – o gosto amargo de ser demitido. Os Diários Associados, pela primeira vez, desde o dr. Edilson Varela, mandaram para o RN um comunheiro, que com a experiência de jornaleiro chegou a diretor do Condomínio Acionário, e com essa qualificação veio dirigir as empresas do Nordeste.
Consta que, depois de ter os números da empresa, o novo Diretor procurou a Governadora do Estado e pediu uma “ajuda de R$ 400 mil/mês”. Ouviu da Governadora: “Como vou ajudar quem emprega o maior inimigo do meu governo? – Não seja por isso. Dois dias depois eu recebia o bilhete azul. E antes de seis meses o Diário de Natal estava fechado e o centenário Diário de Pernambuco, vendido a preço de banana.
Do outro lado, com a solidariedade – e corda – de alguns amigos – no mês seguinte eu já cuidava da criação de um jornal, o meu jornal, O NOVO JORNAL. Por 15 meses eu fiz o jornal dos meus sonhos, E o editor de cultura era Franklin Jorge, com ampla, total e ilimitada liberdade.
O Editor de Cultura desmentiu todas as previsões. Ficou, enquanto deu para fazer o jornal dos sonhos: exatamente 15 meses.
Essa minha aventura ainda durou mais sete anos. E passou a contar com um amigo de fé, aquele mesmo arengueiro que veio do Assu.
Hoje, muito honrado, eu presto esse depoimento, com redobrada satisfação em falar daquele mesmo menino buliçoso, agora com a cabeça embranquecida, sem ter perdido a disposição para a briga. Mas, mesmo tendo sido meu parceiro, continua o mesmo amigo inteligente, um verdadeiro artesão da palavra, que chega aos 70 com o mesmo ímpeto para combater o bom combate que tinha quando chegou a Natal.