*Alexsandro Alves
Aos 13 anos, morando em Recife, conheci a escola pública. Até àquela idade eu estudava em uma escola particular, o Jefferson Colégio e Curso. Porém, repeti a sexta séria e mamãe resolveu que deveria ir para o ensino público. A escola se chamava Leal de Barros.
Lá, notei muita diferença e alguma semelhança com a antiga escola. Primeiro de tudo, no Jefferson, orávamos antes de ir para as salas. A escola era administrada por religiosos católicos. Então, antes de irmos para as salas, orávamos em filas. Cada turma em uma fila disposta lada a lado. Esse ritual ocorria três vezes: antes do início do primeiro horário das aulas, no recreio e no final, antes de irmos para casa. Cantávamos também o hino nacional. Isso era bom. Na escola pública nem orávamos e nem cantávamos hino. Tocava o sininho e todos iam para as suas salas, também, no final do quinto horário não se orava para ir para casa. Achei isso estranho, de início. Tanto uma quanto a outra possuíam bibliotecas. Era o que me interessava. Repeti a sexta série no Jefferson porque não conseguia mais me concentrar nas aulas: havia descoberto Shakespeare! Li Romeu e Julieta e Hamlet tantas vezes naquele ano anterior, que todas as minhas notas foram medíocres. Estava arrebatado. A biblioteca da escola pública era bem melhor do que a da particular. Embora que o Jefferson tivesse duas bibliotecas.
Nesse ano, também comecei a desenvolver um gosto pela música clássica. Conheci essa música em seriados japoneses que eram exibidos na extinta Rede Manchete, sobretudo Changeman. Nesse seriado tocava muito Mahler e Beethoven. Na época ainda não sabia de quem eram as músicas e nem seus nomes, mas esperava sempre elas surgirem nas cenas. E as bibliotecas me ajudaram muito, porque, mais tarde, quando descobri que tipo de música era e o nome de alguns compositores, lia sobre esses grandes homens e assim imergia, de certo modo, em seu ambiente. Mas ainda faltava um contato mais preciso com a música em si. Bem, em casa ninguém apreciava e esperava sempre encontrar na rua uma alma para compartilhar essas descobertas. Foi aí que tive a brilhante ideia de falar com os professores.
Com o primeiro me arrependi. E fiquei muito chateado com o sujeito. Falei-lhe do meu desejo em conhecer música clássica. E o que ocorreu em seguida?
Risos.
Na frente de toda a classe, o professor simplesmente disse que esse tipo de música não era para mim. Que isso era cultura estrangeira, europeia e que eu deveria ouvir coisas da minha cultura. Pasmei.
No entanto, passados alguns anos, fui entender bem o que aquele professor estava falando. Era Paulo Freire. Aquela atitude medíocre era oriunda dos ensinamentos de Paulo Freire. E é sobre Paulo Freire que quero falar nos próximos artigos.
Li sua Pedagogia do Oprimido. E considero que agora é a hora de finalmente iniciar um diálogo com seu autor. De homem para homem. De escritor para escritor. De professor para professor.