*Franklin Jorge
Por que a crise na comunicação não afeta o rádio?
João Ricardo Correia – O rádio é um veículo de comunicação fascinante, ágil, presente na vida de milhões de pessoas e o mercado, certamente, percebe isso. Como meio de entretenimento, funciona muito bem. Para informar, é excelente. Nos últimos anos, veio a combinação do som com a imagem, por meio da internet, o que amplia os recursos e abre um leque de opções, inclusive comerciais, para ser explorado.
A que atribui essa popularidade?
João Ricardo Correia – As ondas radiofônicas permitem um alcance extraordinário e isso torna esse instrumento um meio completamente democrático, de fácil acesso, compacto, barato, ou seja: nos lugares mais longínquos, onde o sinal da internet ainda não está presente e, em alguns casos, nem existe energia elétrica, o velho e bom radinho continua sendo companheiro do homem do campo, da dona de casa, do pequeno comerciante, dos grandes empresários, do desempregado, dos que buscam informação, daqueles que preferem ouvir músicas, de quem tem acesso a transmissões religiosas, dos apaixonados pelos esportes. Sem falar do poder de sedução que esse veículo possui, alimentando o imaginário de quem “visualiza” o(a) dono(a) daquela voz, daquele sotaque, daquela maneira peculiar de se comunicar.
Tem ideia de quantos canais radiofônicos operam atualmente em Natal?
João Ricardo Correia – Lembro, nas FMs, da 104; CBN; 96; 98; 94; Universitária FM; Rádio Marinha; Rádio Senado; 95; 97,9; 103,9; Jovem Pan; 102; 87,9 e a Cabugi FM, uma das mais recentes, que substituiu a tradicional Cabugi AM. Nas AMs, vez por outra ainda “encontro” a Rádio Nordeste Evangélica e outras, com a recepção não tão boa, que transmitem programações religiosas. Isso sem falar nas web rádios.
O que distingue o ouvinte de rádio do leitor de jornais impressos?
João Ricardo Correia – Como citei anteriormente, uma das características marcantes e fundamentais do rádio é a democratização. Num país como o Brasil, onde milhares de pessoas não sabem ler, nem escrever, o acesso à informação e ao entretenimento, muitas vezes, chega somente por meio do rádio, pois muitos não têm condições de comprar uma televisão e/ou sobrevivem sem os benefícios proporcionados pela energia.
Outro ponto é a agilidade. O rádio é instantâneo e quando bem feito, com profissionais competentes e uma boa estrutura de trabalho, é imbatível, pois é capaz de transmitir uma notícia em tempo real, enquanto o jornal impresso traz, como chamamos, matérias “frias”, escritas há horas, na maioria das vezes desatualizadas.
Há emissoras de rádios para todos os gostos, levando ao ar desde músicas, fofocas sobre a vida de artistas, noticiário policial, até grandes debates sobre política, economia, saúde, estilo de vida, o que populariza e mantém vivo esse formidável veículo.
Os leitores de jornais impressos, geralmente, buscam conteúdos mais abrangentes, mais bem elaborados, ilustrados, com elementos gráficos que ampliam o esclarecimento sobre determinado assunto, o que no rádio não é bem explorado, justamente por causa da sua característica de ser rápido, com fluidez na informação, com exceções em alguns programas e coberturas jornalísticas especiais.
No que involuímos?
João Ricardo Correia – Um dos pecados que observo nas emissoras de rádio, com raras exceções como na Jovem Pan e CBN, é a mesmice, o mesmo formato de programação, os mesmos temas, as mesmas “genialidades” sem graça, mudando somente os atores.
A desvalorização dos profissionais é outro ponto que prejudica a qualidade do que chega aos ouvintes. Aventureiros, muitos porque têm ou querem cargos eletivos, ocupam horários com seus blablablás que servem para alimentar as tais “redes sociais” e tudo parece virar uma grande brincadeira sem graça.
Acredito que o rádio deveria receber, por parte dos seus controladores, o respeito que merece. Evidentemente, há espaço para o entretenimento, para a diversão, mas creio que a informação de qualidade, a prestação de serviço e a boa música devem ser os alicerces de qualquer emissora que dedique atenção aos ouvintes. A história do rádio é digna de reconhecimento e de evolução.
João Ricardo Correia, natalense, 47 anos, radialista, jornalista formado pela UFRN, atuando como editor do Novo Notícias e comunicando pelas redes sociais e web rádio Companhia da Notícia.
