*Da Redação
ESCRITOR
Eu fui tardiamente reconhecido como escritor, mas publiquei em vários países. Os meus livros são traduzidos em 19 países do mundo. Outro dia alguém me falou que era 10. Estou corrigindo a informação. Publico em 19 países, inclusive na Coreia [do Sul], onde estão produzindo um novo livro.
Também estou na Turquia, na Grécia, no Japão. Sou traduzido em lugares onde os brasileiros em geral não conseguem ter as suas obras publicadas. Fico muito honrado com isso. Cheguei na Europa inteira.
Obras nos Estados Unidos, Canadá e Argentina. Meu livro traduzido na Argentina. Sou lido na América Latina inteira.
Meu livro publicado em Portugal teve edição em língua portuguesa como se nós não falassemos português. Parece piada de português, né? Eles compraram da editora Companhia das Letras o direito de traduzir meu livro para o português. Até parece que eu escrevi em chinês. É muito curioso.
POLÍTICA
Acho que a gente esteve à beira de uma guerra civil até o ano passado. A gente escapou disso, mas a gente não pode achar que nós estamos folgados.
Não é isso que a gente ainda chama de esquerda. Precisamos calibrar o termo. A gente está chamando de esquerda coisas que são totalmente incoerentes propostas e ações totalmente incoerentes com qualquer ideia historicamente percebida como esquerda.
Hoje tem gente se fantasiando de tudo por aí, inclusive alguns fascistas fantasiados de esquerda. A gente tem que pensar, porque estamos muito abalados com tudo que aconteceu. E estamos achando que quem não sai com a bandeira amarela enrolado no corpo pedindo golpe militar é de esquerda. Não é isso não, gente.
É uma questão também de um pouco de dignidade. Tem pessoas que não se meteram nisso porque tem dignidade.
Eles não são de esquerda, só que eles também não são idiotas. A gente não pode separar o mundo entre idiotas e esquerda.
Existe gente no meio que não é nenhum dos dois, tá?
MINISTÉRIO DOS POVOS ORIGINÁRIOS
A criação de um ministério para tratar da questão indígena e ter na frente desse ministério uma mulher indígena é a novidade que veio na praia. Igual aquela história da sereia na música do Gilberto Gil.
Gil fala que uma sereia apareceu numa praia. Muita gente olhava para aquela sereia. Uns achavam que ela era uma deusa e admiravam a beleza. E outros pensavam em fazer um churrasco com ela numa ceia.
Esse Ministério dos Povos Indígenas que o Lula criou também instaura uma espécie de situação dramática interna no governo. A maioria dos colegas da ministra [Sonia Guajajara] não coopera com o princípio da república.
Em tudo eles sabotam ela internamente no governo. Assim que foi criado o Ministério dos Povos Indígenas. Alguém tirou a responsabilidade institucional de promover a demarcação e a homologação da terra indígena, que era algo que acontecia no gabinete do Ministro da Justiça.
Historicamente, desde o governo Sarney, é o Ministério da Justiça que autoriza e manda a Força Nacional, despacha a Polícia Federal para cima dos fazendeiros garimpeiros. E quem faz essas ações que hoje são feitas em conjunto pelo Ibama e pela Polícia Federal.
Isso tem custo. Você não tem uma ação da Polícia Federal sem pagar diária, você não tem sem pagar aluguel de avião e hospedagem. Tem um custo uma operação dessa e autorização do orçamento do Ministério da Justiça e do gabinete da Presidência da República.
Eles criaram o ministério. E jogaram tudo isso para cima da mesa da ministra dos Povos Indígenas, só que eles esqueceram de dar esse orçamento para ela.
Como é que aquela ministra vai mandar forças armadas para algum lugar se ela não tem dinheiro para pagar o combustível dos aviões? E as diárias dessas ações? Algumas delas são publicadas no Diário Oficial. Dá para você saber que não é barato. É caro uma viagem dessa e a outra questão é a questão da hierarquia.