*Jorge Luis Borges
Acho que Emerson escreveu em algum lugar que uma biblioteca é uma espécie de caverna mágica cheia de mortos. E esses falecidos podem renascer, podem ser trazidos de volta à vida quando abrirmos as suas páginas. Falando do Bispo Berkeley, lembro-me que ele escreveu que o sabor da maçã não está na própria maçã – a maçã não tem sabor em si – nem na boca de quem a come. Requer contato entre os dois. A mesma coisa acontece com um livro ou com uma coleção de livros, com uma biblioteca. Bem, o que é um livro em si? Um livro é um objeto físico em um mundo de objetos físicos. É um conjunto de símbolos mortos. E então chega o leitor certo, e as palavras – ou melhor, a poesia que as palavras escondem, já que as palavras por si só são meros símbolos – ganham vida, e testemunhamos uma ressurreição do mundo.
Jorge Luis Borges
O enigma da poesia