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O imitador do “cowboy” americano

Colaborador de Navegos redescobre uma das personagens mais populares do Nordeste, em sua época, Alberto Brasileiro, consagrado em apresentações de circos mambembes e nas duas décadas finais de sua vida, presença notória nos bate-papos do Café São Luiz e personagem do livro O spleen de Natal.

*José Vanilson Julião

O artigo anterior foi inspiração do livro “Spleen de Natal”, lançado em 1996 pelo escritor e editor deste “Navegos”, com entrevista do ator itinerante Alberto Brasileiro (filho de Henrique e Olegária), na qual ele cita a irmã, a atriz Marquise Branca.

O redator, ao não mencioná-lo, sentiu-se como rato que deixa escapar uma fatia de queijo. No bastidor Franklin Jorge lembra o artista mambembe que imitava o cantor e ator Leonard Franklin Slye, o “Roy Rogers” (Cincinnati/Ohio, 5/11/1911 – Appley Vale/Califórnia, 6/7/1998).

Por isso a obrigação de remissão do pecado. Na internet é encontrada crônica sobre o personagem escrita por Juarez Morais Chaves (Sábado, 10/3/2011), condensada e reproduzida.

“Na década de 1950, vez em quando aparecia alguma novidade, não obstante a comunidade baiana estar a mais 500 quilômetros de Salvador e sem uma boa ligação rodoviária. Foi o caso do Alberto Brasileiro, homem de boa estatura, simpático, que ganhava a vida caracterizando-se de caubói americano, faltando apenas o cavalo branco (“Trigger”).

No cine-teatro “A Voz da Liberdade”, exibia-se fantasiado de vaqueiro, cantando músicas dos filmes de faroeste e finalizando-as com o famoso refrão… ‘ô tiroleí, ôleí, tiroleí’…

“A Voz” (Rua Marechal Deodoro), construído por um servidor público federal, concorre com “A Voz do Barranco”, cuja principal atividade era a projeção de filmes.

Ficava quase em frente à concorrente e era a preferida pela população ante a diversidade de atrações, inclusive a do caubói. Mas a briga é assunto para outra crônica.

Alberto Brasileiro não estava ali fantasiado para fazer gracinhas. Tinha aparecido para fazer dinheiro. Após ficar conhecido pelas apresentações semanais tratou de montar um negócio que se alastrou pela cidade: “Balas Caubói”.

Instalou na Praça Getúlio Vargas a pequena loja para das balas cilíndricas, de açúcar, com sabores artificiais, fabricadas na residência do caubói pela mulher e filhos. A balinha era envolvida por uma pequena cédula imitando dinheiro, com valores que iam de 1 a 100 unidades, denominadas de “Caubói”. Por cima da bala e da cédula enrolava-se um papel fosco.

Nessa época eu fazia o curso primário nas Escolas Reunidas Cézar Zama e colega de sala de Wellington Brasileiro, filho mais velho do referido caubói, tinha acesso a casa, que ficava a uns 50 metros da casa da minha mãe, para onde sempre me dirigia com o intuito de ler gibis de caubóis e outros heróis em quadrinhos, já que Wellington era detentor de uma grande quantidade de revistas.

Com o passar do tempo permitiram que eu ajudasse a enrolar as balas com as cédulas. A fiscalização, semelhante a do Banco Central, pois na realidade aquele “dinheiro” permitia a compra das mercadorias na lojinha.

Em cada bombom havia apenas uma cédula, sendo que a maioria era do valor de 1 Unidade. Era muito difícil se conseguir uma nota de 5, 10 ou 20 unidades. As notas de 50 ou 100 eram raras, daí a vontade que a meninada tinha de comprar o máximo de balas para se obter o máximo de dinheiro caubói.

Quem tivesse a sorte de conseguir uma cédula de 100 caubóis passava a ser assunto de comentários em toda a cidade ficando na obrigação de exibir a nota para todos os meninos. A curiosidade era grande.

Apenas na lojinha eram vendidas as famosas balas, única maneira de ter acesso ao “dinheiro” necessário para comprar as coloridas bugigangas de plástico expostas, mas que era novidade e atraiam e excitavam as crianças.

Eventualmente Alberto Brasileiro se dignava aparecer na Loja e era um corre-corre para ver o ídolo, mesmo não caracterizado. Tinha consciência disso e rareava as aparições para não banalizar a imagem de artista.

A lojinha, devido à pequenez era insuficiente para suprir todas as necessidades familiares, o caubói se dedicava a outras atividades para complementar a renda e, além da apresentação semanal, apresentava-se nos parques e circos que marcavam temporada.

O repertório era o mesmo e sempre concluía com a famosa cantiga: ‘Oh! Suzana, não chores por mim’.

O autor da canção, Stephen Collins Foster (Laurenceville/Pensilvânia, 4/7/1826 – Nova York, 13/1/1864), compositor de baladas, tem obra influenciada por canções populares sentimentais, de cânticos religiosos e cantos dos trabalhadores negros de Pittsburgh. Não teve formação musical, mas lançou o primeiro álbum “Open Thy Lattice, Love” (1842). Em dificuldades financeiras vende “Oh, Susanna” (1848) por cem dólares.

Contratado por gravadora de Nova York (1849), falta de planejamento profissional para a carreira e continuou vendendo direitos das composições, inclusive futuras. Por exemplo, as canções feitas para os shows de Edwin P. Christy foram lançadas como sendo da autoria deste, inclusive o grande sucesso “Old folks at Home” (1851).

Mudou-se para Nova York (1860) e, a partir daí, as canções tornam-se sentimentais, como “Poor Drooping Maiden”. Entregue ao alcoolismo, deixa cerca de 200 canções, a maior parte com letra de sua autoria. A letra escrita em 1847, conta a viagem de um negro do estado do Alabama até Nova Orleans (Louisiana) para encontrar amada:

“Eu saí do Alabama com meu banjo e meu chapéu

Vou seguir pra Louisiana, oh Susana, pra te ver

Sob o sol quente da estrada cavalguei meu animal

O sol me queimou a pele, oh Susana, não faz mal

Oh, Susana, não chores mais por mim

Chegarei em Louisiana

Com meu banjo, logo, assim.”

Vários os intérpretes internacionais. De Bob Dylan a Carly Simon. O primeiro artista a gravar a versão brasileira: o ator e cantor Nelson Roberto Perez (Campinas, 12/10/1918 – Rio de Janeiro, 28/8/2009). Na capital carioca foi ser representante de uma indústria de meias. Começa nos cassinos e se apresenta nas rádios.

Em 1943 ganha concurso na Rádio Cultura paulista interpretando “Oh, Susanna”. Adota o nome artístico “Bob Nelson” na TV Tupi. A primeira gravação ocorre no ano seguinte com a versão da música “Vaqueiro Alegre” ou “Vaqueiro do Oeste” (S. C. Foster). Até 1952 soma 15 discos.

 

FONTES

Adoro Cinema

Blog Xique Xique

Brasil Escola

Cariri das Antigas

Dicionário Cravo Albin da MPB

Vagalume