*Alexsandro Alves
Recentemente me deparei com essa imagem:
Como está escrito na imagem trata-se do Paradoxo de Epicuro, uma sequencia de ideias que tenta demonstrar que a existência do mal supostamente anula o Deus conforme entendido pelo cristianismo a saber, um Deus onipresente, onipotente e onisciente. A existência do mal seria prova da inexistência de um deus assim. Quero tentar explicar um pouco sobre isso e como esse Paradoxo foi anacronicamente usado para invalidar a fé cristã, no texto usarei Escrituras tidas como sagradas pelos santos a saber: a Bíblia e o Livro de Mórmon.
Mas vamos esclarecer alguns pontos antes de entrarmos de fato nesse Paradoxo de Epicuro. Primeiro ponto, o filósofo Epicuro viveu na Grécia Helenística, século III a.C, ou seja, essa sequencia de ideias não se referem, em sua origem, ao cristianismo. Segundo, Epicuro não estava afirmando, com esse Paradoxo, a inexistência divina. O Paradoxo, para Epicuro e epicuristas, servia apenas para demonstrar que os deuses, no caso os deuses gregos, não se importavam com os homens. Eles existiam, mas não amavam e nem odiavam a humanidade, por isso o mal permanecia. Terceiro ponto, Epicuro era crente nos deuses gregos, ele não era ateu. E quarto ponto, provavelmente esse Paradoxo não foi formulado por Epicuro, mas por alguém que conhecia sua doutrina. Agora, passemos para a ideia contida no Paradoxo.
Um Deus onipresente, onipotente e onisciente é possível mesmo com a existência do mal?
Sim.
E afirmo mais, não apenas é possível como também acrescento outra qualidade: misericordioso.
Vamos lá. Imaginem um pai e seu filho ou filhos. Esse pai sabe tudo, porque já viveu e sabe prever e compreender como as coisas ocorrerão antes que aconteçam. Esse pai, portanto, deseja que seus filhos não experimentem tais coisas. O que ele faz? Prende os filhos em casa. Deixa-os para sempre intocados por qualquer mal. No entanto, esse filhos desejam conhecer além do que conhecem, eles desejam provar do conhecimento de viver. Se o pai diz “não! Eu sei que isso é ruim! Fiquem em casa!”, estaria correto?
Se sim, estaria também privando seus filhos de crescerem através da dor e da alegria, da derrota e da vitória.
Se não, só há uma única opção, permitir que seus filhos conheçam a glória e a miséria do mundo e escolham por si.
Se esse pai for justo, deixará conhecimento aos filhos através do ensino. E de posse desse ensino aprendido do pai, poderão comparar o que o pai lhes ensinou com o que conhecerão ao sair de casa, e assim sua alma crescerá em luz e em verdade, conhecendo o bem e o mal.
O pai e a mãe conhecem o mundo. Sabem das misérias que há. Mas eles não podem poupar seus filhos delas. Podem atenuar esse sofrimento, podem apoiar, podem confortar, podem ensinar. Mas não podem impedir que eles escolham por si. Os pais não deixam de ter todo o conhecimento adquirido ao longo dos anos por isso, essa questão não é sobre isso, é sobre misericórdia e liberdade. Sobre o valor individual de cada um.
Quando um professor aplica uma prova, ele sabe quem vai tirar nota boa ou ruim. Ele conhece a turma. Mas o professor por isso não negará a prova àquele aluno que com certeza vai fracassar, pois este ficará triste ou revoltado caso não receba a prova. Mesmo que falhe.
Porque além dessa sabedoria do professor, também existe no aluno um valor próprio, que pode ser despertado a qualquer momento por ele.
A liberdade da alma mescla os atributos divinos ao livre-arbítrio do homem. Porque é necessário oposição em todas as coisas (2 Né 2: 8-16), se houvesse apenas um lado ou se alguém por nós escolhesse, mesmo que onisciente fosse, permaneceríamos como crianças eternamente. A misericórdia de Deus, portanto, não anula o sofrimento, antes, trabalha junto com ela para a construção de nosso caráter. E por mais terrível que seja, Deus também criou o mal (Isaías 45:7).