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O fazedor Iaperi Araújo

Fundador de Navegos reflete sobre a verdadeira essência do artista, composta de entusiasmo e realizações e ao fazê-lo presta homenagem ao talento do múltiplo artista Iaperi Araújo, autor de estampas para canecas produzidas pela Feedback, mantenedora desta revista digital pluralista e colaborativa que pretende ser o braço midiático de um projeto cultural mais abrangente, voltado para a apreciação e divulgação da verdadeira cultura, ou seja, da cultura não-oficial.

*Franklin Jorge

Disse Baudelaire que o entusiasmo é o que caracteriza e distingue o artista. O que explica, a meu ver, a contagiante vitalidade de Iaperi Araújo, que atua em diversas frentes ou, melhor, utiliza diversas formas para expressar a sua criatividade.

Durante anos me mantive afastado dele, vítimas que fomos de uma intriga provinciana que me causou grande prejuízo, ao privar-me de sua convivência e amizade. Felizmente, embora tardiamente, passamos de nos relacionarmos, trocando e ideia e colaborações.

Em 2013, ao retornar ao comando da Pinacoteca do Estado, instituições que eu fundara em 1983, quando trabalhava na Fundação José Augusto e não tinha nada para fazer e me desterraram para o que devia ser um centro Cultural a instalar-se, como parte das políticas culturais do Governo Federal, no antigo prédio de belas linhas clássicas onde por muito tempo se instalara o comando do Quartel General, atualmente transformado em Memorial Câmara Cascudo, no Centro Histórico de Natal. Foi lá, naquele isolamento e na companhia de João Maria Marcelino – que anos depois se tornaria um grande diretor teatral – demos os primeiros passos para a criação de uma pinacoteca que preservasse nossa memória visual e desse visualidade aos nossos artistas de talentos. Os primeiros quadros foram todos doados por mim, em muitos casos, para não parecer que eu queria mostrar-me, em nome dos próprios artistas. Apenas doei em meu próprio nome da Coleção Calasans Neto, conjunto de gravuras que ele fizera para ilustrar o romance Tereza Batista cansada de guerra, de Jorge Amado, nosso amigo incomum.

Mas, voltemos a Iaperi, escritor e artista plástico dominado pelo entusiasmo que o faz colaborar e engrandecer a vida cultural de cidade, tão pobre de homens, ou seja, de pessoas não apenas esclarecidas mas capazes de doar-se pelo bem comum. Uma pessoa, portanto, capaz de fazer pelos outros e para as gerações futuras, pensando e fazendo segundo a definição do artista por Jorge Luis Borges, autor de um livro pouco divulgado, El hacedor. Porque o artista genuíno, animado pelo entusiasmo baudelairiano. É aquele que faz, que produz, que deixa uma marca – sua marca -, marcando às vezes sua época e seu tempo tão breve entre os homens.

Escrevo, portanto, para penitenciar-me de minha má escolha, ao privar-me da amizade de Iaperi que se tornou, já no meu fim de vida, tão importante para mim, que quero ter o meu nome ligado ao seu através de uma obra em comum. Como essas canecas que estamos produzindo juntos, ele e eu e que ele, ao posta-las em sua página no Facebook, desencadeou uma onda de encomendas dessas canecas que imaginei poderiam gerar recursos para financiar meus projetos culturais, a começar pela Navegos, revista digital colaborativa que parece estar se tornando uma leitura cultural e politicamente importante, dentro e fora do nosso estado, graças à abolição das fronteiras geográficas imposta pelo uso generalizado da Internet, a mais democráticas das mídias, presente onde há vida humana e que não pode ser controlada por políticos famélicos de poder e de mando.

Autor de várias estampas exclusivas para as canecas que produzimos e para as camisetas, bolsas e sacolas que produziremos com esse intuito de tornar acessível ao público minha às vezes caudalosa produção e ao reconhecimento dos nossos talentos, que desejamos tratar com respeito e discernimento, para desta forma orientarmos nossos gestores culturais e governantes pelos verdadeiros caminhos da Cultura, que é, na verdade, a soma da criação e do fazer de todos.