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O jornalismo segundo Edgar Barbosa

Escritor, jornalista e fundador da Faculdade de Filosofia que deu origem à criação do Centro de Letras e Artes  da UFRN, considerado por seus pares o maior estilista que o Ceará-Mirim já teve, publica-se aqui um resumo coletado pelo Fundador de Navegos algumas de suas reflexões  sobre a essência do jornalismo e os valores que norteiam ou deveriam nortear, na visão clara e límpida de Edgar Barbosa, um mestre esquecido.

*Franklin Jorge

‘Ao longo de trinta anos de prática de imprensa jamais admitimos a juridicidade de normas que procuram limitar a liberdade do pensamento sem fundamentos éticos ou considerações à importância que ela tem no regime democrático. Pois entendemos sempre que o esforço da imprensa democrática para corresponder à confiança dos homens livres, no Estado livre, é, antes de tudo, a procura de uma ética. Um jornal que não agita as realidades do seu núcleo geopolítico, um jornal agrilhoado pelas reservas, pelos estados equívocos de inibição, pelo receio constante de ressentimentos, não é um jornal capaz de interessar a um público democrático. O caráter de uma imprensa moderna está no noticiário que a serve, nas informações que veicula, nas fontes que explora, investiga e descobre, aliciando repórteres idôneos, adquirindo a confiança dos detentores de grandes e pequenas notícias.

‘Uma boa informação precisa revestir-se de certos característicos: deve ser importante, interessante, nova e verídica. É certo que nem todos os acontecimentos interessam igualmente ao público. E um grande segredo da arte do jornalista consiste em sentir a notícia que mais interessa a determinado público em determinado momento. Cabe-lhe, por vezes, “adivinhar” e fazer escolha inteligente dos fatos cotidianos, pois o fato mais banal, aos olhos de uns, transforma-se em notícia de máxima importância aos olhos de outros. A boa informação para o jornal é aquela que oferece o máximo de interesse ao maior número possível de leitores. Sobre ser interessante e importante, a informação não merece esse nome se perdeu a atualidade e se não é verdadeira.

‘E finalmente uma informação deixa de ser uma informação se não é verídica. O conceito de veracidade tem sido deformado por alguns profissionais de imprensa. Para estes, desde que a notícia seja interessante ou importante, pouco vale que seja verídica: eles a publicam. Faça-se a distinção necessária entre os jornais que lançam conscientemente notícias falsas e aqueles que, habituados às conclusões do juízo ligeiro, publicam notícias não constatadas.

‘Ressurge aqui o problema da ética profissional. Uma informação não vale apenas pela sua fonte, pela personagem e pela idoneidade do órgão de onde procede. Vale igualmente pelo jornalista que a transmite, redigindo-a sob a compenetração de sua responsabilidade. Em consequência, o profissional de imprensa há de ser um homem vinculado a compromissos de ética e de moral que o habilitem a enfrentar as organizações que exploram a boa-fé, a credibilidade jornalística. Em discurso que pronunciou perante as delegações do Congresso Internacional de Imprensa Católica, realizado em Roma, em fevereiro de 1950, o papa Pio XII ressaltava que um profissional de imprensa sem caráter não pode guiar a opinião pública. Dizia Sua Santidade que aquele que se apodera de uma informação deve considerá-la sob normas claras e princípios justos, situando-se em um campo visual acima dos seus interesses, da sua potência técnica ou da sua astúcia.

‘Cumpre, portanto, ao jornalista consciente da sua missão, compenetrar-se de que a verdade, como valor absoluto, se bem que inatingível, não se fraciona ao gosto de seus servidores. Não deve, pois, procurar a verdade que lhe sirva, mas servir à Verdade. Cuide-se de que não haja aquele comércio de meia verdade, tão bem retrato em Aretino. Aretino é o símbolo do jornalismo comprável, daquele que, incapaz de viver dos níqueis do povo, servindo-lhe a verdade, prefere vender-se aos poderosos, para gabar tudo, emparedando-se num mundo de irrealidades e prazeres, onde nem chegam as queixas do povo. Pedro Aretino é o produto natural de certas democracias engatinhantes, onde o povo finda pagando tudo, até a uma imprensa que o engana.

‘De qualquer maneira, o público escolhe. Há de estar atento às fontes de informação, geralmente indicadas pelos órgãos honestos. Uma notícia política, um acontecimento nas esferas oficiais, uma transformação nos círculos militares, vale pela sua fonte. E a partir do momento em que o jornal diz: “Eis a origem da notícia que publico”, se a fonte é idônea, se a informação emana de autoridade competente, o jornal cumpriu lealmente seu dever transmissor”.

Parte I – Da série Jornalismo e Cultura, publicada por Franklin Jorge na Imprensa de Mossoró, ao tempo em que ali residiu pela segunda vez, entre 2006-2009.