*Ianker Zimmer
Nasci em 1984, ano de batismo do clássico literário distóptico do inglês-indiano George Orwell (1903 -1950). A obra, em suma, faz uma crítica ao totalitarismo do Estado e seu cerceamento ao indivíduo. Curiosamente – ou não -, 1984 foi o último ano do regime militar no Brasil. Em 1985, deu-se início ao tão “sonhado” processo de redemocratização no país.
Falando em sonhos, os anos oitenta foram marcados pelos filmes do gênero horror, dentre os quais A Hora do Pesadelo (no original Nightmare), do vilão Freddy Kruegger, que aterrorizava os sonhos de adolescentes em Elm Street. A série rivalizou com a sinistra franquia de Sexta-feira 13, do mascarado Jason Vorhees. Já no final da década, aos cinco anos, passei a assistir aos filmes. Naturalmente, os pesadelos eram inevitáveis. Entretanto, caro leitor, este artigo não pretende tecer crítica de cinema de horror, mas sim à realidade, sobretudo à política do Brasil. Todavia, como diria o “filósofo” Jack o Estripador, “vamos por partes” (aviso de ironia).
O fato é que a tão sonhada (e aviso que vamos repetir o termo “sonho” no texto) redemocratização chegou em 1985 com José Sarney (1930 -) como 31° presidente do Brasil até 1990, quando assumiu o Planalto Fernando Collor de Mello (1949 -). Se, com Sarney no comando, já começamos mal – visto que em 1988 aprovamos uma Constituição manca arquitetada para o sistema parlamentarista de governo que, por interesses, tornou-se refém de um sistema presidencialista -, ato contínuo, Collor assume logo após e leva o país à bancarrota. A História vocês conhecem, não vou recontar para que o texto não se torne enfadonho. Com o impeachment do alagoano consolidado em 1992, Itamar Franco (1930 – 2011) governa até 1994, quando sobe a rampa do Planalto Sir Fernando Henrique Cardoso. Com o Plano Real criado e consolidado, havendo por conseguinte um controle no “pesadelo” da inflação, o Brasil volta aos trilhos.
Mesmo keynesiano, FHC é abusado e promove uma série de privatizações. Entre elas, a da Vale do Rio Doce. A ex-estatal hoje constituiu-se em uma das principais empresas privadas no Brasil, com valor de mercado estimado em mais de 50 bilhões de dólares. Além de gerar cerca de sessenta mil empregos, a empresa entrega à União, três bilhões de dólares em impostos todos os anos. O presidente tucano também foi importante para puxar o freio de mão no sistema previdenciário, que quebraria o país em poucos anos. FHC não foi uma Margaret Thatcher (1905 -2013), sabemos. Mas, dentro do que se propunha a realizar, o fez com sucesso. O Brasil ficou acordado de Itamar até 2003, portanto, quando dormiu novamente.
Um, dois: o PT quer voltar; três, quatro: o Brasil ele quer de novo quebrar…
O pesadelo chegou com o lulopetismo, que tornou o país uma Elm Street. Logo em 2005, fomos retalhados com a roubalheira do mensalão, os sindicatos se “empoderaram”, o marxismo nas universidades progrediu e as instituições embarcaram no horror promovido pelo lulopetismo. Em 2007, mesmo com o mensalão, o falso crescimento do país, uma bolha econômica inchada, na verdade, e a propaganda do PT, de que já falei aqui em texto anterior, reelegeram Lula. Os brasileiros seguiram em sono profundo, sem saber que o sonho era um pesadelo. Há quem diga que a estrada para o petismo no Brasil foi pavimentada por FHC…
O Brasil seguiu em sono profundo, sonhando com a propaganda do PT que mostrava que o pobre passara a “andar de avião” e a comprar televisor de plasma (e plasma me faz lembrar o “ectoplasma” de Os Caça-Fantasmas [1984] – de novo a data 1984?). Era um novo Brasil, afinal. Não obstante, Dilma (Ha)Vana Rousseff é eleita a primeira presidente do Brasil. As obras da Copa chegam. Caminhões de dinheiro são investidos em estádios, hoje convertidos em grandes elefantes brancos. Dinheiro jogado na lata do lixo.
