*Franklin Jorge
A política, no Rio Grande do Norte, tem alguns personagens peculiares.
Como o Coronel Quincó, um tipo baixinho e gordalhão, sempre à serviço da oligarquia criada sob o prestígio de Pedro Velho, controlada por seu irmão
Alberto Maranhão e Sucessores, sendo o último desse bloco o escritor Antônio de Souza. Homem simplório, da Força Militar do Rio Grande do Norte, sempre às expensas de um governante. No governo do Desembargador Joaquim Ferreira Chaves, fantasiado de mulher vestida de longa saia franzida, a bunda aumentada por tufos de estopa, lenço colorido na cabeça, comandava os soldados disfarçados que, sob as suas ordens, depredavam tudo e empastelavam os tipos, misturando milhares de letras em tamanhos e diferentes estilos, tornando uma tarefa heroica separar e classificar o alfabeto e seus sinais privativos.
Afora tais desmandos, era homem afável e humilde, capaz de cativar um ou outro por sua atenção e gentileza discreta e calorosa. Quando o Presidente Afonso Pena visitou Natal, o governador designou o famigerado e habilidoso Capitão Quincó para servir-lhe como Ajudante de Ordens. Encerrando a visita oficial, Afonso Pena embarcou em vagão especial até o entroncamento ferroviário de Nova Cruz, formou à sua volta seus assessores e agradeceu ao Coronel Quincó, tanta presteza e satisfação de servir, merecia reconhecimento e aplausos.
Acanhado, de cabeça baixa, o boné apertado contra o peito e olhos fixos no chão, balbuciava, impando de orgulho mal disfarçado:
– Quequé isso, meu Presidente. Quanta bondade e gentileza de Vossa Excelência… Eu sou só um bosta…
Pau para toda obra e piores achincalhes contra os adversários.
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