*Gerinaldo Moura da Silva
O antigo Engenho Nascença foi fundado pelo senhor Hermínio Leopoldino Cavalcanti, basicamente no início do século XX, tendo em vista as características arquitetônicas da fachada do casarão senhorial, que mesmo guardando características do estilo Art Déco, não se pode afirmar que tenha seguido fielmente essa tendência arquitetônica, pois é uma construção eclética, como a maioria dos prédios construídos na cidade e no vale do Ceará-Mirim, públicos ou particulares.
Provavelmente, a construção original sofreu alterações nas suas fachadas, pois existe um grande terraço, que era a marca das casas – grandes cujos sustentáculos são as colunas muito empregadas nas antigas construções gregas.
O Art Déco é um estilo artístico que surgiu na Europa nos anos 20 e influenciou as artes, moda, cinema, arquitetura, design de interiores, entre outras áreas. Dentre as suas características estão o uso de formas geométricas, ornamentos e design abstrato.
E é isto que podemos perceber nas duas fachadas da casa-grande, como as referências já citadas, bastante ecléticas. Afinal, foi influenciado por movimentos distintos, como o cubismo, representado pela geometrização das janelas e portas e suas formas abstratas que se encontram no alto da casa, os desenhos decorativos que circundam as janelas e nos frontões.
Pela arquitetura eclética mais voltada para a Art Déco, presume-se que o casarão esteja aproximadamente com 102 (cento e dois) anos, pois esse estilo marcou a época chamada pelos historiadores de “Período do Entre Guerras”, que marcou a Europa a partir de 1910, mas seu auge é entre 1920 a 1939.
O Engenho Nascença foi construído em terras onde se encontra a nascente do Rio Água Azul, principal afluente do Rio Ceará-Mirim. Era um pequeno engenho de almanjarras, movido inicialmente a tração animal, conforme cita Júlio Senna em seu livro Ceará-Mirim exemplo nacional, página 166.
“Pequenos engenhos: Barra de levada, Cajazeiras, Elisa Varela, Jacoca, Santiago (Maxaranguape), Peixoto (Maxaranguape), Nascença (T. animal), Saco (T. animal), Santa Maria (T. animal), Santa Rita (T. animal)”.
Toda a estrutura do engenho permanece em boas condições bem como da casa-grande, formando um belo conjunto arquitetônico, onde se destaca a beleza de uma natureza viva e pujante, o verdor das árvores e de uma variedade de plantas fortemente presente, formando um cenário paradisíaco e cinematográfico.
O Engenho Nascença ficou em atividade até a segunda metade do século XX e era bastante produtivo, pois segundo o IAA – Instituto do Açúcar e do Álcool, na safra de 1925, o engenho produziu 800 sacos de açúcar e na safra de 1936/1937, quando houve uma grande crise no setor açucareiro, Nascença produziu 733 (setecentos e trinta e três) sacos de 60 (sessenta) quilos de açúcar mascavo.
Ainda de acordo com Júlio Senna, (Ceará-Mirim exemplo nacional vol.II pág. 168), aconteceu uma redução no número de engenhos produzindo no vale do Ceará-Mirim, onde grande parte ficou de fogo morto. O período crítico se estendeu de 1930 a 1958, quando restavam apenas 07 (sete) engenhos com boa produção: Capela, Carnaubal, Mucuripe, Nascença, Pedregulho, Santa Rita e Verde Nasce.
Provavelmente o ano de 1958 tenha sido o marco para o Engenho Nascença ficar de fogo morto, e segundo o senhor Carlos Aurélio Cavalcanti, após a morte do seu fundador Hermínio Leopoldino Cavalcanti, o mesmo ficou em poder dos herdeiros: Nestor Leopoldino Cavalcanti (funcionário do antigo Ginásio Industrial de Ceará-Mirim), Valdomiro Leopoldino Cavalcanti, Inaldir Leopoldino Cavalcanti, Oscar Leopoldino Cavalcanti e Nelsa Leopoldino Cavalcanti.
Na década de 1960, o ex-prefeito de Ceará-Mirim, Dr. Roberto Pereira Varela adquiriu a propriedade dos irmãos Leopoldino Cavalcanti e passou a administrá-la com o nome de Fazenda Nascença, preservando todo seu conjunto arquitetônico, bem como implementando diversas melhorias, tanto na casa grande quanto no entorno, chegando a construir uma agradável área de lazer às margens da nascente, que contava também com um trapiche de madeira.
Atualmente, a Fazenda Nascença continua em poder da Família Varela, sendo administrada pelos filhos do patriarca Dr. Roberto Pereira Varela, tendo a Dra. Sheilla Varela como interlocutora entre os irmãos e as pessoas que desejarem agendar o bucólico e aprazível espaço para ensaios fotográficos e/ou alguma outra atividade sociocultural.