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No elevador

Colaborador de  Navegos, um jovem escritor de indiscutíveis méritos, flagra com espirito e irreverencia a comedia humana que habita os condomínios da vida.

*Abraão Gustavo 

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O elevador tem várias utilidades, que não é apenas levar pessoas do ponto A para o ponto B. Ficar preso por alguns minutos ou ver a vida passar por um fio, são os riscos que todos que utilizam esse serviço podem correr. No elevador você encontra seus vizinhos e descobre que não é a única pessoa a morar no prédio. Esse pequeno espaço, claustrofóbico para muitos, é motivo de stories para o Instagram para outros, poses para o espelho e alimento de fotos para o Tinder, novas amizades.

Cada um encontra nesse espaço uma utilidade diferente. O síndico sempre está a lembrar porque pagamos condomínio, com seus avisos e recados do prédio no mural do elevador: “Atenção, por favor, não jogar restos de comida nos corredores, nem nas escadas de emergência. Pena: sujeito a multa, conforme o descumprimento do contrato e das normas de regulamento do prédio. Agradeço desde já a compreensão de todos”. Eu fico pensando quem diabos ainda tem a preguiça quase demoníaca de jogar essas coisas de qualquer forma por aí. Isso quando alguém não usa o elevador social, porque cansa de esperar o elevador de serviço, para jogar o lixo. Essa safadeza só perde para o casal tarado de adolescestes do sexto andar, segundo Dona Maria do primeiro andar, que sempre está de papinho com o porteiro e de vez em quando faz visitas no oitavo andar para o senhor Ivo. Ela me contou esses dias, enquanto subíamos os andares, que a menina é visitante do prédio, e está sempre sugerindo lugares novos, para suas experiências sexuais perturbadoras. Segundo ela, o Rogério, o porteiro, achou o casalzinho se pegando no elevador e que viviam indo para as escadas do último andar fazer coisa feia.

Quem arranca suspiros sempre quando passa é a musa do nono andar. O cheiro do perfume doce dela sempre deixa todos deslumbrados e com muito ciúmes, como foi o caso do casal vinte do terceiro andar. Segundo Dona Maria, houve até briga dentro do elevador. O porteiro Gledson foi mandado embora por ter se prontificado a resolver o problema de vazamento do seu apartamento, disse que o marido era Juiz e que não gostou nada daquela história. Mas chega de papo, o que quero mesmo é sair daqui deste elevador. Estamos presos eu, Dona Maria e o policial do doze e já deu vontade de ir ao banheiro.