*Franklin Jorge
Em visita à minha avó, parentes e amigos, eu conversava uma noite com um amigo no terraço de hotel à Rua Santo Antônio. Reclamava de não ter ainda produzido uma obra relevante que justificasse a minha existência e me representasse no futuro. Vivia sob o jugo dessa inquietação persistente que me levava a escrutinar cada um de meus escritos em busca da forma precisa, fluente e rítmica.
Jarbas riu em claro sotaque angicano. E tripudiou enfaticamente: Choras de barriga-cheia. Sua obra está feita. Uma obra original, Cult e Pop. Você tem em seus guardados muitos outros livros…
Como?, quis saber. Não tenho nada…Nenhum livro. Nenhum livro que mereça edição.
Disse-me então Jarbas que, de tudo o que em anos da nossa amizade e convívio diário, eu lhe dera a ler, no curso de algumas elaborações literárias, ele via ali matéria para muitos livros. Sua obra está feita. E ainda tem de quebra umas cinco biografias…
Não pensara nisso. Não pensei em biografias, mas, como uma ideia fixa, nos livros que poderia extrair daqueles manuscritos.
Ao voltar para o Acre, ainda no avião, pensava no trabalho que teria em Rio Branco, examinando meus papéis; classificando-os em gêneros, temática, e depois selecionar os textos que me parecessem realizados no tom certo. Levei um ano inteiro entregue e devotado a esse processo que resultou em dez livros, cujos títulos, entre outros, assim denominados: 1] Ensaios Mínimos, ensaios minimalistas sobre autores que releio e volta a ler de novo com o coração aos pulos; 2] Poemas Mínimos, seleção de transcriações poéticas sobre a obra de poetas que brilham em meu Parnaso pessoal; 3] Abaixo do Equador, registros de meus encontros e conversas com o povo amazônico; 4] O Spleen de Natal [desdobrado depois em três volumes, reduzidos a dois; 5] O Ouro de Goiás; 6] Rio Subterrâneo, jornal literário; 7]O Dia em que me queiras, contos; entre outros títulos em prosa e verso.