*Franklin Jorge
José Vieira Fazenda [1847-1917], médico, homem honrado e caridoso, anotou a história do dia a dia do bairro, repercutindo a vida na metrópole, capital do reino. Morava na antiga Rua do Cotovello, que mudaria, por seu zelo, para Rua de Santa Luzia, no Centro Histórico e administrativo, na mesma casa em que nasceu e morreu.
Visitava casa por casa, de referência onde houvesse um doente. O Rio subsistiu no apego de Vieira Fazenda à vida e à celebração da cidade que não parava de crescer e multiplicar-se, como um bom Cirineu que carregou, satisfeito, sua cruz: escrever, escrever a comédia humana, a vida dos monumentos, as personagens, os logradouros.
Era homem benquisto por todos. Conversava com todo mundo, sem prevenção de origem ou qualidade. Quando chegava trazia o feriado, a satisfação, a cordialidade e a amizade que se faz com o tempo. Não há pressa nesse mundo.
Gostava de anotar. Não perdia um lance. E ali estava, anotando, conversando, perguntando e ouvindo. justificando, assim, sua existência, a partir dessas notas que se tornarão preciosas. Ninguém se reportou melhor ao Rio de Janeiro do que Vieira Fazenda, nome conceituado, modesto e criterioso, membro do Instituto Histórico e Geográfico. Colaborador de sua revista.
Quereis conhecer a alma do Rio? Quereis? Lê Vieira Fazenda.
Eis o que ele nos c1onta da antiga Rua do Cotovelo, na freguesia de Santa Luzia:
“Rua do Cotovello.
“Escritores e poetas. em prosa ou verso têm celebrado esta leal e heroica cidade. Porque não poderia cantar a rua onde nasci?
Espantalho constante das nuctoridades de São José, quartel general de capoeiras, de rolos, de facadas e de lutas.
“Desaparece a prainha de D. Manoel I, quanta glória gozei! O fim da ponte das barcas se Niterói e Botafogo que constituíam atrações do antigo Beco do Cotovello, abrigando o que havia de encantador ver as senhoras ostentando os vestidos nesgados, mangas de presunto; os chales de Tonkin, os sapatos sem salto, com fitas cruzadas no peito do pé e na parte inferior.”
Louva a governança do Conde dos Arcos. E mais tarde as “immensas” saias-balão.