*Franklin Jorge
Apesar de sua bela e encantadora aparência, de suas dunas e resquícios da antiga mata atlântica sufocadas por ostentosos condomínios de luxo que abarrotam as contas de construtores desalmados e governantes imprevidentes e irresponsáveis, Natal parece-me ser irrevogavelmente provinciana. Sobretudo quando comparada ao Recife, para alguns de nós, natalenses – em especial os gestores culturais – a Capital Cultural do RN. Impressionante quanto o Scriptorin e a Fundação Hélio Galvão lucraram com dinheiro público investiram em artistas de fora, enquanto os daqui permaneceram como reles brincantes em um pastoril de arrogantes nulidades.
Disse-me certa vez a socialite Denise Gaspar, minha conterrânea do Ceará-Mirim, enquanto tomávamos um café em seu apartamento no Chácara 402, “apesar de tudo, somos um povo de pobres”, palavras que não me surpreenderam, saídas da boca dessa mulher inteligente. Sobretudo quando aplicadas ao espírito e às iniciativas de interesse coletivo que engrandeceriam a cidade, se bem dirigidas para além de ridículas satisfações pessoais.
Ao contrário de alguns ricos do Recife que contribuem efetivamente para manter e ampliar o cosmopolitismo de sua cidade, enriquecendo-a culturalmente com doações, aqui, alguns dos nossos, procuram tirar proveito duma cultura já combalida, através de prepostos ou mesmo de cara limpa, como faz e tem feito nos últimos 20 anos, Isaura Rosado, aposentada que se agarra aos cargos como o cachorro faminto ao osso, personificando o papel de uma czarina de um segmento que trata com indecorosa ingratidão nossos artistas e produtores culturais que não cedem à vaidade e à ganância de gestores impiedosos com as futuras gerações.
Não se vê, em Natal, nenhum rico se dando ao esforço ou à iniciativa de adquirir obras de nossos artistas para doa-las, por exemplo, à Pinacoteca do Estado, que urdi há mais de 30 anos contra a vontade de muitos, inclusive de meus superiores na Fundação José Augusto que supunham que eu ambicionava seus cargos. Até porque, lá, as obras costumam evaporar-se ou transmutar-se para outros municípios, por vontade de gestores, como François Silvestre, que retirou obras do acervo da Pinacoteca – grande parte doadas por mim mesmo em nome dos artistas, conforme documentação que guardo em meu poder para subsidiar futuros pesquisadores -, quando ocupou a sua presidência e se envolveu naquele escândalo no governo de Wilma de Faria.
Aqui, ao contrario do que faz o Recife, em vez de prestigiarem os talentos locais, os gestores empregam a verba pública para pagar uma corriola de bajuladores e cachês milionários a subcelebridades importadas de outros estados, como a Bahia, que há anos vem lucrando com o suor de nossos impostos. Artistas fabricados pela mídia, de parco talento e nenhum futuro, aclamados por gestores duvidosos.
Precisamos, a rigor, de uns Brennand, aqui. Uma gente que nasceu rica e que, mesmo ganhando dinheiro com a cultura, deixem um legado à nossa cidade. De pessoas dotadas de visão, ao contrário dos prefeitos do Assu que derrubaram casarões coloniais, ou do Ceará-Mirim, que não se prestaram a lutar pelo resgate de engenhos sesquicentenários que se foram transformando em ruínas.
Quando teremos um rico que patrocine, por exemplo, nessas cidades, o resgate do que sobrou após tanto descaso, conclamando os nossos artistas a reconstituir e o passado de uma terra conhecida como a do “Já-Teve”?
Em destaque, pintura de Fernando Gurgel encomendada pelo Sebrae para presentear personalidades em visita à Copa do Mundo, valoriza um artista de talento e põem em evidência, em um quadro, referências históricas e significativas do patrimônio cultura e arquitetônico da cidade.