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O mundo como ideologia e representação

Colaborador de Navegos valoriza o fragmentário como a linguagem por excelência da literatura contemporânea.

*Alexsandro Alves

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Esse é o quinto, de cinco artigos sobre a pós-modernidade, o anterior está aqui: https://navegos.com.br/o-mundo-como-ideologia-e-representacao-4/

A noção de universal é uma das categorias mais decantadas da literatura e das artes em geral. Fala-se que tal obra é universal, por exemplo, “A Monalisa”, de da Vinci ou “As Bodas de Fígaro”, de Mozart ou o “Fausto”, de Goethe.

O ue se quer afirmar quando se diz que essa ou aquela obra é “universal”?

Que a partir da compreensão da obra pode-se chegar a um entendimento do homem, da sociedade e mesmo da política. Que a obra possui tantos valores reconhecidos como civilizatórios que sua apreciação é formadora do caráter. A obra de arte humaniza.

Mas o que é o humano? E em que sentido a obra de arte humaniza? Essas questões são expressas e, sob certo ponto de vista, negadas, pela arte atual. Por exemplo, na formulação de teatro pós-dramático de Hans-Thies Lehmann, cuja principal característica não é ser universal, é ser fragmentário. Numa obra pós-dramática, por exemplo, um indivíduo deseja trocar uma lâmpada. Para isso ele precisa subir em uma escada. Ocorre que essa simples atitude, a de subir uma escada, é quase uma odisseia. Ele tenta subir, mas o telefone toca e ele atende; quando desliga, tenta subir novamente, mas o corpo aperta e ele vai ao banheiro, é meio que um revival do teatro do absurdo de Beckett.

Esse homem fragmentado, não poderia encenar nada de grandioso, no sentido tradicional do teatro burguês, da qual Lehmann, brechtianamente, se afasta. A narrativa não tem sentido, a não ser pela comicidade com a qual um simples ato passa a ser tão demorado para sua simples execução, uma peça inteira.

A fragmentação do humano leva à perda da noção de universal também por outro motivo: não há “humano”, há “humanos”. É nesse reconhecimento do outro que a universalidade deixa de fazer sentido, ao menos para a pós-modernidade. Críticas à arte europeia ou à visão de mundo europeia dão um tom, politicamente, nesse contexto.

A sociedade surge em sua potência fatalista confrontando o indivíduo, mas ele não leva a sério.