*Valterlucio Bessa Campelo
Eu era ainda muito jovem quando um colega mais velho me deu a conhecer o que me contou como sendo a “filosofia do sapo”. Não sei se os leitores já ouviram falar, mas, de todo modo, consiste no seguinte:
Era uma vez dois sapos que moravam em um poço numa fazenda. Viviam sem atribulações além dos períodos de seca, até que um dia um deles (chamemos de João), repentinamente disse ao outro (chamemos de José), que iria embora dali, pois queria conhecer o mundo. Dito e feito. José ficou sozinho, chateado, mas se acostumou. Até que, alguns anos depois, João chega sem avisar. Passados os primeiros momentos de surpresa e confraternização, o sapo João iniciou um diálogo.
– Viajei muito, José. Conheci vilas, cidades, plantações, montanhas e cheguei até o mar.
– O mar, João? Eu adoraria conhecer o mar.
– O mar é lindo, às vezes muda de cor, de azul para verde. É imenso.
– O mar é maior que o nosso poço, né?
– É muito maior, José.
– É maior que a cacimba?
– É muito maior!
– É maior que a lagoa??? Perguntou, demonstrando incredulidade, o sapo José.
O diálogo, que poderia ter sido muito mais proveitoso, se encerrou neste ponto, deixando uma questão: Como poderia João explicar a grandeza do mar, se a única referência que José possuía era o poço onde sempre vivera?
Anos depois, fui reencontrar, com todas as vênias, a mesma filosofia, na alegoria da Caverna de Platão, que por ser muito mais complexa e sofisticada, não caberia, obviamente, sequer esboçar neste espaço. Porém, mutatis mutandi, José é um escravo que ficou preso, iludido com as imagens que penetravam na caverna, incapaz de ver o mundo como ele é, e, portanto, de compreendê-lo. João seria aquele escravo que conseguiu fugir, que a princípio ficou confuso, cego, mas aos poucos saiu do estado de ignorância em que vivera e passou a compreender a realidade.
Não trato aqui (nem me atreveria) de Platão ou de Aristóteles que narra a alegoria ou mito da Caverna de Platão em “A República”, trato da ignorância, de como a falta de referências dificulta o conhecimento. Refiro-me a essa ignorância diária que percebo na mídia em geral, em apresentadores, articulistas, palpiteiros, “especialistas” e políticos que reduzem a problemática global que vivemos hodiernamente aos pequenos dilemas a que tem acesso mental.
São muito parecidos com o sapo José. Aliás, quando vejo um sujeito dessa espécie, reduzindo a crise que vivemos à discussão entre vacinas e tratamentos, ou entre bolsonarismo e antibolsonarismo, repetindo ad nauseaum, às vezes com ares afetados, a estupidez retórica do “negacionismo da ciência”, é como se estivesse diante de uma daquelas figuras intelectualmente repulsivas do BBB. Na Caverna de Platão, ele ainda estaria acorrentado, iludido com as imagens que apareciam na parede, hoje eficientemente representada pela mídia mainstream.
O que está à nossa frente é muito mais, muito maior, muito mais largo e profundo do que mostra a José o poço das TV`s, diariamente martelando a crise sanitária, contabilizando mortos selados com o carimbo COVID, seja ou não, esta, a verdadeira causa mortis. Vivemos, creiam, a preparação de uma mudança global perante a qual nada ficará imune. O nada será como antes que insiste em forçar os portões de nossa civilização não é o “novo normal” ridículo que frequenta a novilíngua militante de artistas e intelectuais de auditório, é a alteração de todos os termos que constituíram a sociedade que construímos e em que vivemos. Duvidam? Vejam abaixo algumas declarações do encontro prévio (virtual) do Forum Econômico Mundial 2021, realizado entre 25 e 29 de janeiro último.
“Temos apenas um planeta e sabemos que as mudanças climáticas podem ser o próximo desastre global, com consequências ainda mais dramáticas para a humanidade. Temos que descarbonizar a economia na janela curta que ainda resta e harmonizar nosso pensamento e comportamento com a natureza”. Klaus Schwab, fundador e presidente executivo do Fórum Econômico Mundial.
“Para garantir nosso futuro e prosperar, precisamos evoluir nosso modelo econômico e colocar as pessoas e o planeta no centro da criação de valor global. Se há uma lição crítica a aprender com essa crise, é que precisamos colocar a natureza no centro de como operamos. Simplesmente não podemos perder mais tempo”. Príncipe Charles.
“O Grande Reinício é um reconhecimento bem-vindo de que essa tragédia humana deve ser um alerta. Devemos construir economias e sociedades mais iguais, inclusivas e sustentáveis, que sejam mais resilientes diante de pandemias, mudanças climáticas e muitas outras mudanças globais que enfrentamos”. António Guterres, Secretário Geral das Nações Unidas, Nova York.
“É necessário um grande reajuste para construir um novo contrato social que honre a dignidade de todo ser humano”, acrescentou Schwab “A crise global da saúde revelou a insustentabilidade de nosso antigo sistema em termos de coesão social, falta de oportunidades iguais e inclusão. O COVID-19 acelerou nossa transição para a era da Quarta Revolução Industrial. Temos que garantir que as novas tecnologias no mundo digital, biológico e físico permaneçam centradas no ser humano e atendam à sociedade como um todo, proporcionando a todos um acesso justo”, afirmou Schwab.
“A Grande Redefinição exigirá que integremos todos os interessados ??da sociedade global em uma comunidade de interesse, propósito e ação em comum”, continuou Schwab para, depois, concluir “Precisamos de uma mudança de mentalidade, passando do pensamento de curto a longo prazo, passando do capitalismo de acionistas para a responsabilidade das partes interessadas. A governança ambiental, social e boa deve ser uma parte medida da responsabilidade corporativa e governamental”.
Agora, releiam todo esse palavrório lodoso sob a luz e nele identificará: globalismo-eliminação de soberanias nacionais, unificação das moedas, hiper-controle social, extinção das religiões, destruição da família, eliminação da propriedade privada, supressão de liberdades individuais, transhumanismo, eugenia, ambientalismo, esquerdismo e progressismo.