*WG Sebald
Acredito que a ficção que não reconhece a incerteza do próprio narrador é uma forma de impostura que acho muito, muito difícil de assumir. Qualquer forma de escrita do autor em que o narrador já se estabeleça previamente como ajudante de palco e diretor, juiz e executor de um texto, considero inaceitável de alguma forma. Não consigo ler livros assim […].
Se nos referirmos a Jane Austen, queremos dizer um mundo no qual havia regras de propriedade que todos aceitavam. Se temos um mundo no qual as regras são claras, e no qual sabemos quando a transgressão começa, acho que é legítimo, nesse contexto, ser um contador de histórias que sabe quais são as regras e que sabe as respostas para certas perguntas. Mas acredito que essas certezas foram tiradas de nós ao longo da história.
Conversa de WG Sebald com James Wood
Os mecanismos da ficção
Foto: WG Sebald