*Paulo Martins
O comunismo da China, só não vê quem não quer, é feito para inglês ver. Não há no mundo hodierno povo mais selvagemente capitalista que os conterrâneos de Confúcio.
Aliás, o drama americano é exatamente este: os EUA sabem que a ampulheta foi virada e serão suplantados pela agenda econômica dos amarelos. A efeméride está lá, marcada no calendário.
Ditadura ultraconservadora, mas respaldada no apoio leniente da maior população do planeta, o império chinês se dá ao luxo de, ora veja, dizer-se comunista!…
Tudo não passa de alegoria retórica, porém. Na prática, o comunismo chinês é tão válido quanto legítima é a palavra da Rainha de Windsor sobre os destinos políticos do Reino Unido…
Que se saiba, o que ainda subsistia de comunismo no mundo ruiu com os destroços do Muro de Berlim faz mais de três décadas – para ser mais preciso, na noite de 9 para 10 de novembro de 1989.
Guerra Fria, Glasnost, Perestroika, tudo isso são páginas viradas. E não há mais ambiente – moral e tampouco político – para uma reviravolta no tempo.
A queda do Muro da Vergonha (aquele que caiu de podre) acelerou o fim dos regimes comunistas tradicionais e foi crucial para o surgimento do mundo globalizado que temos hoje.
Habituada contudo a posar de civilização mais atrasada das galáxias, a América Latina ainda cultiva o prazer mórbido de conservar em formol os fantasmas históricos de sua paranoia totalitária.
Tanto à esquerda como à direita, diga-se de passagem. Não sem razão, radicais mostram dificuldades cognitivas para perceber quando e como erram.
Pode parecer estranho, mas extremistas têm maior confiança em seu próprio julgamento. Quem sabe é porque, como afirmava o bruxo Golbery do Couto e Silva, “os extremos estão mais próximos entre si do que em relação ao centro”?
