*Alexsandro Alves
Quem passa pela Avenida Omar O’Grady, pode observar uma das mais monumentais estruturas da cidade: situada no Pitimbu, o Mirante do Parque da Cidade domina a vista: alto, branco, belo, imponente! Seus 45 metros fixados no Parque da Cidade Dom Nivaldo Monte, são quase uma exceção em Natal, cidade carente de grandes monumentos. Há o Forte dos Reis Magos, que foi vandalizado por grupos terroristas recentemente.
Essa falta de monumentos de peso em Natal está ligada ao raquitismo intelectual de nossos políticos, quase todos filhos de uma elite burra, preguiçosa e que apenas se difere do iletrado porque o dinheiro lhe compra uma pose e um nariz empinado: substância, zero. Alguns dias atrás, um deputado estadual, Coronel Azevedo, teve a brilhante ideia de mudar o nome da Ponte Newton Navarro.
A ideia era rebatizar a ponte com o nome da governadora Wilma de Faria. Mais do que parecer desconhecer que a governadora nomeou a ponte em honra ao seu pintor potiguar e poeta de sua predileção, o deputado parece sofrer de um problema que acomete o natalense de tempos em tempos: a falta de memória.
Falta de memória essa que faz a cidade ser pobre em cultura.
Natal não tem um teatro decente. Natal não tem uma orquestra sinfônica decente. Natal não tem uma sala de música de concerto. Cultura, para os políticos das orelhas grandes, é falar de bumba-meu-boi no Dia do Folclore e aparecer sorrindo ao lado de grupos folclóricos. Não estou insinuando que o folclore não seja importante, afinal, o maior folclorista do Brasil é potiguar, Câmara Cascudo.
Quero afirmar, sim, que investir em cultura custa caro e ações como as que ano após ano temos visto, são fogo de palha.
Faz vergonha o Parque da Cidade. Seus banheiros sucateados servem para consumo de maconha; suas trilhas servem para relações sexuais entre homens gays; sua vegetação vez por outra esconde algum corpo assassinado – geralmente de homens gays. O Pórtico dos Reis Magos passa por reforma que nunca termina e que nunca vemos ninguém trabalhando: sempre está com tapumes.
Eu fico imaginando quanto que a prefeitura e o governo do Estado investem no Carnatal. Essa festa vulgar de gente esnobe e sem memória, essa festa natalense. Criação máxima do atual prefeito, Paulinho Freire.
E aquele monumento ridículo em frente à Assembleia Legislativa? O governador José Augusto Bezerra de Medeiros passa vergonha todos os dias, de seu túmulo, deve amaldiçoar aquela obra desconjuntada, de bracinhos e perninhas magrinhas e pintado de dourado com tinta mixuruca para fazer-se de ouro. O mesmo vale para o monumento a Cascudo. Se não puder investir, é melhor deixar quieto. É melhor do que fazer o homenageado ser ridicularizado.
Há muito tempo atrás, Wilma de Faria anunciava verbas para construção de uma Ópera em Natal. Um teatro de ópera. Um lugar para a alta cultura. Por que não deu certo? Porque manter custaria o dinheiro das propinas que eles pagam uns aos outros. Manter uma ópera não é nada simples: orquestra permanente, corpo de balé permanente, coral permanente, cantores solistas, equipe técnica que envolve figurinistas, historiadores, iluminadores, sonoplastas, maquinaria cênica avançada, é um mundo de mais de 500 funcionários fixos.
Como o natalense, com sua memória de duna, abarcaria uma obra dessas? Uma obra que exige grandiosidade e permanência.