*Anna Maria Cascudo Barreto
Crônica vem do latim crônica, relato de fatos, narração; e do grego khronikós, de khrónos, tempo. No inicio da era cristã, designava lista ou relação de acontecimentos, sem aprofundamento causal. Na Idade Média, acercando-se do pólo histórico, ocorre divisão entre obras com abundancia de pormenores (crônicas) e simples, além de impessoais notações de efemérides (cronicões). Modernamente, o vocábulo – desde o século XIX – rubrica textos que ostentam estrita personalidade literária. Diversa do conto ou da entrevista, a crônica possui características originais. Luís da Câmara Cascudo, com suas deliciosas Actas Diurnas, está incluído, como Machado de Assis, Olavo Bilac, Carlos Drummond de Andrade, Rachel de Queiroz, Rubem Braga, Henrique Pongetti, nos mais famosos cronistas brasileiros, cultivadores do gênero com peculiar engenho e arte. Reconhecido pela crítica como introdutor da crônica histórica.
Mas a multiplicidade dos assuntos abordados pela sua cosmovisão impede qualquer rótulo. Comentando acontecimentos diários, trazendo o passado a fim de prever o futuro; preocupado com a ecologia; triste pela incompreensão dos técnicos em urbanismo, valorizando danças, culinária, costumes, lendas e a destinação popular, Cascudo foi – e é – o grande historiador do cotidiano. Suas personagens, ainda que reais, foram envolvidas em névoa de beleza. Pergunta-se: ele enfeitiçava os fatos ou ao contrário? Sua descrição de um morador de rua conhecido (fato passageiro) se materializa autêntico poema em prosa, graças à sua faculdade criadora e maestria com as palavras. Incrível e digna de registro a atualização do texto cascudiano.
Mesmo distanciada no tempo, não envelhece. Graças ao talento e modernidade dos temas e a estética da linguagem. O NOVO JORNAL – que, como A IMPRENSA, de Francisco Justino de Oliveira Cascudo, preenche lacunas e ocupa espaço no mundo jornalístico, guardando-se as devidas proporções de tempo/ espaço – inicia profícua parceria com o INSTITUTO CÂMARA CASCUDO (Ludovicus) presenteando os potiguares com jóias literárias, resgatadas por dedicados amantes da cultura, idealistas e apaixonados. O Ludovicus, instituição cujo objetivo é a preservação, divulgação e gerência do patrimônio Cultural de Luís da Câmara Cascudo se sente feliz com a eternização de sua memória.
Natal, 24 de dezembro de 2010, noite de natal.