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Natal é aqui

Falta de vontade de governantes ignora grande potencial turístico, concedendo a Gramado, no Rio Grande do Sul, a primazia do turismo natalino.

Franklin Jorge

A Serra Gaúcha se apossou duma marca inquestionavelmente pertencente à Natal, como o mais importante endereço natalino que há no mundo, cidade onde Jesus Cristo teria nascido. Dizem que foi passeando que esse secretário de município viu na Flórida ou Orlando uma saída para o seu problema que ficara em seus pagos. Criar o endereço natalino por excelência. Não em Natal na serra Gaúcha, que se tornaria lutemos por nossa Natal, embora cenográfica, potiguar, já uma cidade no Rio Grande do Norte, quando o Rio Grande do Sul era apenas um deserto.

Natal podemos ser muitas. a cidade cenográfica natalina, numa cidade chamada Gramado.

Natal em tudo para ser um sucesso como esperam os natalenses já um pouco irritados de esperar. Ninguém aceita mais esse arrastar-se de pés em direção ao nada. Todos querem que o turismo chegue a cada lugar, e não apenas na Serra Gaúcha. Natal quer sua parte nesse circuito.

Natal é um estado de espírito. Uma prega no tempo.  Uma cidade fantasmagórica onde todos – ou a maioria – se veste de vermelho e tem longas barbas brancas, como o cartunista Andeller imaginou Natal. Uma cidade talmúdica, de velhos velhíssimos e sábios. De porto quase secretos. De saltimbancos. De mercado. De vozeirio e de silêncio.  Uma cidade à beira-mar, dispersa entre dunas vermelhas. Inspirando os escritores, como João Gualberto Aguiar, que dizem-no cego, autor de romances inspirados em dona Dahlia e Câmara Cascudo. Lembro-me que ri ao ouvir seu relato. A decepção surpreendente, de deparar-se com um escritor mau humorado, empenhados, marido e mulher, em coisas triviais. Domésticas. Enfim, os bastidores do gênio, preconizados por Baudelaire. Ninguém queira conhecer os bastidores do gênio.  Território de humilhações e angústia.

Esses dois ou três romances inspirados em breve convívio profissional com o autor de Canto de Muro.  João Gualberto escreveu com raiva e pachorra. Queria ridiculariza-los, o velho e a velha, que lhe pareciam senis. Uma espécie de auto-de-fé cannettiano escrito, em fragmentos em Natal.

Seus desenhos, os desenhos de Andeller,  exprimem uma cidade misteriosa, à beira-mar, sobre dunas dançarinas que o vento dispersa, uma cidade cheia de sol, dourada, ácida, o vento é verde. Incorruptível, refrescante. Como uma África peculiar. Andeller me pergunta. Como pode ser Natal o que não é? Como fazer o povo natalense se abrir para os fatos?  Seus habitantes viveriam na abastança.

Pensamos na Sala Natal promovermos uma exposição de suas cartas, obras de grande arte. Únicas peças de museu. Não pode constituir o desfrute de um egoísta, sejamos generosos. Cada carta sua é um precedente único: não tem cópia. É, como disse, uma obra única. Porque rara.

Andeller fez de suas ideias a obra de sua vida. Suas cartas constituem um legado de seu obra, uma das partes mais intrigantes da constituição de sua obra, que começa com a escrita. Em Curitiba, numa exposição sua de Artepostalismo, há uns 30 anos chegou à galeria fantasiado de carteiro, distribuindo sua arte postal. Alguém pensava que era uma performance, era a performance de um artista francês

Personagem de meu livro O homem botônico, nele reuni os excêntricos, os seres noturnos. Em suas farândulas, reuni aí os confabulatores nocturnii,  contadores de histórias que fazem de cada feira um ligar mágico. Feira que confunde com as suas vozes multitudinárias e se transforma, por alguns segundos em um pouco Bagdad. Os 3 reis magos guiados pela estrela de Belém, tem a grandeza da simplicidade, algo que Manxa fez para o 4º Centenário não passar despercebido e sem uma obra digna de data irrepetível. Uma obra, aliás que precisa ser resguardada. Protegida.

Desde que foi chantado ali, na BR 101, no ano do Quarto Centenário de Natal, nenhum prefeito lhe deu uma mão de cal. Álvaro Dias, embora tenha sido um mau prefeito de Caicó, faturou seus interesses e se dispôs a fazer o que os seus antecessores não fizeram.  Tentou engrandecer o que faz de Natal a nossa cidade, mas logo os vândalos atacaram a obra, quis urbaniza-la e ilumina-la para maior glória da história.

A obra ficou inconclusa e o prefeito, Álvaro Dias, sem ação. Morto dentro das cuecas, sem dar sinal de ir para frente ou para trás. Para que ele quer ser prefeito, se não é capaz de resolver uma reles guerrilha vandalística, como faz quase todos os meses o Instituto Luduvicus? Imaginem como não ficará tal prefeito diante de desafios mais destruidores? Dirão que voltou a usar o pijamas de deputado, quando foi tão inoperante.

Agora ali está na BR 101, sem hora nem dias para ser terminada ou declarada abandonada de vez! Como fez quando prefeito de Caicó, sua terra natal? Valei-nos Padre João Maria! Não precisávamos de tal presunto a feder na mais importante avenida de Natal.

Pela posteação, o prefeito pretendia além de urbanizar, iluminar o Pórtico dos 400 Anos de Natal, onde jazem os 3 reis adivinhos que seguiram a estrela natalina. Mostrou boa intenção, para coragem pouca. O único “homo caicoensis” fake esbarrou em Natal.

Franklin Jorge. Jornalista.Escritor

Legenda: Chegada triunfal de Papai Noel em Gramado