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O belo em Giotto

Giotto di Bondone, pintor italiano antecipou muitas características do Renascimento. Sua obra é uma ruptura estética com a pintura icônica bizantina.

*Alexsandro Alves

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O que mais chama a atenção em Giotto di Bondone (1267-1337), pintor italiano, é a sua busca pela humanização da forma e da expressão, bem como a naturalidade de seus movimentos.

O mestre rompeu com a pintura bizantina, de caráter estático, icônico, como o Mosaico de Santa Sofia, abaixo,

para inaugurar na pintura a entrada do homem. Cada vez mais próximo desse ideal, é considerado o precursor do Renascimento.

Quando os pré-rafaelitas, no século XIX, se voltam contra Rafael Sanzio, é em Giotto que buscam a justificação de seu movimento.

Mas a obra de Giotto não se presta ao misticismo daquele movimento oitocentista. A arte do italiano é uma tentativa bem sucedida de representar o homem na carne, e para isso, a cor se torna o elemento central.

Afresco de Giotto na Cappella degli Scrovegni, Pádua (Itália): “O beijo de Judas”

A movimentação da cena é incomum para a época. Giotto estabelece essa movimentação como ponto de ruptura entre a iconoclastia religiosa conforme executada em seu tempo e sua nova arte pictórica. Alia a isso o uso intenso de diferentes cores, outra diferença em relação à arte da geração anterior. A cena não pretende representar um ícone petrificado para adoração. Aqui, temos a sensação de que a contemplação vai escapando do ambiente religioso para se apresentar em outro plano, o estético.

Na pintura bizantina, e medieval de maneira geral, não se trabalha com três planos, falta a perspectiva. Giotto, além disso, estabelece uma interação em um cenário entre as figuras representadas. No Mosaico de Santa Sofia, essa interação é quase nula, parece que os personagens não têm conhecimento da existência de quem está ao seu lado! Quanta diferença em relação à cena que Giotto estabelece.

É exatamente isso. A arte anterior a Giotto representava personagens que mesmo lado a lado, pareciam desconhecer seu vizinho. Giotto os coloca em interação, ele pensa e executa sua pintura como uma cena inteira.

Em suas pinturas o tom severo e religioso é substituído por uma dramatização humanizada do conflito.

Na pintura que se seguiria a de Giotto, é cada vez mais frequente a predileção dos artistas em retratarem mais de uma cena em seus quadros. Há a cena principal, que dá nome ao quadro, mas há sempre outras coisas ocorrendo nos fundos do pintura. Por exemplo, no quadro abaixo, A Virgem, Jesus e João Batista, de datação e autoria incertas, do século XV e atribuída a um aluno de Filippo Lippi (1406-1469):

a cena principal era bastante comum na época: Nossa Senhora com seu filho pequeno e seu sobrinho, o pequeno João Batista. Mas no canto superior direito, ocorre outra cena, vejam o detalhe ampliado abaixo:

um pastor e seu cachorro observam uma figura estranha no ar.

Um quadro que conta duas histórias, Giotto já preparara o caminho:

O casamento místico de São Francisco com Santa Pobreza

Em O casamento místico de São Francisco com Santa Pobreza, além da cena do casamento, uma cena que perturba a proposta geral da pintura pode ser observada na figura do garoto, na parte inferior ao centro, com uma pedra prestes a arremessar contra a noiva.