*Napoleão Veras
Jamais acreditei que Neymar voltasse a jogar na Copa após a contusão na partida contra a Sérvia.
As notícias só faziam aumentar a desconfiança e o desalento. Médico monossilábico. Atleta debaixo de 7 chaves. Momento sem esperança, deprê.
Sabia tão somente que ele varava madrugadas, dormia e acordava nas macas da fisioterapia. Submetia-se ainda aos 140 graus negativos de moderna câmara de crioterapia.
De repente a notícia risca os céus da aldeia global: o artista da pelota estaria de volta contra a Coreia do Sul. E assim foi. Surpreendeu pela aura, cautela, liderança, e alento para uma equipe que respira o seu oxigenio.
Na sua derradeira partida, contra a Croácia, senti de fato que não era o rei ‘El Cid’, que cheguei a imaginar. Estava inteiro, ou superara todos os limites para assim parecer.
Corria, acelerava, desacelerava, trincava os dentes — ali o guerreiro de sempre —, indomável, estilista da gorduchinha, sem par.
Quando sentiu que não havia como superar aquele talentoso meio de campo e as linhas de ferro dos zagueiros ex-iuguslavos, resolveu partir pra pintura, pra arte.
Sai com a bola dominada da intermediária, avança rápido pelo meio improvável, adentra a maranha de adversários (um pecado para os padrões do futebol pebolim de hoje), tabela em velocidade com Rodrigo, com Paquetá, deixa tonta metade da zaga, não se abala com o zagueiro louro descomunal que o acossa, ultrapassa-o, já de frente pro goleiro-muralha-verde o ignora, dribla-o com estilo e, imaginando que o zagueirão pudesse se atirar para interceptar a esfera (como realmente desejou), estufa antes sem piedade o véu de noiva nas alturas, assinalando um dos mais belos gols da copa.
Instantes depois no meio do gramado queixava-se desolado dos companheiros da zaga: mas vocês não precisavam avançar… faltavam só 5 minutos … repetia o que qualquer peladeiro sabe de nascimento. Depois de gol, vantagem, instantes finais, qualquer time de várzea fecha-se instintivamente — aí as consagradas duas linhas de 4, chutões, laterais, cartões amarelos, vermelhos, o escambau. Jamais… tomar gol.
Pela exuberância do grande atleta fica um gosto de frustração – como não?
Sua entrega comove, sempre comoveu. Seu amor à seleção brasileira é objeto de admiração para quem vive além de nossas fronteiras, principalmente.
A imprensa esportiva nacional sectária sempre o alfinetou, comparando-o com outros atletas como se comparasse laranjas de um mesmo saco, ou comemorou sua contusão, ou decretou a independência da seleção em relação ao craque.
Talvez o mais sensato e honesto seria mesmo se conformar que o melhor do futebol brasileiro está em Neymar.
Entre outras, maior artilheiro da seleção canarinho de todos os tempos, aos 30 anos – ao lado de Pelé.
Deu pra ti – como queriam Kleiton e Kledir.