*Joelma Ferreira Franzini
Neste breve e inacabado ensaio, venho relatar a experiência que tive a mais de trinta e cinco anos atrás, ao conhecer e apreciar um homem singular, o Seu Hélio, como era conhecido aqui no Acre. Nesse tempo, eu deveria ter não mais que meus dezessete anos de idade. Estava terminando o Curso de Magistério, ocasião em que foi organizada uma pequena e simples Mostra dos trabalhos desse artista.
O evento ocorreu no modesto auditório do antigo Instituto de Educação Lourenço Filho, vários quadros estavam expostos e um recatado homem transitava entre os mesmos. Logo no primeiro instante, gostei muito daquilo que via. Eram cenas cotidianas da vida em família nos seringais, mas sempre com uma pitada de crítica ou bom humor, como na tela onde um jumento está assentado lá no alto do galho de uma árvore.
Seu Hélio pintava a flora, a fauna e o cotidano da vida dos seringueiros, as lembranças da mata e as questões ambientais e tocava instrumentos musicais. Seu trabalho expressava, e ainda expressa, a resistência ao desflorestamento, forjada principalmente, pela sua militância política e religiosa.
No auge de minha juventude, tive olhos para examinar o artista além de sua arte. Homem de pele clara, estatura mediana para baixa, magro e vestido discretamente. Tinha uma fala mansa e não demonstrava nenhum tipo de orgulho ostentatório em estar apresentando suas obras de arte. Para muitos dos presentes, era apenas um senhor que passava despercebido.
Me aproximei de Seu Hélio e lhe cumprimentei pelo seu trabalho. O artista respondeu de forma agradável e discreta. Contou que usava muito a tinta que extraia do fruto do jenipapo, igualmente aos povos originários que costumamos chamar de “índios”.
Depois de uma hora de apreciação e circulação das pessoas, o artista foi oficialmente apresentado e convidado a falar. Ficou nítido a admiração e espanto de muitos desavisados convidados que jamais poderiam imaginar que aquele senhorzinho tímido e modesto era a estrela do evento. Ele se apresentou, contou de sua vida e de seu trabalho, sempre falando devagar e baixo e oferecendo o mesmo recato respeitoso. Também fez apresentações musicais em um instrumento que não me recordo ao certo o que era, mas me parecia um violino ou similar. Sinto-me honrada em tê-lo conhecido pessoalmente, mesmo que brevemente, e havermos trocado algumas boas palavras.
Entretanto, na intenção de apresenta-lo melhor, repasso algumas informações obtidas em exame digital em alguns sites de pesquisa:
Segundo informações do G1.GLOBO, Seu Hélio Holanda Melo nasceu em Vila Antimari no município de Boca do Acre – AM, em 20 de julho de 1926, portanto, nesse mês de junho comemoramos o aniversário de 95 anos de nascimento desse consagrado artista de naturalidade amazonense e acreano de coração. Hélio foi um reconhecido artista plástico, escritor, músico e compositor nortista, mas para sobreviver, trabalhou como seringueiro, barbeiro, catraieiro e vigia. Hélio cursou apenas até a terceira série primária sendo que foi um pintor autodidata, em tenra idade (aos oito anos), já desenhava e pintava usando tintas naturais que ele mesmo produzia com a extração da seiva de certas espécies vegetais. (http://g1.globo.com/ac/acre/noticia/2017/02/)
Ainda em acordo com G1.Globo, Hélio Melo teve sua infância e juventude nos seringais Floresta e Senápolis, e apenas aos 33 anos de idade, saiu do seringal para descortinar o mundo, pois o artista já surgia espontaneamente, através de simples representações e traços mais básicos. Chegou ao Acre em 1956, após uma crise financeira nos seringais amazonenses, dirigindo-se à cidade de Rio Branco onde lutou como pode pela própria sobrevivência.
Segundo informações do site Biblioteca da Floresta (2017), parte importante da obra de Hélio Melo está atualmente no Museu de Arte do Rio (acervo do MAR), constando de quatro extraordinários desenhos ofertados por Luiz Paulo Montenegro em 2013. O autor Herkenhoff analisa as fontes de inspiração de Hélio Mello através dos entraves do difícil processo de desenvolvimento do Brasil à época e assevera que Hélio Melo, criou uma interpretação própria da vida cotidiana que lhe formulava um imaginário dos problemas e extensões da dinâmica social e desdobramentos do universo ecológico de seu lugar-mundo e seu tempo. (http://www.bibliotecadafloresta.ac.gov.br)
Hélio Holanda de Melo, nasceu amazonense mas possuía coração acreano e recebeu uma bela homenagem do Governo do Estado do Acre que criou um espaço cultural, o Theatro Hélio Melo – com capacidade de 150 lugares, bem no centro da capital de Rio Branco. Seu Hélio faleceu em 2001, estando completado exatamente duas décadas de sua saudosa ausência humana e artística.
