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Nossos maiores gênios

Articulista do correio do Povo e autor de 27 livros, formado em História e Jornalismo, escolhe Aleijadinho, Machado de Assis e Pelé como gênios da raça e explica porquê. Coincidentemente, todos negros, o que põe por terra argumentos da esquerda racista e discricionária.

Juremir Machado da Silva

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Aprendi com meus amigos do esporte o quanto a resposta muda de acordo com a forma da pergunta: melhor jogador ou mais importante para um time? Nem sempre o melhor é o mais importante. Quando, porém, melhor e mais importante se reúnem na mesma pessoa temos o extraordinário esculpido. Quem foram os maiores gênios brasileiros? Outro modo de perguntar: quem são as nossas personalidades mais incontornáveis pela relevância no que fizeram e pela repercussão através do tempo e do espaço? As minhas escolhas são imediatas: Aleijadinho, Machado de Assis e Pelé.

Se a lista for mais ampla, posso acrescentar Garrincha, Lima Barreto, Tom Jobim, Oscar Niemayer, Guimarães Rosa, Chico Buarque, Caetano Veloso, Carlos Drummond de Andrade, Gilberto Gil, Ayrton Senna e tantos outros. A partir do quarto nome, dá para admitir divergência na posição a ocupar numa classificação arriscada. Os três primeiros, contudo, me parecem inquestionáveis. Pelé domina o mundo com a sua genialidade futebolística. Tem números e gestos. Machado de Assis deveria ser tão famoso no mundo quanto Dostoievski ou Flaubert.

Tenho relido os seus livros e fico a cada linha embasbacado. Ele antecipou tudo o que se chamaria de literatura moderna, pós-moderna e hipermoderna. Dialogava com o leitor, fazia metalinguagem, ironizava, esbanjava leveza e ria de si mesmo. O nome de Pelé é quase tão famoso por toda parte quanto o do Brasil. Ou mais? Machado de Assis não tem a mesma visibilidade universal. Tem, porém, o mesmo talento. O que sonha um jovem escritor que não seja afetado pela mania modernista de entortar todas as frases? Escrever como Machado.

Aleijadinho é um caso especial. Talvez poucos, no grande público, saibam o nome dele no exterior. Quantos, no entanto, viajam ao Brasil para ver as suas obras nos territórios barrocos de Minas Gerais? Na primeira vez que vi os profetas em Congonhas, no longínquo ano de 1983, fiquei pasmo com a beleza. Quando encontrei o livro da historiadora Isolde Helena Brans Venturelli, “Profetas ou conjurados”, sustentando que por trás de cada figura bíblica do adro da igreja de Bom Jesus de Matosinhos estavam inconfidentes da revolta contra a insaciável exploração da metrópole, caí de costas: beleza, talento, astúcia e resistência em cada obra de arte. Se for pensar em como o artista sofreu, doente que era, para produzir, aí fica espantoso.

Aleijadinho morreu em 1814. Foi um homem do século XVIII nas Minas Gerais do ciclo do ouro. Machado de Assis, figura marginal da corte, do Rio de Janeiro imperial e depois republicano, faleceu em 1908 sem dinheiro, mas deixando um patrimônio: seus livros. O seu tempo foi o século XIX. Mineiro, cultivado em Santos, Pelé, cidadão do mundo, está vivo para nossa alegria e orgulho total. Realizou a sua obra no século XX. Três séculos, três campos, três artes, três gênios. Pintura, escultura, literatura e futebol. Da arte sagrada, passando pela arte profana ao entretenimento de massa com talentos singulares. Três gigantes, três mestres, três enormes criadores, três negros.