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O ministro que amava a música

Colaborador de Navegos evoca o economista e Ministro da Fazenda e Planejamento em Governo Militar, ressaltando o lado de sofisticado melômano que havia em Mário Henrique Simonsen.

*Francisco Alexsandro Soares Alves

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Há 25 anos, em 1997 (9 de fevereiro, mais precisamente), morria Mário Henrique Simonsen, que foi Ministro da Fazenda e Ministro do Planejamento durante a ditadura militar brasileira. Ele nasceu em 19 de fevereiro de 1935, nasceu, viveu e morreu no Rio de Janeiro.

Simonen foi um dos primeiros a compreender Milton Friedman, autor de “Capitalismo e Liberdade”, quando este ainda não era entendido pelo mundo. Espírito inquieto, envolveu-se em muitas polêmicas com Delfim Neto e outros economistas. Como acadêmico, destacou-se por interpretar a economia dentro de expectativas racionais, à maneira de John Muth.

E, para mim particularmente, Simonsen tem outro atrativo muito forte.

Ele marcou muito o desenvolvimento do meu gosto pela música erudita. Além de economista e professor, ele também era amante da ópera. Escrevia para revistas semanais de informação como “Veja” e “Isto É”, revistas que, à época de minha juventude, meus pais assinavam.

E assim, semanalmente, quando o ministro escrevia sobre o assunto, eu tinha disponível a crítica de Simonsen sobre ópera. Lembro, com particular emoção de dois artigos. Em um deles, o ministro detalhava sua ida ao Festival de Bayreuth, onde assistiu à produção de “Tristan und Isolde”, de Jean-Pierre Ponnelle. Ao final dessa produção, conta-se que Wolfgang Wagner, neto do compositor e, na época, presidente da Casa dos Festivais, extasiado, disse: “Depois disso, o que se pode dizer ainda!”. Nessa produção belíssima e poética, no segundo ato, há uma árvore imensa que domina a cena inteira. Sob essa árvore, Tristão e Isolda cantam sua longa cena de amor. Simonsen disse que, no intervalo entre o segundo e o terceiro ato, se dirigiu a uma árvore próxima ao teatro e imaginou aquela cena que havia assistido alguns minutos antes.

Outro artigo que guardo com muito carinho no coração, foi aquele em que o ministro detalhou a “Richard Wagner: Bayreuth Edition”, uma edição das óperas completas de Wagner gravadas em Bayreuth. A Philips lançou esta coleção, no início dos anos 90, em todos os formatos disponíveis na época: CD, VHS e LD. Lembro que Simonsen desaconselhou as gravações da década de 70, usando inclusive termos da agricultura ligados à economia: segundo ele, o canto wagneriano desse período estava na “entressafra”. Mas as gravações da década de 60, estas ele louvava, sobretudo o Tristão e Isolda de 1966, regido por Karl Böhm, com Wolfgang Windgassen e Birgit Nilsson nos papéis principais.

Simonsen afirmava que: “A boa música tem seus segredos que nunca se revelam por completo numa primeira audição. É preciso ouvi-la várias vezes para que esses segredos sejam desvendados”.