*José Vanilson Julião
Os torcedores do Alecrim Futebol Clube juram que o “esmeraldino” é bi-campeão potiguar das temporadas 1924/25, com um dos títulos sem perder para os favoritos ABC e América.
Mas é certo que a maioria desconhece outra faceta de um dos jogadores citados em depoimento para a imprensa potiguar de Gil Soares de Araújo (Martins, 10/11/1907 – 2005) – promotor publico (Martins e Ceará Mirim), deputado à Constituinte Estadual (1935/37) e suplente de deputado federal (1945) – como um dos melhores da época.
Os imigrantes italianos Braz e Catarina Flora Gianini no final do século XIX já moravam no RN. O gordo comerciante de rendas e toalhas residia na Avenida Rio Branco com os filhos Nicolau, Vicente, Antonio, José e Maria.
No ano do nascimento do penúltimo filho publica série de reclames para a venda de 19 casas e sítio (Cidade Alta). José (18/5/1902 – 28/7/1974) ao migrar para a metrópole torna-se jornalista, funcionário público federal, radialista, cantor e compositor, com discos gravados (1929/30).
Em 1917 havia dois grupos de escoteiros na cidade. Na placa com nome dos escoteiros a grafia está errada: “Jonine”. Dos 99 do grupo da Associação dos Escoteiros, liderados pelo professor Henrique Castriciano envolve como jogadores ou dirigentes de ABC e América: Solon Aranha, Renato Guimarães Wanderley, Antonio, Carlos e Vicente Farache Neto, Abetil R. Viana, Waldemar Junqueira (treinador do juvenil americano nos anos 40).
No rol dos 29 liderados pelo professor Luiz Soares Correia de Araujo (1988 – 1967) outro detalhe: Joaquim César da Silva, que viria a ser pai do jogador americano, abecedista e do Ferroviário (Fortaleza) Demóstenes, que jogou no Botafogo carioca e na liga pirata ou “El Dorado” colombiano nos anos 50.
Consta que foi amigo de infância do poeta Othoniel Menezes de Melo (Natal, 1895 – Rio de Janeiro, 1969). José, o “Jin Kiang”, pseudônimo com que assinava haicais, poemas japoneses compostos por três versos, o primeiro e o terceiro com sete sílabas, e o segundo com cinco sílabas.
Em 1926, na companhia de José Damasceno Bezerra e OM, participa de inconsequente noitada, com o autor da letra de “Praieiras” ou “Serenata do Pescador” (musicada por Eduardo Medeiros), demitido como primeiro oficial da Secretaria Geral no governo José Augusto Bezerra de Medeiros (1884 – 1971).
Três anos depois Jannini ou Janini – corruptela do nome original – se encontra na metrópole. Em atividade no Teatro Lírico (Rua 13 de Maio) – existente desde o II Reinado, reformado e demolido (1934). O cantador de embolada se apresenta (19/10/1929) na “Tarde de Desafios”.
Com os poetas Olegário Mariano e Álvaro Moreyra e o “Bando de Tangarás”: “Almirante” (Henrique Foréis Domingues), Noel Rosa, João de Barros (Carlos Alberto Ferreira Braga) e o norte-rio-grandense Henrique de Brito, tido como inventor do violão elétrico, Álvaro Miranda (Alvinho) e Abelardo.
Em 22 pararafos e três intertítulos a “Crítica” (“O matutino de maior circulação do Brasil” com o slogan “Declaramos guerra de morte aos ladrões do povo”), de Mário Rodrigues (irmão do autor teatral Nelson), no primeiro ano de circulação (edição 288), carrega nas tintas: – O folclore brasileiro em todas as suas modalidades.
– Pela primeira vez no Rio o folclore argentino interpretado por conjunto típico. No programa: Ary Machado Pavão, compositor de “Chuá-chuá” (Parceria de Pedro de Sá Pereira lançada em 1920 e gravada pela primeira vez em 1926), o caricaturista Álvaro Cotrin (1904 -1985), o Alvarus, “que manejará em cena lápis bem humorado”, Rogério Guimarães, o alagoano Jararaca (Luiz Calazans), cantador de emboladas, modinhas e desafios sertanejos, “em número pela inesgotável veia cômica” e o ator Odilon de Azevedo.
A Noite (Segunda-feira, 13/5/1929 – 6.280), na seção SEM FIO atualiza a programação da Rádio Sociedade Mayrink Veiga com apresentação de música popular nacional e portuguesa: Cândida Leal, João Pereira Filho, professor João C. Pereira, José Jannini, José e Waldemar Pereira Gonçalves e Arthur Coelho. Na primeira parte a quinta apresentação, Psicologia do beijo (canto), conta com Jannini.
Em 1932 é nomeado escriturário pelo presidente Getúlio Dorneles Vargas. Em 24/11/1937 substitui o tenente gaúcho Victorio Caneppa na Colônia Agrícola. E permanece diretor da Penitenciária do Distrito Federal (10/4/1940). Em ato administrativo (20/8) envia carta ao ministo da Justiça, Francisco Luís da Silva Campos, com pedido de libertação para presos de bom comportamento.
Na imprensa local duas referencias: na data do aniversário no diário vespertino católico A ORDEM (1937). E com o jornalista Aderbal de França, o “Danilo”. O colunista Associado (segunda-feira, 24/2/1969) comenta “A Seca”, do “poeta admirável”, no dizer do crítico Agripino Grieco (1888 – 1973). – Seria preciso repetir todo o poema, do conterrâneo, na linguagem que adotou para melhor traduzir a tristeza do sertão. Tal qual a paisagem desenhada na capa do pequeno livro.
FONTES
“Martins” – Manoel Jácome de Lima – Coleção Mossoroense (1995)
“Natal que Eu Vi” – Lauro Pinto (1971) – Sebo Vermelho
A Ordem
A República
Diário de Natal
A Noite
Diário de Notícias
Folha de São Paulo
Correio da Manhã
Crítica
Jornal do Brasil
Campeões do Futebol
Colônia Dois Rios – Ilha Grande (Souza Neto)
Falando de Trova
Saudade do Rio
Sobre Tudo (Fernando Caldas)
Mediocridade Plural (Laélio Ferreira de Melo)
