*Franklin Jorge
Meus passeios com Villa pelo Rio, gordo feliz, deleitava-se em passear e conviver, o Cardeal das Letras, segundo editor do Jornal do Brasil. Amava cada pedaço do Rio, suas origens e singularidades. Olha – apontava e advertia Jorge Antônio -, ali viveu e escreveu o grande reacionário Gustavo Corção. Aqui caiu o Major Vaz no atentado da Toneleros a Carlos Lacerda. Aqui, nas proximidades da casa de minha avó viveu e morreram Carolina e Machado de Assis, que escrevia pecinhas e sainetes para Dona Antônia e minhas tias, todas ainda meninas, apresentar em festas domésticas.
Sempre a rir-se de algumas lembranças, esse seu riso virginal. De criança feliz.
Jorge Antônio é o Anjo de Natal – diz ao taxista. Leva-me a passear…
Jantava em uma era de sua vida no Lamas, no Catete, sentimento ao entrar o cheiro das frutas e, lá dentro, em suas entranhas, as mesas, os convivas solitários ou o grupo de amigos e desconhecidos.
Aqui, nesse encantador pedaço do Rio mora sua amiga, Isolda. Grande pintora, mulher intensa que vc me apresentou. Por recomendação sua escrevi sobre sua pintura florentina. Seus “São Francisco” tem alguns traços seus. Percebi. Sobrinha do autor de Azulão, músico, poeta e artista. Uma das personagens misteriosas da boemia do Rio de janeiro. Esse ser que clama por ser o objeto de uma pesquisa séria, de estudos analíticos e interpretativos, de depoimentos pessoais que já escasseiam, sobre Isolda Hermes da Fonseca, cujas filhas são Musas e pintoras, como a mãe e o pai.
Na vida somos transeuntes, marinheiros ou fantasmas. Depende de cada um ser isto ou aquilo, como diria Cecilia. Em suas crônicas. Tudo parece ser imagem e representação da vontade. Tudo é finito e efêmero.
Pesa em Villaça a memória, reclama. Não é agradável lembrar-se. Há um momento, na vida de quem pensa, que a memoria parece um fardo desmesurado. Devemos carrega-lo até que tudo cesse.
Ouvi-lo, um deleite para Jorge Antônio que se deixa conduzir por um fantasma virgiliano em sua descida aos mundos subterrâneos de uma cidade que exorbita magia. Cenário de memórias de um sargento de milícias. Nos tempos de El-Rey.
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Eu seria do Algarves, pela morenice árabe de minha pele exposta ao sol no Estêvão., em passeios pelos roçados e a caminho dos bosques de carnaubeiras, velhas e majestosas oiticicas, pouso de ciganos. Segundo inteligente e ousado jovem advogado que recorreu ao estatuto de defesa dos animais para pugnar por um preso político atacado em sua dignidade. O então Velho quixote Sobral Pinto, alegando que por ser eu jovem e uma chama de esperança para o Brasil – como todos os jovens, acrescenta com timidez e determinação, merecia sentar-se na única cadeira – reservada para o mais ilustres dos presentes, o defensor de Luís Carlos Prestes.
Deteve-se na herança portuguesa e moçárabe. Fez-me sentar à sua frente e apoiou as mãos em meus ombros.
Foi na Reitoria duma grande Universidade, na Ilha do Governador ou no Fundão, não lembro mais. Já muitos outonos caíram sobre aquela noite que pareceu-me um Rito de Passagem, uma epifania à luz de Villaça e da história.
Daí para – “meu portuguesinho do Norte de Portugal” – foi um pulo.
Confessei-me constrangido.
Não. – Os jovens são a esperança.
Não gosta de ser fotografado.