*Edek Kowalewski
Era o distante ano de 1947, quando a DC tinha um título chamado Real Fact Comics (Quadrinhos de Fatos Reais). Nela foram mostradas as proezas de diversas figuras históricas, como Houdini, P.T. Barnum e H.G. Wells. Curiosamente temos até a história de Bob Kane, criador do Batman (embora muito falseada, omitindo completamente a participação de Bill Finger e Jerry Robinson em suas criações).
Porém, no número 6, nós seríamos apresentados a uma figura não histórica: Tommy Tomorrow, ou pelo menos ainda não, se puder entender a ironia a seguir. A história (intitulada “O Colombo do Espaço”, epíteto que pertenceria ao herói Chris KL-99 alguns anos depois) narrava como um cadete de programa espacial passou por um treinamento rígido (semelhante ao treinamento que os astronautas têm na NASA) e em 1960 se tornou o primeiro homem a chegar a Marte, conforme demonstra o registro ao lado.
Mas, o caro leitor que tenha um mínimo de conhecimento histórico e não seja um negacionista ou intelectualmente desonesto, com certeza deve perceber que há alguma coisa errada aqui. Nós já estamos em 2023 e ainda não houve viagens tripuladas para Marte; somente sondas. Somente em 1969 é que o americano Neil Armstrong deu “um pequeno passo para um homem e um grande salto para a humanidade”.
Falando em viajar para aquela grande esfera de queijo, Tommy também esteve lá na edição Real Fact # 8. No entanto relembramos que a história de Tommy foi escrita em 1947 e apesar da revista ser ironicamente chamada Real Fact Comics, a história tratava de ficção científica para o que se imaginava até então.
As primeiras histórias de Tommy Tomorrow o mostravam em missões de exploração espacial. Não haviam reais vilões e os planetas do nosso sistema solar mostravam vida (ou ao menos sinais de que um dia houve vida como na primeira história).
Ainda em Real Fact o ano salta para 1988 e descobrimos que a terra está condenada (novidade). Gotham se torna a capital dos 9 planetas (Se Plutão já foi planeta, fiquemos só com a banda). Vemos que a humanidade usa roupas com um look de filmes de ficção científica; A estória menciona que o herói é casado e tem ao menos dois filhos (a cônjuge e os filhos nunca foram mostrados). Ele ostenta o ranking de coronel e faz parte de uma equipe chamada Planeteers. A casa das aventuras de Tomorrow passa a ser então a Action Comics, onde divide o título com Superman, Zatara e Congo Bill.
Na edição #129, um fenômeno solar ameaça cegar toda a população. O herói deve encontrar o elemento número 99 para que possa ser borrifado na atmosfera criando uma camada protetora. Em nosso mundo tal elemento já foi descoberto bem antes de 1986 é o Einsteinium. Mas borrifá-lo sobre a atmosfera não daria nenhuma proteção; suponho que apenas aumentaria os índices de câncer em seres humanos.
As estórias de Tommy passaram de mera exploração espacial para aventuras onde ele era um patrulheiro, desbaratando criminosos pelo sistema solar. Nas horas vagas são mostradas algumas das tecnologias que o futuro nos reserva: robôs jogadores de futebol; acrobatas que fazem perícias sobre-humanas em gravidade zero; o rádio anel, que permite comunicação com a central dos Planeteers; entre outros. Confira abaixo nas imagens:
No caso do rádio anel já existem hoje dispositivos semelhantes onde um anel faz interface com um celular; Não temos nada na ficção científica daqueles anos de outrora que previssem a internet ou os celulares modernos.
Conforme passam-se os anos, as histórias do herói são de novo chutadas para um futuro mais distante, dessa vez o século 21.Pequenas alterações no histórico de Tommy o fazem solteiro e tendo sido criado num orfanato espacial.
No Brasil as estórias de Tommy foram publicadas na saudosa Ebal onde o nome do herói foi adaptado para Léo Futuro. A Crise nas Infinitas Terras veio e nela é dito que Tommy Tomorrow seria uma versão alternativa de Kamandi, personagem de Jack Kirby.
Infelizmente Tommy foi meio deixado de lado no Pós- crise. Tivemos a excelente Twilight, (traduzido como Crepúsculo, que nada têm a ver com o filme vampiresco responsável por orgasmos femininos mundo afora), uma minissérie por Howard Chaykin, que reúne diversos personagens de ficção científica da DC numa história conjunta, incluindo os Knights of the Galaxy, Star Hawkins e ILDA, Manhunter 2070, o Taxista Espacial, o Museu Espacial, entre outros. E curiosamente nessa história Tommy Tomorrow é um vilão.
Twilight foi uma tentativa de adaptar esses personagens para o Pós-Crise. No entanto, os desdobramentos da trama não foram levados em consideração no cânone e hoje essa minissérie é aparentemente considerada parte de uma realidade alternativa. Veríamos Tommy, agora promovido a Major, vistoriando as ações do anti-herói Magog, nas páginas do título do mesmo. Em breve período Tomorrow se comporta mais como o Capitão Kirk de Star Trek, tendo a sua disposição uma tripulação oriunda dos mais variados planetas.
Os novos 52 também têm uma versão de Tomorrow, porém muito distante do brilho inicial que o personagem teve. E assim caminha Tomorrow, com notas esquecidas em sua grande ópera espacial.