Em 2013, grande parte dos brasileiros reage e percebe que vive um pesadelo, e o pior: é refém dele. Não há saída. Aliás, a saída foi ir às ruas. Dilma é reeleita em 2014, mesmo com o escândalo do petrolão, que desviou bilhões dos cofres públicos, e com a maior recessão econômica de nossa história. Surge um herói, Sérgio Moro, que desmantela o maior esquema de corrupção sistêmica da história do Brasil, e vão para a gaiola um bando de corruptos de colarinho branco. Um dos últimos a ir foi o chefe. O barba. O Brasil, sangrando, acorda do pesadelo, mas se depara com o estrago. Surge uma nova direita. Aliás, surge uma direita. Muitos deixam o petismo; mas parte considerável – até hoje – demonstra que amou o pesadelo de Elm Street.
Um, dois: o PT quer voltar; três, quatro: o Brasil ele quer de novo quebrar…
Durante esse processo, na Tribuna da Câmara dos Deputados, destaca-se o então deputado federal Jair Bolsonaro. O parlamentar faz, naquele momento, uma leitura do anseio da população que sangra por 15 anos de petismo e os representa. Surge como alternativa a Fernando Haddad (PT). Bolsonaro é eleito em 2018. De lá para cá, deixo com você, caro leitor.
Durante 15 anos, o Brasil viveu um pesadelo que teve como vilão-protagonista o lulopetismo. Agora, com a suspeição de Moro – em nada lamentada por Jair Bolsonaro -, Lula está elegível. A propaganda do PT vai entrar em cena em 2022 e convidará os brasileiros a voltar a “sonhar”.
Não quero fazer apologia ao “mito” da Caverna, malgrado seu atual tragicômico governo; mas já ouço uma menina – e na história do comunismo usam-se crianças em suas propagandas – cantando: ”Um, dois: o PT quer voltar; três, quatro: o Brasil ele quer de novo quebrar “.
Seja direita ou esquerda, não flerto com totalitarismo. O personagem Winston Smith, do já citado acima 1984 de Orwell, com sua úlcera varicosa, é um exemplo do que o Estado pode fazer com um cidadão.
Pois bem, caro leitor, pergunto: gostou da analogia com Freddy Krueger? Minha escrita tem, guardadas as infinitas proporções, influência de um de meus autores favoritos, o britânico Clive Staples Lewis. É conhecido como C.S Lewis e sobretudo pelas Crônicas de Nárnia, mas, em seus tantos ensaios, Lewis usa muitas analogias, assim como o próprio G.K. Chesterton, que em seus escritos faz uso até demasiado desse recurso, visto que analogias podem servir como ferramentas de reflexão, e levam – ou podem levar – o leitor a uma maior capacidade de compreensão, além de ampliar horizontes. O vilão Freddy dos anos 1980 foi interpretado pelo ator americano Robert Barton Englund (1949). Tratou-se apenas de um filme. Ficção. Já o lulopetismo, no entanto, é real. E ele vem aí, quer te pegar acordado e te carregar ao maior dos pesadelos, haja vista o rumo que tomávamos há seis anos com o PT nos tornando uma Venezuela.
Como falamos de sonho, pesadelo, pensei em buscar em A Interpretação dos Sonhos, do pai da psicanálise Sigmund Freud (1856 – 1939), alguma explicação para o pesadelo do lulopetismo – até para florear meu texto com a citação de mais um autor. Esquerdistas adoram fazer isso na academia, não é mesmo? Principalmente os antropólogos. Mas, de fato, tirei da estante e li sim, o clássico de Freud, pois aqui em casa tenho uma psicóloga. Contudo, não entendi quase nada do pensamento freudiano em relação aos sonhos. Aliás, prefiro Carl Jung (1875 – 1961) a Freud. De todo modo, nenhum deles explica o pesadelo do lulopetismo, tampouco a obsessão da militância que tentou pintar de vermelho nossa bandeira que tem como cor predominante o verde. Aliás, a camisa de Freddy é vermelha e verde. Seria um sinal? Não sei.
Um, dois: o PT quer voltar; três, quatro: o Brasil ele quer de novo quebrar…
Ilustração: reprodução de obra digital do artista Ryohei Hase.