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Militante aliena educação em favor de crença canhota 2

Colaborador de Navegos dá continuidade a serie de artigos nos quais disseca o uso ideológico que um educador pervertido consagrado pelas esquerdas fez da educação no Brasil.

*Alexandro Alves

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Quando Paulo Freire procurou asilo político devido a instauração da ditadura militar no Brasil, (ditadura militar é uma das formas de recreação dos EUA, via CIA, na América Latina), ele não procurou Cuba, como o fez José Dirceu. Ele buscou uma nação capitalista, governada pelo presidente Eduardo Montalva, do Democracia Cristã, um partido ambivalente em suas relações com a fragmentada esquerda chilena. A esquerda chilena, por sua vez, tinha como principais partidos o Partido Socialista, de Salvador Allende e o Movimiento di Isquierda Revolucinaria (MIR). Estas esquerdas eram antagonistas. Enquanto os socialistas defendiam uma união com a burguesia, à moda dos mencheviques russos, décadas antes, ou do Partido dos Trabalhadores, do Brasil, décadas depois (Lula/Alencar, Dilma/Temer e para 2022, Lula/Alckmin), o MIR era mais agressivo e mais guevarista: a solução era eliminar a burguesia nas armas e não nas urnas.

Freire escreve sua “Pedagogia do Oprimido” imerso nesse caldeirão político chileno. Longe do Brasil, fora de sala de aula, em uma realidade bem diferente. Essa imersão política de Freire talvez explique os motivos pelos quais seu livro seja mais um manual de ação revolucionária do que um tratado de pedagogia. Porém, apenas não explica uma coisa: o péssimo estilo da escrita freiriana. No artigo anterior, que você pode ler ou reler aqui: https://www.navegos.com.br/paulo-freire-treinador-de-soldados-1/ , falei sobre a estrutura de “Pedagogia do Oprimido”. Agora, quero entrar nas características e ideias de Freire nesse texto. Aqui devo fazer um porém: apenas li Pedagogia do Oprimido, seus outros textos nunca os li, e quem sabe se ele não adquiriu um estilo melhor, mais dinâmico e menos repetitivo?

O fato é que é cansativo ler Paulo Freire. A repetição, a redundância, é a primeira característica desse texto. Freire dá sucessivas voltas no mesmo tema e retorna exatamente para o ponto onde iniciou. Por exemplo. Em determinado trecho, Freire nos fala da oposição entre a “educação bancária” e a “educação problematizadora”. O texto nada mais é do que uma variação da elite opressora versus oprimidos, do capítulo anterior. Não há diferença alguma. Os parágrafos são encaminhados para, por fim, condenar uma forma e santificar a outra. É sempre essa estrutura entre oposições, binárias, que Freire joga em suas páginas. “Ser mais” versus “Ser menos”, dialogicidade versus antidialogicidade. Tudo para se chegar aos camponeses (Pedagogia do Oprimido, p.48, Paz e Terra, 1987; todas as citações nesse artigo são dessa edição)! Não é o ser humano enquanto aluno, é enquanto classe social! E no final desse capítulo retornamos ao início de tudo já tantas vezes mencionado: às “elites dominadoras” que se apropriaram da “educação bancária” e são eficientes na antidialogicidade. Tautologia pura.

A segunda característica é ainda pior. Se nas ideias pedagógicas Freire é um político revolucionário, como político revolucionário ele quer ser poeta! Freire transita de um desejo para outro sem escrúpulo algum, como se fossem a mesma coisa um escrito pedagógico, um escrito político e um escrito poético. Não são.

Pedagogia é ciência. Ciência se faz com fenomenologia. Com testes e aplicações de toda a sorte de aparatos de pesquisas quantitativas e qualitativas. Se alguém deseja escrever sobre pedagogia, precisa estar em contato direto com alunos e professores. Quando Freire escreveu Pedagogia do Oprimido, estava no Chile, como membro do Movimento para a Reforma Agrária da Democracia Cristã. Seu contato era com camponeses e intelectuais. Não com crianças ou adolescentes e, muito menos, com brasileiros.