.Exposições, mostras, feiras e encontros:
-Departamento de Atividades Culturais (DAC), Rio Branco, Acre, 1978 (Coletiva).
-Centro de Artesanato, Rio Branco, 1978 (Coletiva)
-Fundação Cultural de Brasília, Distrito Federal, 1979 (Coletiva)
-Universidade Federal do Acre, Rio Branco, 1979 (Coletiva)
-Serviço Social do Comércio (SESC), Rio Branco, 1980 (Individual)
-Serviço Social do Comércio (SESC), Galeria de Arte da Tijuca, Rio de Janeiro, 1980 (Individual)
-Casa de Cultura de Pernambuco, Recife, 1981 (Individual)
-Serviço Social do Comércio, Recife, 1981 (Individual)
-Galeria Sérgio Millet, FUNARTE, Rio de Janeiro, 1981 (Individual)
-Feira da Providência, Universidade Santa Úrsula, Rio de Janeiro, 1981 (Individual)
-Serviço Social do Comércio, Aracaju, Sergipe, 1981 (Coletiva)
-IV Salão Nacional de Artes Plásticas, FUNARTE, Rio de Janeiro, 1981 (Coletiva)
-Mostra de Desenho, Museu de Arte de Belo Horizonte, Minas Gerais, 1983 (Coletiva)
-Serviço Social do Comércio, Rio Branco, Acre, 1982 (Individual)
-Exposição no Salão Paranaense, Curitiba, Paraná, 1982 (Coletiva)
-Mostra de Desenho Brasileiro, Curitiba, Paraná, 1982 (Coletiva)
-Serviço Social do Comércio, Rio Branco, Acre, 1983 (Individual)
-Serviço Nacional do Comércio, Rio Branco, Acre, 1983(Individual)
-Feira da Cultura Brasileira (BIENAL), São Paulo, 1983
-Feira da Cultura, Curitiba, Paraná
-Universidade Federal do Acre, Rio Branco, Acre, 1983 (Coletiva)
-Exposição em Plácido de Castro, Acre, 1983 (Individual)
-Exposição na Fundação Cultural do Acre, Rio Branco, Acre, 1983 (Individual)
-Salão Nacional de Artes Plásticas, Rio de Janeiro, 1983 (Coletiva)
-Serviço Social do Comércio (SESC), Brasília, 1984 (Coletiva)
-7° Salão Nacional de Artes Plásticas – Rio de Janeiro – RJ -1985 (Coletiva)
-Semana do Folclore, UFAC, Rio Branco, Acre (Coletiva)
-Fundação Cultural do Acre, Rio Branco, Acre, 1984 (Individual)
-Serviço Nacional do Comércio, Rio Branco, Acre, 1984 (Individual)
-Palácio das Artes, Belo Horizontem, 1985
-Serviço Social do Comércio (SESC), Rio Branco, Acre, 1985 (Individual)
-Exposição na UFAC, Rio Branco, Acre, 1985
-Encontro Nacional do Seringueiro (Apresentação de música a desenhos), Brasília, 1985
-17° Salão Nacional de Arte, Museu de Arte de Belho Horizonte, Minas Gerais, 1985–1986 (Coletiva)
-Salão Nacional de Artes Plásticas, Museu de Arte Moderna, Rio de Janeiro, 1985–1986
-Encontro de Seringueiros de Xapuri, Xapuri, Acre, 1986
-Feira dos Estados, Brasília, 1986
-Serviço Nacional de Aprendizagem Comercial, Rio Branco, Acre, 1986 (Individual)
-Centro Nacional de Divulgação, FUNARTE, Brasília, 1986 (Individual)
-Serviço Social do Comércio do Carmo, São Paulo-SP, 1986
-Serviço Social do Comércio Campestre, São Paulo-SP, 1986
-Feira de Santos – Santos – São Paulo -1986
-Feira dos Estados, Brasília, 1986
-Galeria Artur Viana, Belém, Pará, 1986 (Individual)
-Serviço Nacional de Aprendizagem Comercial, Rio Branco, Acre, 1987 (Individual)
