*Franklin Jorge
Durante mais de uma década como integrante do nosso corpo diplomático em Berlim, o acreano Francisco Chagas Freitas colecionou mais de 1.200 obras produzidas por uma plêiade de artistas vítimas do socialismo implantado no lado Oriental da Alemanha até a queda do muro que reunificou o país dividido pelo regime soviético. Para reservar e gerir o acervo excepcional foi criado um Instituto em Brasília, o Ipac.
As obras expostas resultam de uma seleção feita pela diretora do Museu de Arte Moderna de Cottbus, em Brandemburgo, Ulrike Kremeier, que veio a Brasília para selecionar as obras expostas. Essa mostra dá a medida de grandeza da arte produzida por artistas da antiga República Democrática Alemã, que, em verdade, nada tinha de democrática… A curadoria é da brasileira Tereza de Arruda [que aparece que na foto em frente ao museu].
Um dos atrativos, além do talento dos artistas, era o preço das obras, quase uma insignificância. Como o resto da população a maioria dos artistas vivia em um estado crônico de penúria, sem mercado e sem perspectivas de libertação do jugo de Moscou e de seus critérios estéticos restritivos e em desacordo com o espirito libertário que geralmente orienta os genuínos criadores de obras significativas. Uma coisa, como me disse certa vez o grande poeta e escritor Walmir Ayala, é reverenciar Jesus Cristo; outra, submeter-se ao culto de personalidades stalinistas. Logo Chagas Freitas se tornou um importante colecionador e amigo desse grupo de artistas que se tornaria, alguns anos depois, representativo da arte alemã contemporânea.
Embora a Coleção Francisco Chagas Freitas tenha inspirado a produção de documentários e livros, até recentemente as obras que constituem seu hoje valioso acervo jamais havia sido exposto em sua totalidade, como faz agora o Museu de Arte Moderna de Cottbus, em Brandemburgo, tem despertado o interesse do público e da crítica.
Por sua sensibilidade e argúcia, expressas em seu apoio a artistas espoliados pelo comunismo, Francisco Chagas Freitas tornou-se uma referencia na cultura da Alemanha reunificada. Seu nome passa a fazer parte da história da arte em um país rico de valores.