• search
  • Entrar — Criar Conta

O ofício do escritor

Colaborador de Navegos, com a lucidez e a síntese que singularizam seus escritos, reflete sobre o ato de escrever e seus carismas.

*Abraão Gustavo

[email protected]

Ser escritor não depende de se ter uma cadeira ou uma mesa para escrever. Não é um cenário bucólico ou uma praia para se olhar pela janela que define o ato da escrita; claro que esse cenário traz uma sensação boa e prazerosa para quem escreve. Mas acredito se tratar de ofício, um dever para cumprir diante da vida. Independente de dinheiro, o segredo está em assistir a vida e reescrevê-la com palavras.

Pense como foram escritos os últimos desejos de Luís XVI enquanto estava na prisão, no aguardo de sua execução, diante de inúmeros Jacobinos furiosos prontos para deceparem sua cabeça na guilhotina, e mesmo assim ele conseguiu transmitir em palavras suas últimas vontades.

Lembro-me que o grande autor Dostoiévski enfrentou graves problemas de saúde, chegou até a ser preso e muitas das vezes torturado por ser considerado um revolucionário, agitador, devido suas obras literárias descreverem o descaso e os problemas da alma humana em seu tempo. Podemos também imaginar o quanto seria pobre a vida nordestina sem o trabalho de pesquisa e sensibilidade descrito em anos de trabalho nas obras de Câmara Cascudo.

Lembro de conversar com o escritor Franklin Jorge, o qual me contou o quanto já enfrentou conflitos homéricos em seus pensamentos em favor desse sagrado ofício. Chego à conclusão que esta arte sagrada é para poucos, para aqueles que realmente foram chamados, mas se fizeram escolhidos, carregando a bandeira da literatura ao longo do tempo. Como diz nas sagradas escrituras:

“Pois muitos são chamados, mas poucos são escolhidos”.
Mateus 22:14