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Meu natal em Natal

Fundador de Navegos evoca aqui, de maneira fragmentária,  um sonho que teve inspirado em suas concepções de como deveria ser o ciclo natalino em uma cidade chamada Natal

*Franklin Jorge

Na última quinta-feira passei por uma experiência que pareceu-me um sonho no qual eu escrevia um conto, a um tempo minucioso e sintético, que deveria a partir daquele momento constituir uma tradição capaz de engrandecer Natal.

Nele eu repetia, palavra por palavra, sentença por sentença, como algo profundamente vivenciado por todos aqueles que compunham uma espécie de família; lembro-me que estávamos em torno de uma mesa festiva; eu era o velho da história, de longas barbas brancas, como um Noel que seria a memória da aldeia.

Senti-me empolgado, no sonho, ao passar cada página desse livro misterioso ao qual nos referíamos todos como um Conto de Natal. Um livro que seria lido todos os anos, através do qual as personagens da aldeia eram evocadas ou davam o seu testemunho referto de sortilégios.

A cor vermelha prevalecia, assim como o verde e as longas barbas, negras ou brancas, eram de uso comum por todos os homens que ali viviam, como num desenho de Lionel Andeller, que de Paris participava de tudo, como se fora ele mesmo o confabulatori nocturni que prodigamente dispensava suas bênçãos. Ou seriamos cada um de nós personagens de um sonho de Andeller?

Nesse sonho sabíamos todos que as coisas se multiplicavam ou se repetiam. Que cada família era uma família que dava alma e vida àquela humilde e remota aldeia como que saída de um sonho que, por sua vez, continha um pesadelo. Como o mal, que está presente em tudo. Era representado pelos chamados “homens cinzentos”, constituídos por seres agigantados que desejavam tudo e não se satisfaziam com nada.