• search
  • Entrar — Criar Conta

O Palacete Toscano

Construído para residência do primeiro juiz de Direito do Ceará-Mirim, solar foi adquirido depois pelo Major Onofre Soares Júnior, que o doou para que nele fosse instalado em 1937 o Ginásio Santa Águeda

*Gerinaldo Moura da Silva – Historiador, ex-Secretário de Cultura do município.

A Rua Jorge Fernandes Câmara faz parte do Centro Histórico de Ceará-Mirim, podendo ser considerado um corredor cultural com seus casarões centenários representativos de uma aristocracia urbana, gerada pela riqueza da cana-de-açúcar produzida em larga escala nas dezenas de engenhos espalhados pelo fértil vale dos verdes canaviais.

Existe nessa rua um prédio que serviu por vários anos ao antigo Ginásio Santa Águeda e sua construção data da segunda metade do século XIX, para servir como residência ao primeiro juiz de Direito do Ceará-Mirim o Dr. José Inácio Fernandes de Barros.

O sobrado do Dr. Barros como era conhecido, faz parte da vida cultural, arquitetônica, econômica, social e religiosa da cidade e em frente, havia duas majestosas palmeiras imperiais que embelezavam e davam ao palacete, um ar de nobreza senhorial construído antes da abolição dos escravos, sendo assim caracterizado pelos dois pavimentos.

Em relação às palmeiras imperiais, assim descreve Nilo Pereira em Imagens do Ceará-Mirim:

“Do pátio da Igreja avistava essas palmeiras bem perto de mim como vigias da velha casa de José Inácio Fernandes Barros, meu tio. E quando o Dr. Ábner de Brito, que foi o meu iniciador na Língua Inglesa, alugou a casa para montar o seu colégio, que a sua boêmia literária não permitiu vivesse mais do que o espaço de uma manhã, como as rosas de Melherbe, eu aluno do colégio, me punha a olhar as palmeiras imperiais que, ao lado do solar tão tipicamente representativo da aristocracia urbana, tinham o aspecto de sentinelas de alguma solidão venerável.”

(Pereira, Nilo. Imagens do Ceará-Mirim. Natal/RN. Fundação José Augusto 1989 pág.48)

Sua estrutura arquitetônica começa no alinhamento da calçada, pois, a construção não possui recuo, e na fachada principal podemos vislumbrar uma grande porta de acesso com soleira de mármore mais seis janelas.

Volvendo o olhar para o pavimento superior, observamos sete janelas, tornando muito ampla a sua fachada, que contém delicados relevos, são ornamentos de massa e concluídas por cornijas, que podemos observar, a grande faixa horizontal que se destaca na parede, com a finalidade de diminuir as nervuras que são colocadas e ainda servem de proteção contra as águas das chuvas.

Nas suas laterais existem duas portas em baixo e janelas no pavimento superior, o que se repete nos fundos do suntuoso prédio, além de um espaço que fora destinado a ser o jardim, à direita de quem adentra ao prédio e um quintal com grande variedade de fruteiras, predominando os coqueiros e mangueiras.

No sobrado o Dr. José Inácio Fernandes de Barros hospedou o Bispo de Olinda Dom José Pereira da Silva Barros, quando de sua visita episcopal ao Rio Grande do Norte e em Ceará-Mirim ele foi recepcionado e hospedado na casa-grande do Engenho Guaporé e no Palacete do Dr. Barros, conforme relara o jornalista e médico Dr. Luiz Carlos Lins Wanderley no Diário de Pernambuco em 1882:

“O Sr. Dr. Barros ia receber e hospedar no seu palacete o Bispo, que era ao mesmo tempo seu padrinho e seu amigo. O palacete do Sr. Dr. Barros é de arquitetura e gosto toscano. Fachada ampla, relevos delicados, janelas pequenas entaladas em quadrados, claros cor de rosa, limitados por cimalha cor de pérola, ao lado um jardim gradeado com portão de ferro no centro; eis aqui o exterior do palacete.”

(Pereira, Nilo. Imagens do Ceará-Mirim. Natal/RN. Fundação José Augusto 1989. Pág. 49)

O edifício foi adquirido pelo Major Onofre Soares Júnior para servir de residência à sua família, até o ano de 1937, quando houve a instalação do Ginásio Santa Águeda, educandário pertencente à Congregação das Irmãs Franciscanas de Nossa Senhora do Bom Conselho.

O processo da chegada e instalação das Irmãs do Bom Conselho a Ceará-Mirim, deveu-se primeiramente ao pedido do Bispo Diocesano Dom Marcolino Esmeraldo de Souza Dantas, que não mediu esforços para que esse sonho fosse concretizado. Bem como, pode-se destacar a atuação do prefeito Mirabeau da Cunha Melo e ao desprendimento do Major Onofre Soares Júnior, que doou a casa de sua propriedade para nela surgir um dos mais conceituados estabelecimentos de ensino do Estado do Rio Grande do Norte e que se firmou na terra dos verdes canaviais.

A inauguração do Colégio se deu no dia 14 de abril do ano de 1937 e que contou, inclusive com a presença do Governador em exercício Monsenhor João da Mata Paiva, do pároco de Ceará-Mirim, Monsenhor Celso Cicco e várias outras autoridades.

Em pouco tempo a casa tornou-se pequena para abrigar o Colégio Santa Águeda, devido ao aumento na matrícula, o que obrigou a Congregação a adquirir um espaço maior que existia ao lado do prédio antigo e deu início à nova construção de um amplo e moderno espaço educacional.

Na década de 1970, quando era prefeito de Ceará-Mirim o senhor Ruy Pereira Júnior, o prédio passou para a Prefeitura do Município através de um comodato, do qual participaram ainda, a Madre Regina Pacis representando a Congregação Franciscana de Nossa Senhora do Bom Conselho e o Cônego Ruy Miranda, então Secretário Municipal de Educação.

Com o passar dos anos, poucas modificações foram feitas na estrutura e a Prefeitura de Ceará-Mirim devolveu o prédio, à Congregação das Irmãs Franciscanas sem ter realizado sequer uma pintura. A construção estava muito comprometida e foi necessário um grande esforço da comunidade do Colégio de Santa Águeda para executar um trabalho de restauro, coordenado pela Irmã Gilda Maria de Faria, sem ajuda nenhuma do poder público municipal cujas despesas estão sendo custeadas pela própria Congregação. O espaço se tornará um Centro Cultural que terá como carro chefe o Memorial Irmã Maria José, que foi entregue à comunidade no dia de sua inauguração, dentro das festividades comemorativas aos 80 (oitenta) anos de fundação do Colégio de Santa Águeda em 14 (quatorze) de abril de 2017.

No frontão do prédio podemos ainda vislumbrar o nome antigo: Ginásio Santa Águeda, que sofreu algumas modificações internas para se adaptar e atender às demandas de sua utilização, mas, externamente sua estrutura arquitetônica apresenta um bom estado de conservação.