*G.K. Chesterton
Havia, na verdade, no universalismo voraz da alma de Stevenson, um amor autêntico pelos objetos inanimados, como não se conhecia desde que São Francisco falou de seu irmão sol e de sua irmã lua. Temos a sensação de que ele estava realmente apaixonado pela bengala de prata que Silver jogou ao sol, pela caixa que Billy Bones deixou no “Admiral Benhow”, pela faca que Wicks enfiou na mesa com a própria mão. Sempre encontramos em seu trabalho uma angularidade nítida que nos lembra que ele gostava de cortar madeira com machado […].
A ideia que dá coerência a toda a variada obra de Stevenson é que a fantasia ou visão das possibilidades das coisas era muito mais importante do que simples acontecimentos. Essa coisa era a alma da nossa vida; o outro, o corpo; e dos dois, a alma era a mais preciosa. O germe de todas as suas histórias reside na ideia de que cada paisagem e cada cenário tem uma alma e a alma é uma história. Diante do muro em ruínas de um pomar podemos saber que ninguém o frequenta, exceto uma velha cozinheira. Mas tudo existe na alma humana. Esse jardim cresce em nossas mentes e contém o templo e o cenário onde uma menina, um poeta maltrapilho e um fazendeiro maluco se encontram por um estranho acaso. Stevenson representa a concepção de que as ideias são acontecimentos verdadeiros, que as nossas fantasias são as nossas verdadeiras aventuras. Pensar numa vaca com asas é essencialmente o mesmo que ter visto uma. E esta é a razão da enorme diversidade das suas narrativas. Tive que fazer uma história tão rica quanto um pôr do sol cor de rubi, e outra tão cinza quanto um catavento velho, porque a história era a alma, ou melhor, o significado da visão física.
G.K. Chesterton
Vários tipos