*Alexsandro Alves
Um dado que sempre me chamou a atenção e sempre me fez ficar com o pé atrás em relação ao movimento negro brasileiro é a forte influência estadunidense nas suas ações e simbolismos.
É como se o movimento negro brasileiro importasse questões raciais dos Estados Unidos para o Brasil. Sobretudo a insistência em livros de Ângela Davis nas bibliografias e citações em programas midiáticos.
A questão é que a problemática de Davis não se insere como modelo explicativo para os problemas raciais do Brasil, e por quê?
Por conta da miscigenação. As questões raciais estadunidenses são, literalmente, preto no branco. O mesmo não ocorre por aqui, onde o colonizador português miscigenou com índios e negros, dando origem a um povo que possui suas próprias especificidades raciais.
Por isso Gilberto Freyre fala de democracia racial, e como toda a democracia, esta também tem seus problemas. E são problemas do Brasil que Davis não abarca.
Um sintoma dessa norte americanização das questões raciais no Brasil é a atual tentativa de apagar o mestiço! E quem apaga o mestiço? O movimento negro e o governo federal.
Eu estava na entrada do Midway e, como sempre, prestando atenção nas conversas alheias. Então, uma mulher, negra, dispara a pérola: não existe isso de mestiço! Ou é branco ou é preto!
Isso é impensável e surreal para o Brasil! A maioria do povo brasileiro é mestiça!
O branco brasileiro é mestiço. O negro brasileiro é mestiço. O índio brasileiro é mestiço. Descontando alguns descendentes das imigrações pós Lei Áurea, alguns índios isolados e quilombolas, a maioria de nosso povo é mestiça.
Qual o sentido de apagar esse termo senão o estímulo a emular uma realidade dos Estados Unidos aqui no Brasil? Não é isso Bourdieu afirma em As artimanhas da razão imperialista, de 2002?
O apagamento do mestiço é o maior ato de racismo desde a primeira chicotada em um corpo preto no pelourinho! É um ato que fere de morte a nossa origem enquanto povo, que falseia nossa peculiar história racial, que apaga nossa memória!
Qual branco, qual negro, qual índio brasileiro pode dizer que não é fruto de miscigenações centenárias que fizeram a pele brasileira variar de cor mais do que a pele do povo de qualquer outra nação? Muito poucos brasileiros.
Segundo dados do IBGE, do censo de 2022, 47% da população brasileira se declara mestiça – o IBGE retirou o termo mestiço e impôs o termo pardo em seu lugar; 43% se declara branca; 9,1% se declara negra e 0,1% se declara indígena. Os dados de 2023 podem ter variações, evidentemente, porém, imagino, não devem ser variações muito significativas.
O IBGE também resolveu unir os dados da população parda (mestiça, apagada) com a negra, num jogo ideológico dito progressista, mas que na verdade é para marcar no Brasil categorias estrangeiras (dos Estados Unidos), assim, o IBGE falseia a população brasileira aproximando-a da dos Estado Unidos: agora, segundo o IBGE, esse país mestiço é: 56,1% negro e 43% branco; onde na nossa História se viu isso?
Falsificação e racismo é o resultado, pois a maioria da população brasileira é mestiça.