Franklin Jorge
Surgiu, por volta de 1977, em torno da coluna diária que assinava no jornal Tribuna dos Norte. Um grupo heterogêneo cujos integrantes e membros tinham em comum o compromisso de levar a arte à sério. Queríamos revelar ao Brasil a vocação de Natal para o cosmopolitismo. Para a pluralidade. Para a liberdade.
Dia da Criação, minha coluna que se publicava de terça a domingo, dava o que falar. Não havia então Internet. Não havia celulares. Ainda líamos jornais e revistas. A cidade respirava certo ar cultural, animada por novos e genuínos talentos. Muitas exposições de boa arte, embora sem o financeiro e produtivo ideal. Tínhamos regularmente exposições na Galeria de Arte da Biblioteca Estadual Luís da Câmara Cascudo, que atraiam os jovens em grande número.
Sentíamo-nos, naquela atmosfera de congraçamento, animados e ativismo saudável, pintando, escrevendo, atuando, confiantes, sonhando que seriamos com abnegação e generosidade, em um futuro próximo, importante endereço da Cultura Brasileira contemporânea.
Não afirmo por vaidade, mas para cooperar com futuros pesquisadores da nossa sofrida Cultura Potiguar com os indícios e registros necessários a um trabalho bem orientado, que os mestres atuais da pintura, por exemplo, são remanescentes já reconhecidos e consagrados dos enfant`s terribles daquela remota quadra dos anos 70-80, até que a Transvanguarda surgiu e liquidou de vez as artes visuais, enterrando-as em cova rasa. Como, desde então, se vê por toda a parte.
O Grupo Cobra não tinha Estatutos. Nem formalidades tradicionais. Ansiávamos ser absolutamente Modernos e contribuir para a formação de um pensamento cosmopolita que nos fizesse, por nossa criação, contemporâneos do Futuro. Encontrávamo-nos em qualquer lugar. Eu, especialmente, frequentava os ateliês de Fernando Gurgel e Diniz Grilo. Gostava de vê-los pintar. Riamo-nos frequentemente da Comedia humana natalense.
Respeitávamos o mérito e a contribuição dos que nos precederam e puderam fazer, pela Cultura da Cidade, o que intentávamos agora com novos critérios e visões do mundo.
Como surgiu, despareceu. Sem registros, excetos aqueles que eu fazia n´O Dia da criação. Mas existiu e foi atuante o Grupo Cobra, cujo nome – repita-se – aludia, não ao famoso grupo homônimo holandês, polêmico e amealhador de prêmio. Mas ao ‘veneno’ que, dizia-se então, por aí, que eu destilava impiedosamente em minhas críticas ao Oficialismo potiguar e aos criadores medíocres.
Reuníamo-nos em qualquer parte. Como cidadãos do mundo. Riamo-nos muito, sobretudo dos relatos espirituosos de Fernando Gurgel. Gilson Nascimento, dândi movido por um capeta. Diniz Grilo, que não era do grupo, mas se dizia em seu verbete um participante.
Fizemos mostras coletivas fora. Creio que, nesse âmbito, talvez tenhamos sido pioneiros. Procuramos nos distinguir do rebanho e recusar viseiras e ferraduras.
Post Scriptum. Oportunamente espero publicar sobre os participantes do Grupo Cobra.