*Franklin Jorge
Paul Nizan [1905-1940] descreveu os vinte anos, quando somos avassalados por inquietações e desespero, como o primeiro círculo do inferno. Uma idade a um tempo aterradora e indescritível para todo ser que se acha no limiar do futuro e não sabe ao certo que rumo escolher e seguir.
Nizan ousa fazer a pergunta que não temos a coragem de formular e, em seguida, de forma abrupta, ele mesmo a responde. Você já teve vinte anos? Não me venha dizer que é a melhor idade da vida. Quando o li, já depois dos trinta anos, numa edição espanhola, senti um sobressalto: ali estava, em poucas palavras, o resumo de tudo o que sentira em minha adolescência inquieta e fatigada pela obsessão de produzir uma obra que justificasse minha existência e me representasse no futuro.
Aden, Arábia, foi uma dessas leituras marcantes por suscitar, involuntariamente, as emoções ardentes de uma memória que jazia esquecida sob a cinza das horas. Ninguém, melhor do Nizan, como um novo Rimbaud, descreveu melhor essa espécie de desespero que permeia e contrista a alma de todos os seres pensantes que alguma vez, no limiar da vida, tiveram vinte anos e puderam sentir, de maneira medonha e inexorável que, de alguma maneira, sozinhos, teriam de abrir a porta do futuro.
Pentimento
[Fragmentos de um diário inédito]
Foto Estúdio de Franklin Jorge
Pitimbu, 2022.