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Música e Nazismo, tomo 3: Wilhelm Furtwängler e a glória da Filarmônica de Berlim.

Furtwängler, o mais glorioso regente de todos os tempos, e a salvação dos músicos judeus na Alemanha de Hitler.

A posição de Wilhelm Furtwängler (1886-1954) para a música erudita do século XX, pace os admiradores de Herbert von Karajan (1908-1989), é incontestável: ele é o maior maestro do século passado. Regente da Filarmônica de Berlim a partir de 1922, com a qual se apresentou por todas os teatros da Europa, seu nome também é lembrado por um motivo nada simpático: era o regente preferido de Hitler e ainda hoje persistem as controvérsias em torno de sua filiação ao Partido Nazista, fato nunca confirmado, mas também nunca negado. Quando Goebbels cria a Reichsmusikkammer, Furtwängler é empossado vice-presidente da instituição, que tem como presidente Richard Strauss.

 

Mas o relacionamento do maestro com os nazistas nunca foi satisfatório. É comprovado que nunca fez a saudação nazista. Porém nunca perdeu as convenções dramáticas do partido em Nuremberg, ocasião em que sempre regia o Prelúdio dos Mestres cantores de Nuremberg, convidado pelo próprio führer. No aniversário deste em 1938, rege uma produção completa dessa comédia musical wagneriana. Outro fato importante são suas constantes desavenças com Goebbels. Este, sabendo que a Orquestra Filarmônica de Berlim, a orquestra de Furtwängler, possuía músicos judeus, várias vezes tentou persuadir Hitler exigindo a demissão destes músicos. Porém o ditador lembrava do Bruckner de Furtwängler e os apelos de Goebbles se dissipavam.

 

Até que ponto os alemães, sobretudo os que tinham acesso ao führer e ocupavam altos postos no governo, como Furtwängler, tinham conhecimento da barbárie? Esta pergunta ganha ares suspeitos com este personagem devido aos seus constantes cuidados com os músicos judeus, sobretudo os da Filarmônica de Berlim. É sabido que ajudou, por diversas vezes, na fuga de judeus da Alemanha. É também curioso o fato dessas fugas serem conhecidas dos nazistas. Tanto assim que em uma conversa com Albert Speer, ministro do armamento do III Reich, lhe perguntara se a Alemanha tinha condições de vencer a guerra. A resposta de Speer foi tomada por Furtwängler como presságio: “é melhor você buscar asilo na Suíça e fugir da vingança dos nazistas”. A derrota estava a caminho, mas nem mesmo Speer esperava que fosse tão gigantesca. Na cabeça de Speer, ainda haveria um Partido Nazista no pós-guerra.

 

Como músico, Furtwängler foi mais corajoso do que Strauss e Orff. Nunca negou a música dodecafônica. Aliás, estreou As variações para orquestra, opus 31, de Schoenberg, em 1928 e, em 1934, após uma violenta disputa entre ele e Gobbels, consegue que a ópera Mathis der Maler, de Hindemith, compositor execrado por Hitler, fosse estreada em 11 de março daquele ano, sob sua regência. É outro ponto. Hindemith foi um compositor degenerado. Mas o fascínio de Hitler por Furtwängler era tanto, que o músico ganhou a disputa contra o ministro da comunicação do III Reich. Essa admiração do führer era motivo de disputa por outros músicos, como Richard Strauss e Herbert von Karajan, que viria a substituir Furtwängler na direção da Filarmônica de Berlim após a morte deste. Todavia, Hitler nunca teve simpatias por Karajan, embora este tenha se filiado ao Partido Nazista, inclusive.

 

É notória a musicalidade flutuante e livre, extremamente romântica, com o qual Furtwängler regia os compositores alemães, como Wagner e Bruckner. Ele era o extremo oposto do italiano Arturo Toscanini, que tinha um respeito quase religioso pelo que estava escrito na partitura, sobretudo quando regia Beethoven e Wagner.

 

Com Furtwängler, a Filarmônica de Berlim torna-se a maior orquestra do mundo. Posto que só deixaria de ocupar no século XXI, baixando uma posição para a Orquestra do Concertgebow de Amisterdã.

 

Durante o período nazista, a orquestra foi prestigiada como nenhuma outra por Hitler, à exceção exclusiva para a Orquestra do Festival de Bayreuth.