*Franklin Jorge
É sabido que desde moço manifestei meu horror a confrarias. Instintivamente, sempre fugi aos bandos e me reservei o privilégio de usufruir da vida a sós comigo mesmo ou na companhia de uns poucos, pouquíssimos, escolhidos. Só o que é raro desperta minha atenção e me agrada, por isso, uma de minhas professoras do curso ginasial pode dizer à minha avó materna: Seu neto só se acompanha dos melhores…
Como escritor, cônscio do que crio, percebi claramente que a obra se faz em solidão e no silencio, muito ao largo do espocar dos fogos de artifícios, das efusões e dos elogios que se esgotam no mero esforço de agradar. Afinal, Baudelaire já percebera, muito antes do jovem inquieto e fatigado que fui, muitos amigos, muitas honrarias falsas. Ora, o elogio, por pessoa desqualificada, o compromete e constitui a meu ver uma forma abominável de promiscuidade.
Aprendi assim a valorizar mais a crítica do que o elogio. Mais a dúvida do que a certeza e, sobretudo, a não superestimar o elogio proferido por quem não dispõe minimamente da virtude necessária e imprescindível para conferir-lhe algum juízo de valor digno de respeito e consideração. Não atribuo a qualquer um a condição de mestre. Também não costumo chamar qualquer um de ‘amigo’. Para que isto aconteça, sinto que teria de considera-lo superior a mim, e não apenas igual a mim.
Aterra-me, portanto, a pouca importância que as pessoas em geral atribuem a tais vocábulos, reduzidos ou vulgarizados em expressões desprovidas de significados profundos. Como o que, passando de mão em mão, perde a consistência, desgastando-se pelo mau uso a densidade e o sentido que lhe são próprios.
FOTO Franklin Jorge aos 26 anos retratado por Ivanizio Ramos.