*Franklin Jorge
Quando todos achávamos, em nossa ignorância, que o presidente perpétuo da Academia Norte-riograndense de Letras havia esgotado sua capacidade de nos assombrar com ideias estapafúrdias, eis que ele elege Fábio Ojuara, fundador e presidente da Associação de Cornos do Ceará-Mirim, para “coroar” a estátua do aeronauta Augusto Severo, na praça homônima, localizada na Ribeira desta cidade de reis. Ignora-se os critérios usados pelo imortal para achacar o filho de Macaíba com homenagem que certamente há de exaltar a estética labrogeira professada pelo sublime autor de Lua quatro vezes sol.
É verdade que, quando reitor da UFRN, Diógenes se empenhou em reconhecer e proclamar o “notório saber” do Bispo de Taipu com o intuito de oferecer-lhe uma cátedra universitária, mas acabou sendo dissuadido dessa ideia que feria o bom senso e faria dele, o Diógenes nada sábio, uma figura irremediavelmente folclórica, como se já não lhe bastasse a vaidade doentia e suas tantas asnices características. Como defender a ideia sumamente desacreditada de que o escritor e aeronauta francês Saint-Exupéry teria plantado o baobá da rua São José, em Lagoa Seca,
Ninguém entre nós pelejou mais para ser reconhecido como intelectual e homme de lettres do que o nosso Diógenes municipal. Desde o surrado e questionável axioma atribuído por ele a seu pai, comerciante em Nova Cruz, que lhe teria dito ser o escritor Luís da Câmara Cascudo um Amazonas de saber enquanto os demais escritores potiguares seriam apenas meros afluentes ou igarapés.
Desde a sua deplorável estreia em livro [Lua quatro vezes sol], quando revelou em versos canhestros sua índole antiecológica até aquele ajaezado burro mongol que esbarrou à porta do Parnaso éDiógenes como que a expressão do nosso provincianismo e um empedernido matador e comedor de corações de passarinhos. Propagandista de uma estética inquestionavelmente grotesca e antipoética que haverá de persegui-lo pelo resto da vida como uma sombra assustadora e nada lisonjeira.
Não sei porque tudo nele me parece forçado e artificial, como o sorriso de vendedor de creme dental. Algo, enfim, que não é absolutamente normal, como a amizade que supostamente o teria ligado a Cascudo e ao nobelino chileno Pablo Neruda ao lado de quem, em um banquinho ficava horas contemplando o mar de Isla Negra, segundo o imaginativo jornalista Gaudêncio Torquato. Do primeiro, além de aluno na Faculdade de Direito, teria sido quase tudo: desde uma espécie de filho a secretário e valete de chambre, além de passar por uma paródia de Ezra Pound em relação a T. S. Eliot: um educador de gênios. Alguém que emprestou asas ao autor de Civilização e Cultura. Sem dúvida, Cascudo não teria sido Cascudo sem a contribuição de Cunha Lima, esse vaniloquente exagerador da realidade.
Vaidoso como um filho de barbeiro, desde cedo assumiu a persona de pai da cultura potiguar e autor de ideias mirabolantes que em Natal dizem ser “coisas de Diógenes”, ou seja, coisas que o bom-senso refuta e não assina embaixo. Como, na condição de botânico, proclamar por vontade própria a Chanana como a flor símbolo de Natal. Não a admira, pois, que queira fazer de Fábio Ojuara um solidéu de penicos para coroar, na esquecida Ribeira, a estátua de Augusto Severo, imortalizado em uma epopeia humorística que precisa ser resgatada e publicada para deleite dos leitores.
É preciso paciência e boa vontade para levar o professor de Cascudo a sério.