Um livro que se pretenda científico precisa ser objetivo. Não pode dar vazão aos voos do espírito de poetas. Porém Freire confunde os espaços. Essa confusão, que marcará boa parte da produção acadêmica brasileira de humanas, se inicia na Pedagogia do Oprimido. Freire muitas vezes escreve como se fosse um literato – sofrível, diga-se, mas um literato. Não é uma linguagem científica. É uma linguagem que, embora cheia de conceitos, vários criados por ele, sempre descamba para uma “poesia”, repleta de termos repetidos que têm, ou devem ter, a potência de se autoexplicar. Leiam isto, extraído da página 41: “Na verdade não há eu que se constitua sem um não-eu. Por sua vez, o não-eu constituinte do eu se constitui na constituição do eu constituído. Dessa forma, o mundo constituinte (…)” Lembra de Seu Patropi? Mas os hippies dos anos 70 se transformariam em yuppies nos anos 80. Outra joia freiriana, extraída de uma página bem adiante, a 96, pura poesia freiriana:

“o ‘eu’ dialógico, pelo contrário, sabe que é exatamente o ‘tu’ que o constitui. Sabe também que, constituído por um ‘tu’ – um não-eu –, esse ‘tu’ que o constitui se constitui, por sua vez, como ‘eu’, ao ter no seu ‘eu’ um ‘tu’. Desta forma o eu e o tu passam a ser, na dialética destas relações constitutivas, dois ‘tu’ que se fazem dois ‘eu'”.

Apenas Gabriel, o Pensador pode entender isso: “maresiia, sente a mare si i a, maresiia, u, uhuuu, uu uu uuu!” Freire descobriu paraísos artificiais nunca antes sonhados nem mesmo por Baudelaire.

Esse tipo de escrita lembra Sartre, quando o filósofo tenta explicar termos que no fundo não têm explicação, e só funcionam no cérebro na base da repetição, como em “A Rosa”, de Gertrude Stein. Porém, para sermos mesmo muito mais cruéis, é semelhante à ação de narcóticos no cérebro: a sensação de leveza é tal, que derruba qualquer resistência e se estabelece como inteligível algo que é apenas sentimento. É que a leveza torna insustentável qualquer resistência. E se prestarmos atenção, todo o professor ou cientista de humanas brasileiro desde então se tornou artista. É Freire quem inaugura o professor estrela. Aquele professor que, em plena aula de história, pega seu violão e toca um “Homem Primata”, dos Titãs, para explicar que o capitalismo é explorador. Isso é, também, “falar na linguagem do aluno”.

“Falar na linguagem do aluno” é outra invenção que nos chega via Freire, mas isso é para o último artigo.

Uma terceira característica de Freire é criar expressões, ou “conceitos”, e não lhes dar a devida e objetiva explicação. Por exemplo, em “Pedagogia do Oprimido”: o “Inédito Viável”. Aqui há uma troça. Porque percebemos que se trata da “utopia”! Todavia Freire nunca comenta isso. Prefere jogar mais conceitos, talvez em uma ânsia de parecer profundo ou pela época, pós maio de 68 na França, o incompreensível passa a ser a tônica, a subversão, a revolta sem fim contra tudo e sobretudo, o não explicar nada para parecer dizer tudo! À semelhança de um “sábio” que nada diz de fato, mas como sua audiência também nada pensa, passa-se pois, por profundo. O Inédito Viável tem relação com a “consciência real” assim como a “ação editanda” tem com a “consciência máxima possível”, Paulo Freire dixit. Sua viúva, Nita Freire, explicou: “Inédito Viável” é o “percebido destacado”. Olha aí! É isso! Parabéns, senhora Freire!

No fim, Freire possui um estilo muito ruim, desagradável e repetitivo de escrever. Não acredito que, de fato, algum aluno e, principalmente alguma aluna (porque as mulheres formam mais de 90% dos cursos de pedagogia no Brasil), tenham lido esse texto em sua íntegra. De fato, tornou-se esse texto uma espécie de talismã cultural entre a educação nacional. Ostentá-lo é praticamente um sinônimo de honra ao mérito.

Mas para quê? Um livro que é no fundo um manual de guerrilha. E sendo assim, as aulas sobre ele nunca o mostram por inteiro. Talvez nem mesmo o leiam. Baseiam-se em uma frase ou duas bem simpáticas e iniciam a conversação contra o capitalismo e a elite opressora. A face real de Freire, bem longe da imagem de um velhinho de barba branca e fala mansa, um “papai-noel” atemporal, é, no seu íntimo, um pensador da inveja e do ódio. Um indivíduo que, em várias páginas de sua “pedagogia”, vaticina que é ato de amor assassinar o opositor: “não há vida sem morte” (página 99).