-Encontro dos Povos da Floresta, Rio Branco, Acre, 1989
-Exposição na Prefeitura Municipal, São Paulo-SP, 1989 (Individual)
-Fundação Chico Mendes, São Paulo-SP, 1989
-Parque Lage, Rio de Janeiro, 1989
-Rio-Cine-Festival, Rio de Janeiro, 1989
-Exposição de desenhos, Xapuri, Acre, 1990
-Circo Voador, EC01992, Rio de Janeiro–RJ, 1992
-Galeria Sérgio Millet, Rio de Janeiro–RJ, 1992 (Individual)
-Serviço Social do Comércio, Salvador, Bahia, 1992 (Individual)
-Serviço Social do Comércio (SESC), Fortaleza, Ceará, 1992
-BANERJ, Rio de Janeiro–RJ, 1992 (Individual)
-Galeria Garibaldi Brasil, Rio Branco, Acre, 1993 (Individual)
-Serviço Social do Comércio (SESC), Rio Branco, Acre, 1994
-Casa de Cultura, Brasília, 1995
-Senado Federal, Brasília, 1995
-Ministério da Cultura (Exposição I FUNARTE), Brasília, 1995
-Encontro Nacional dos Seringueiros, Brasília, 1995
-Centro Cultural Marieta Telles Machado, Goiânia, Goiás, 1995
-Serviço Social do Comércio (SESC), Rio Branco, Acre, 1996
-Serviço Social do Comércio, Rio Branco, Acre, 1996
-Parque Chico Mendes, Rio Branco, Acre, 1996
-Colégio São José, Rio Branco, Acre, 1996
-Exposição “Empate do Seringueiro”, Brasília, 1997
-Exposição de Desenhos sobre a Amazônia, Rio Branco, Acre, 1998
-Exposição de Desenhos na inauguração da Casa Branca, Xapuri, Acre, 1998
-Exposição durante um Curso de Enfermagem, Rio Grande do Norte, Natal,-1999
-Museu da Vida, Espaço Cultural dos Correios, Rio de Janeiro–RJ, 1999
-Colégio de Aplicação, Rio Branco, Acre, 1999
-Teatrão, Fórum do Idoso, Comemoração aos Idosos, Rio Branco, Acre, 1999
-Serviço Social do Comércio (SESC), Rio Branco, Acre, 1999
-Pororoca. Museu de Arte do Rio (MAR). Rio de Janeiro, 2014.
-Exposições no exterior
-Nouveau Salon de Paris, Paris, França, 1986 (Coletiva)
-Museu de Smithsonian Institution (Amostra de desenho), Washington, EUA, 1988
-Centro Missionário Diocesano, Chiesa de S. Cristoforo (Amostra de desenho), Luca, Itália, 1989
-Amostra de desenho em Verona, Itália, 1989
-Amostra de desenho em Florença, Itália, 1989
-Amostra de desenho em Roma, Itália, 1989
-Amostra de desenho em Pescara, Itália, 1989
-Amostra no Fórum Global, Londres, Inglaterra, 1989
-Exposição Itinerante Internacional “Arte Neo-Amazônica”, Itália (Roma, Cremona, Mantova, Castel Goffredo, Grosseto), 1996
https://pt.wikipedia.org/wiki/H%C3%A9lio_Holanda_Melo
.Publicações:
-História da Amazônia
-Experiência do Caçador a os Mistérios da Caça
-Os Mistérios da Mata
-Os Mistérios dos Pássaros
-Os Mistérios dos Peixes a dos Répteis
-Via Sacra na Amazônia
-Como salvar nossa Floresta
https://pt.wikipedia.org/wiki/H%C3%A9lio_Holanda_Melo
.Premiações:
-Medalha de Mérito Cultural, conferida pela Universidade Federal do Acre, em 1988
-Medalha de Honra ao Mérito, conferida pelo Colégio Acreano, em 1989
https://pt.wikipedia.org/wiki/H%C3%A9lio_Holanda_Melo
Referências:
http://www.bibliotecadafloresta.ac.gov.br
http://g1.globo.com/ac/acre/noticia/2017/02/
https://pt.wikipedia.org/wiki/H%C3%A9lio_Holanda_Melo